Danças
A dança do boi
Em Ubatuba, essa manifestação começou a fazer parte do nosso carnaval lá pelos anos 30, como mostra o jornal da época "Echo Ubatubense". A Dança do Boi era apresentada pelo senhor Carlinhos, ou Carrinho, filho de Armindo Carros, um oficial aposentado do Exército. Esse senhor era de origem nordestina (maranhense). Com ele, Carlinhos aprendeu a confeccionar o boizinho e também os cavalinhos para brincar o carnaval. Com estes fatos, podemos deduzir que a Dança do Boi de Ubatuba é sem dúvida uma das variantes do Bumba-meu-boi Bumbá do Maranhão. Outro detalhe é que o Bumba-meu-boi Bumbá se apresenta com folguedo popular dramatizado e nosso boizinho também era uma manifestação dramatizada.
Congada ou Moçambique
A congada do Sertão Puruba tem suas raízes presas ao moçambique da cidade de Cunha (SP) e essa, por sua vez, a de São Luiz do Paraitinga, como mostra citação feita pelo pesquisador Emílio Willerms, no Caderno de Folclore, escrito por Maria de Lourdes Borges Ribeiro: "A moçambique chegou em Cunha através dos luizenses na década de 30".
Em Ubatuba, o surgimento dessa manifestação folclórica ocorreu na década de 40, no Sertão do Poruba. Nessa época, o espanhol Benigno Castro instalou na praia do Poruba um serraria para beneficiar caixeta, madeira que havia em abundância no sertão porubano. Essa madeira, após seu beneficiamento, era levada para a praia do Ubatumirim em lombo de burros. De lá era transportada pela lancha Santense até Santos para a fábrica de lápis. Para a retirada dessa matéria prima foram contratados aproximadamente 150 homens, que na sua maioria vinham de Cunha, na região do Vale do Paraíba.
Festa do Divino
Para falarmos dessa manifestação folclórica religiosa, devemos mergulhar em nossa história e termos a sensibilidade de verificarmos o quanto é importante a cultura de raiz na formação de um povo. Assim, vamos mostrar um pequeno fiapo dessa cultura em nossa região.
A comemoração ao Divino Espírito Santo, que deu origem à criação da Romaria ou Folia do Divino, foi estabelecida em Portugal no reinado da Rainha Isabel (1271 – 1336), com a construção da Igreja do Divino Espírito Santo, na cidade de Alenquer. No Brasil, essa manifestação foi introduzida pelos colonizadores portugueses no final do século XVI.
Em Ubatuba, deduzimos que essa manifestação vem ocorrendo há mais de 200 anos, conforme depoimentos de antigos caiçaras, como o senhor Ozório Antonio de Oliveira, nascido em 10 de Fevereiro de 1899, no bairro do Promirim. Conta esse caiçara que ouvia seu avô cantarolar músicas em exaltação ao Divino, músicas essas que seu avô tinha aprendido com seu bisavô.
No passado, até os anos 50, a Festa do Divino Espírito Santo em Ubatuba era a mais respeitada e suntuosa. As comunidades das praias e dos sertões se preparavam com antecedência para receber a chamada Romaria do Divino ou Folia do Divino. O povo caiçara recolhia lenha, salgava peixes, fazia farinha, bijus e doces abastecendo suas casas, pois com a chegada da Romaria do Divino em sua comunidade ninguém trabalhava. A devoção era grande.
Também era a oportunidade que eles tinham para pagar suas promessas por graças alcançadas. A comunidade visitada fazia daquele momento uma grande festa. Todas as casas que a Romaria visitava, o povo acompanhava, formando um grande cortejo.
De uma comunidade para outra, a chegada da Romaria era anunciada através dos espias. Esses eram homens que ficavam nos caminhos, de preferência em lugar alto e soltavam rojões anunciando a chegada da Romaria. Com este tipo de alerta o povo vinha ao encontro da Romaria que iniciava sua visitação naquela comunidade. Ao cair da noite, o grupo se dirigia para a casa do pouso onde iria pernoitar e na porta da casa marido e mulher recebiam-no.
Após as cantorias dentro de casa, a Bandeira do Divino Espírito Santo era guardada pelo casal dentro do quarto. Em seguida ao jantar, a casa do pouso transformava-se em um salão de baile e tinha início o Fandango caiçara (função ou baile de roça). Como também era costume caiçara, a primeira dança tinha que ser o Xiba. Essa dança é conhecida até hoje como Bate-pé ou Cachorro-do-mato. Após a primeira dança de xiba, vinham as chamadas miudezas, como ciranda, recortado, canoa, serrabaile, marrafa etc.
Depois do café da manhã a Romaria retomava a sua peregrinação. Quando todas as casas tinham sido visitadas, voltava-se à casa do pouso para fazer a despedida. Esse momento era coberto de muita emoção, pois os caiçaras sabiam que só teriam a visita da Romaria no próximo ano.
Fandango
Algumas danças que compõe o Fandango de Ubatuba: Xiba (também conhecido como Bate-pé e Cachorro do Mato), Recortado, Ciranda de Roda, Tontinha, Cana Verde, Mangericão, Vilão de Lenço, Vilão de Mala, Serrabaile ou Serrabalha, Anuzinho, Marrafa, Ubatubana, Canoa, e etc.
