quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Museu Histórico "Washington de Oliveira"

 

"Construídas a Câmara, a Cadeia e a Igreja, elementos básicos para a instituição de uma vila, feito o recenseamento para confirmar o mínimo populacional necessário a tal providência, por Provisão de 28 de outubro de 1637, do então Governador Geral do Rio de Janeiro, Salvador Corrêa de Sá e Benevides, a antiga aldeia de Iperoig foi elevada à categoria de Vila sob o pomposo nome de Vila Nova da Exaltação da Santa Cruz do Salvador de Ubatuba".





Oliveira, Washington de. Ubatuba Documentário (Coleção Depoimento - v. 11).

São Paulo, Editora do Escritor, 1977. p. 43, 44.



Assim, surgiu a 1.ª cadeia em Ubatuba: um edifício público para aprisionar suspeitos e transgressores das leis, que tira ou restringe a liberdade do indivíduo segundo normas, ética e moral impostos e seguidos pela sociedade que vem progredindo e evoluindo através dos tempos.

No Século XIX, até 1833, a Prisão compartilhou com a Câmara o mesmo endereço. Depois, com o edifício ruindo, passaram a ocupar casas alugadas sem infra-estrutura (como celas sem grades) até a Câmara finalmente conseguir uma sede própria: o casarão do Dr. José Paulo do Bonsucesso Galhardo na atual Avenida Iperoig. Este casarão, que também foi sede do Fórum e do primeiro museu de Ubatuba, foi tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo - CONDEPHAAT. Porém, as inúmeras reclamações e pedidos efetuados pela Câmara, durante o Império, para construção de uma sede apropriada para a cadeia somente foram atendidos pelo Governo Estadual Republicano no início do Século XX.

Hoje, objeto de recordação para alguns e instrumento de informação e educação para outros, a Cadeia Velha, *antiga estação ferroviária (nunca utilizada) reformada entre 1901 e 1902 foi o primeiro prédio construído em "linhas modernas" em Ubatuba. O projeto de reforma foi efetuado por Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha (Euclides da Cunha 1866-1908), engenheiro, militar, jornalista, escritor e autor da famosa obra literária: "Os Sertões", quando funcionário da Secretaria da Agricultura "Indústria" Comércio, Viação e Obras Públicas do Governo do Estado de São Paulo. A reforma foi executada pelo construtor português Silva (primeiro nome desconhecido) e pelo mestre pedreiro Manuel Sapão.

Nas primeiras décadas do Século XX, situada na antiga Praça do Programa, atual Praça Nóbrega, a Cadeia alojou os poucos caiçaras que transgrediam as "leis e a ordem" como: bêbados, brigões, presos e carcereiros a caminho da Colônia Correcional do Porto das Palmas (na Ilha dos Porcos, posteriormente Presídio da Ilha Anchieta - projeto de Ramos de Azevedo, atualmente parte do Parque Estadual da Ilha Anchieta PEIA) e, hospedaria para viajantes.

Em 1972, a Cadeia foi transferida para uma nova e ampla sede na Rua Thomaz Galhardo, mais adequada ao aumento da população carcerária. Reformado, o antigo edifício passou a sediar diferentes órgãos e instituições: o Centro Municipal de Cultura, a Secretaria Municipal de Cultura, Esportes e Turismo, de 1977 a 1982, e a Companhia Estadual de Tratamento de Esgoto e Saneamento Básico - CETESB, de 1984 a 2000.

No início do Século XXI, reconhecida como patrimônio histórico municipal a ser preservado, a Cadeia Velha passou a ser o espaço da História... O primeiro museu fundado na gestão do prefeito Francisco Matarazzo Sobrinho, pelo Decreto 25 de 23/11/1966, sob a denominação de Museu Regional de Ubatuba, foi montado nos porões da Câmara em 1968 pelo historiador Paulo Camilier florençano; Nello Garcia Miglioni; Alcir José Guaglio, Luiz Ernesto Kawall, jornalista, e pelo artista plástico José Vicente Dória da Morta Macedo. Mas, devido ao excesso de umidade, que gerou mofo e bolor, e o ataque de pragas, como cupim e broca, a conservação do acervo museológico ficou comprometida.

