domingo, 24 de outubro de 2021

O " SEM CORAÇÃO "...

 

Obra de Mestre Da Motta na Mostra de Saberes Artesanais - Arquivo JRS

     O  mano Mingo nos recorda de gente que não tem coração. Assim nasceu o poema seguinte.



O SEM CORAÇÃO

Quando a gente ainda era "bicho do mato"
um diabo vestido de doutor nos visitou
olhou o bananal, os pés de café,
as flores de minha avó,
achou tudo muito bonito demais
para aquela família tão pobre de posses
e propôs um preço vil
pela casa, terras, plantações,
desde os morros até ao rio.
Meu avô esconjurou, fez o sinal da cruz,
o mandou embora e depois chamou minha atenção:
- Meu filho, é preciso sabedoria
para reconhecer aquele que não tem coração.

O MORRO DO FIEL TIAGO - O PRETO DO CORCOVADO

 

Caiçaras   em  desfile folclorico

 Não tem como não se encantar com o Pico do Corcovado, em Ubatuba. Dizem os geógrafos que é o segundo mais alto do município. O primeiro, do Alto Grande, está na divisa com o município de Cunha. Muitas histórias os caiçaras contam desses lugares, sobretudo do Corcovado, essa imensa pedra aflorada na Serra do Mar, tão perto de nós, onde antigamente só caçadores visitavam. Hoje é ponto turístico, com grupos organizados enfrentando sua subida e nos proporcionando fantásticas imagens lá do alto. É do Corcovado que vem a história de hoje, parte do nosso folclore.


  Contavam os mais antigos que, no tempo em que Portugal mandava em tudo, um fazendeiro português, traficante de negros escravizados, se instalou no Sertão do Corcovado, por onde enviava ao Vale do Paraíba as vergonhosas cargas de homens tornados mercadorias. Esse homem tinha uma linda filha em idade de casamento. Assim que instalou o engenho de cana, apareceu por ali um jovem fidalgo na pretensão de agradar a moça, de se casar com ela. Só que o pai, um homem terrível, era contrário ao namoro entre os dois. Por isso teve a atitude de encerrar a filha na mais recôndita alcova da casa, sob severa vigilância. Por sorte, um escravizado de confiança, servidor da casa, se prestou a manter a comunicação entre os jovens apaixonados. Disso resultou um combinado: eles fugiriam numa madrugada, em direção ao Morro (Pico) do Corcovado, onde o fiel servidor, por nome de Tiago, lá já estaria esperando desde o dia anterior, com as jóias pessoais da patroazinha e com alforges de alimentos. Mas a sua missão maior era auxiliá-los na caminhada pela mata até encontrarem um lugar seguro, longe do terrível pai. Só que o plano foi descoberto. O moço foi assassinado numa tocaia e a moça foi enviada no primeiro navio que partia para a capital do reino português, de onde ninguém mais soube notícias. O velho morreu de velho depois de tantas maldades. E o escravo  Tiago? Contavam os antigos caiçaras que ele continuava lá, na grande pedra do Corcovado, esperando os fugitivos e assombrando os caçadores que se aventuram em se aproximar do local. O primo Rogé me garantiu que, numa de suas caçadas, ele divisou o homem. "O escravo que aguardava a sinhazinha até hoje vive por lá, estava em cima da pedra. E tem mais, Zezinho: vez ou outra tem gente subindo tudo aquilo para ver se encontra as jóias que o coitado levou naquela ocasião. Veja só do que a ambição é capaz!".

    Eu, partindo dessa história, proporia que o Pico do Corcovado passasse a se chamar Morro do fiel Tiago. 

ESTUDANTES SE ORGANIZAM

 





     Em 1958 surge, em Ubatuba, o Ginásio Capitão Deolindo de Oliveira Santos. Funcionava nas dependências da Escola Esteves da Silva, no período noturno. À juventude surgiu a oportunidade de ir além do ensino primário. Alguns adultos também reiniciaram os estudos. Segundo Justo Arouca, da equipe do primeiro Grêmio Estudantil, "110 estavam matriculados logo de início, estando ele na primeira formatura, em 1961, além da Wladinéia Ferreira, Sônia Shimidt, Suley Moreno, Idinéia da Cruz, Hebe da Silva, Raquel de Souza e Anita Nunes. A festa de formatura foi no Itaguá Praia Clube. Faltou luz naquela noite, fato mais ou menos comum naquela época. Lemos o discurso de formatura sob luz de vela, inclinando o papel para receber a precária luminosidade. Mas...um milagre aconteceu: a luz voltou quando a orquestra Ritmos Icaray, vinda de Taubaté, começou a tocar para o baile começar".