Antigamente, era costume em Ubatuba dividir o Fandango em 3 partes. Primeiro dançavam o Xiba até a meia-noite, chamado de rufado ou batido. Depois, vinha o Bailado Valsado, danças menos agitadas, como Ciranda de Roda, Canoa, etc., sem o sapateado e palmas. Nessa parte, o pessoal aproveitava para tomar uma golada de café ou concertada (bebida típica do Litoral Paulista), ou mesmo uma pinguinha. Na terceira parte, estava de volta o Xiba rufadíssimo, no momento de encerrar o Fandango. Muitas vezes, já com o sol nascendo, o pessoal fechava as janelas para dançar a última roda de Xiba.
Dança da fita
Petrolina Maria de Goés, D. Pitiá, nascida em 31 de Maio de 1923, na Praia da Enseada, relata que assistia na sua infância a Dança da Fita sendo apresentada na casa do Sr. Benedito Henrique e do Sr. Valentim. A dança era apresentada no carnaval e dentro de casa. Segundo D. Pitiá, o Sr. Benedito Cabral aprendeu a dança com o Sr. João Vitório que, na realidade, foi o primeiro a organizar um grupo para dançar a fita na Enseada.
O Sr. João Vitório era um pescador famoso da Enseada e fazia muitas viagens para Santos com seus amigos para comprarem sal, carne seca, anil, querosene, pano e materiais para a pesca. Essas viagens eram feitas em canoas de voga (canoas com até 10m de comprimento) com 4 a 6 remadores. Tudo indica que o Sr. João Vitório conheceu a dança da fita no Litoral Sul e trouxe para Ubatuba.
Quando o Sr. João Vitório já estava com idade avançada, ele passou seus conhecimentos para o Sr. Benedito Henrique, que junto com Joaquim de Goés, Antônio Henrique, Olímpio, Eupídio, Joaquim Firme de Souza e mais os tocadores de violas Antonio Campista, Juca Campista, Cipião Campista e Licínio, moradores da Praia do Perequê-Mirim, deram continuidade à Dança da Fita.
Folia de Reis
Em Ubatuba a Folia é diferente das folias do Vale do Paraíba. Na região valeparaibana, prevalecem as chamadas Folias de Reis mineiras, compostas de seis a onze membros, assim distribuídos: Instrumental - viola, sanfona, violão, caixa surdo, cavaquinho, reco-reco de bambu e chocalho; Vocal - primeira e segunda voz, contra canto ou contralto e tripe tripe, que é uma oitava acima. Esse tipo de agrupamento usa uma bandeira que leva o nome da folia e, geralmente, uma pintura com uma cena que lembra o nascimento do Menino Deus.
No bairro do Perequê-Açu, a folia é cantada pelo Sr. Octávio, no estilo paratiano, composta de viola, cavaquinho, triângulo e na parte vocal, uma primeira voz e um falsete (quinta acima).
No centro urbano encontramos resquícios de uma famosa Folia de Reis do senhor Manoel Barbosa (Mané Barbeiro). Alguns remanescentes do grupo relutam para manter a música e a orquestração. Essa folia de Reis era uma Folia de Reis de Banda de Música, pois era composta de violão simples, violão de sete cordas, cavaquinho, violino (rabeca), clarineta, saxtenor, trompete, pandeiro e chocalho. No vocal, apenas primeira e segunda voz.
Existem ainda no centro urbano o Grupo de Folia de Reis da Dona Ophélia que é composto basicamente por mulheres caiçaras. Um fato inédito, pois a Folia de Reis é manifestação folclórica realizada por homens.
No sul do município, temos no Sertão da Quina o Grupo de Folia de Reis do Zéca Pedro e seus familiares. Esse grupo é bem parecido com os grupos do lado norte da Cidade. Na Maranduba, existe hoje um grupo que é uma mistura de dois estilo, o caiçara e o mineiro. Antunes, responsável pelo grupo, é caiçara e sua esposa Victória, que também compõe o grupo, é mineira. Nesse grupo podemos notar que não existem divisões de vozes. É afinadíssimo, mas é unissonante ao cantar. Na parte instrumental tem violões, cavaquinho, timba, pandeiro e chocalhos.
Máscaras Folclóricas
Em Ubatuba, as máscaras participam do carnaval desde o século XIX. Havia os mascarados que em bando desfilavam pelas ruas centrais da Cidade. As máscaras eram feitas pelos próprios foliões que utilizavam um molde de barro, cola de polvilho azedo, papel higiênico, jornal velho e muita criatividade. Eram feitas centenas de máscaras todos os anos.
Alguns mascareiros se destacavam pela qualidade de seus trabalhos, como José Carneiro Bastos (Zé Cabé), Manoel Nunes de Souza (Manequinho Carcereiro), Antônio Felix de Pinho (Seo Pinho), José Luiz Pimenta (Zé Pimenta), e mais recentemente João Teixeira Leite.
A máscara teve um papel importante no carnaval ubatubense até os anos 70, mas hoje podemos apreciar essa manifestação popular somente no grupo da Dança de Boi que se apresenta nas tradicionais festas populares de nossa cidade.
Xiba
Grupos de dançarinos de bairros como Puruba, Prumirim, Itaguá e Rio Escuro apresentam-se na praça aos pares para dançar a Xiba ou Bate-Pé (nomes pelos quais são conhecidos, em Ubatuba, o cateretê, catira ou fandango). Cabe aos homens um sapateado rápido e ritmado.
FONTE :
http://www.valedoparaiba.com/cidadesdaregiao/?pagina=cidade&cid=50&menu=195