O Museu, com o nome modificado para Museu Histórico Pedagógico de Ubatuba em 1970, por Decreto do Governador Abreu Sodré, teve seu acervo transferido em 1987 para o andar térreo do Sobradão do Porto/Fundação de Arte e Cultura de Ubatuba - Fundart, patrimônio histórico tombado pela antiga Superintendência do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - SPHAN (atual IPHAN) e pelo CONDEPHAAT. No Sobradão do Porto, o Museu ganhou o apelido de "Museu Hans Staden" (não houve uma mudança oficial do nome). Um ano depois, a visitação foi suspensa por problemas técnicos e estruturais do acervo museológico e do edificio (processos de restauro paralisados no Governo Collor), além da falta de mão-de-obra especializada, ficando a Cidade sem o museu histórico. Mas em 24 de julho de 2001, o Museu novamente montado e reestruturado foi aberto ao público em nova sede: a Cadeia Velha.

O Museu teve seu nome modificado para Museu Histórico "Washington de Oliveira", pela Lei 2092 de 16/10/2001, gestão do prefeito Paulo Ramos, em homenagem ao ubatubense farmacêutico, ex-prefeito, pesquisador e escritor Washington de Oliveira, o "filhinho da farmácia" ou, simplesmente, "filhinho", falecido em 19 de janeiro de 2001, aos 93 anos de idade filhinho escreveu três livros publicados: Ubatuba - Documentário, Lendas e Outras Histórias e a Farmácia do Filhinho. Dedicou sua vida à valorização da História e da Cultura de sua terra e a preservação da saúde e da "memória" do caiçara de Ubatuba.



*Segundo depoimentos de antigos moradores como o do pesquisador e escritor Washington de Oliveira (Filhinho da Farmácia) e pesquisa efetuada pelo jornalista Gama Rodrigues (textos diversos de Gama Rodrigues e outros organizados pelo historiador José Luiz Pasin: "O Outro Euclides - O Engenheiro Euclides da Cunha no Vale do Paraiba 1902-1903, UNISAL - Núcleo de Pesquisa Regional, Lorena, 2002.)".



O Museu hoje



O Museu Histórico já passou e ainda passa por muitos problemas, ainda lutamos para a sua sobrevivência. A Cadeia Velha, sua atual sede, é um prédio antigo, de grande importância histórica e arquitetônica para Ubatuba. Mas mal conservado por décadas, acabou com muitas infiltrações internas e externas que destruíram parte dos painéis e que prejudicaram o acervo museológico e arqueológico entre 2001 e 2002. Trabalhos morosos de reformas e consertos levaram a descoberta de um passado de remendos no encanamento antigo de ferro e no escoamento das águas das chuvas. Mesmo assim, são mais de 100 anos de História! Esse importante patrimônio histórico ainda precisa de restauro e precisará sempre de manutenção, ou seja, de atenção!

O acervo museológico em madeira e metal (ferro) também precisa de cuidados, cuidados eternos...contra cupim, broca, umidade, etc. Precisará sempre ser estudado, revisto, reestruturado, reorganizado e ampliado. Um museu não é uma instituição estática, não é um objeto pronto, será sempre uma obra inacabada para que possa ser atualizada e modernizada. Acima de tudo, os materiais expostos representam a vida caiçara através dos tempos. Somos nós através de nossas ações, boas ou ruins...




Endereço

Praça Nóbrega, nº 08 - Centro



Agendamento de Visitas

Escolas e hotéis devem agendar as visitas com antecedência e através de ofício com os seguintes dados: nome da instituição, telefone para contato, nome dos responsáveis acompanhantes (guias de turismo, professores, etc.), total de alunos ou turistas, faixa etária, origem (cidade/estado no caso de turistas, bairro no caso dos estudantes) e data e horário da visita. Os dados solicitados são importantes para os trabalhos de estatística, relatórios e levantamento histórico do Museu e da Fundart.