      
      Passando pelas diversas escolas do município, noto aquilo que o Arouca fez questão de anotar em seu livro - Ubatuba, onde a lua nasce mais bonita -   denúncia do quanto pecamos em não cultivar a memória do nosso lugar e das pessoas que um dia foram homenageados com seus nomes nas unidades de ensino.

     "Ginásio Capitão Deolindo de Oliveira Santos. Não me recordo que a escola tenha se preocupado em reverenciar seu patrono, ou que comemorasse o dia do seu aniversário. As informações mais consistentes diziam que o Capitão Deolindo foi tio do seo Filhinho da Farmácia e sua graduação teria sido título honorífico que recebera, como honra à jactância pessoal, mas foi Prefeito Municipal. Com ou sem garbo, o Ginásio "Capitão Deolindo" tornou-se o farol irradiante a iluminar o caminho para que a nossa rapaziada ganhasse ânimo e força na trilha segura de um novo tempo".
  
      Foi essa rapaziada, organizada no Grêmio Estudantil 28 de abril,  que iniciou a luta para obter espaço às práticas esportivasA única quadra de esporte era particular, a do Itaguá Praia Clube, sem convênio com a Prefeitura e sem nenhuma vontade de ajudar. O proprietário era o Dr. Lycurgo Barbosa Querido, empresário de Taubaté, cujos loteamentos iam desde a praia do Itaguá até a divisa com o Sertão da Sesmaria.   

      "Após uma 'briga' de quase um ano para a utilização daquelas dependências, o presidente-proprietário do Clube, finalmente, firmou termo de uso de todas as instalações da praça esportiva. Uma bonita quadra fechada em alambrado, ajardinada em toda a sua volta, com duas quadras de tênis, quadras para basquete, vôlei e futebol de salão. Quadra de areia para vôlei de praia, bocha e quiosque para recreação. Tudo bem cuidado pelo seo Porfírio, o zelador".

        Em 1963, sob a presidência de Ailton Figueiredo, o Caculé, o Grêmio juntou os alunos; fizeram o primeiro movimento público com faixas e discursos, diante da Câmara dos Vereadores, pela construção do prédio novo para o Ginásio. Até bateria levaram para mostrar a animação. No alvorecer da década seguinte, o prédio onde até hoje funciona o "Deolindo" foi inaugurado.

      Me inspirei para escrever este relato após ouvir e ver, ontem (21/06), a energia da UNE (União Nacional dos Estudantes) contra os descasos do Presidente da República pelo nosso povo. É da juventude que pode brotar ações contra a hipocrisia e as injustiças! Eu aposto no protagonismo juvenil! É essa juventude que encarna o mesmo espírito de outros tempos, da juventude do Grêmio Estudantil 28 de abril. Como disse na época o velho Ponciano Eugênio Duarte em frente ao seu bar e mercearia: "Pena que eu não tenho uns rojões para festejar isso. Estou orgulhoso desses meninos".

ITAGUA PRAIA CLUBE, O PRIMEIRO CLUBE ESPORTIVO E DE LAZER DE UBATUBA SP.ANO 1956

 





                                                           FOTO  DE 1960





1962






FOTO DE  1956


O CRUZEIRO DE UBATUBA..........DÉCADA DE 50

 

O Cruzeiro de  Ubatuba, na praia que leva o mesmo nome, na década de 50.Foto Arquivo pessoal de Odaury Carneiro...

RUA MARIA ALVES, ANOS 60.

 

Antiga Rua do Comécio, hoje Rua Maria Alves , a direita hoje temos o Supermecado Paulista, a frente e a esquerda a lateral da Igreja da Matriz....Foto  da Década de 60.......Odaury Carneiro - Arquivo Pessoal