Continuo a divulgar nest página , na integra, por capitulos, o livro " Ubatuba, espaço, memória e cultura", editado em 2005, escrito pelos autores Juan Drouguet e Jorge Otávio Fonseca ( Este livro pode ser encontrado na Biblioteca Municipal de Ubatuba , localizada na Praça 13 de maio, Centro,
5. A ILHA ANCHIETA
Localização
A Ilha Anchieta está a 500 metros do continente e a 18 km da praia do saco da Ribeira na costa do Município de Ubatuba. A Ilha abrange 828 hectares com 5 km de largura e 3,9 km de altura, medidas consideradas máximas. Sua latitude de 45° 04’ W e sua profundidade varia entre três e doze metros.
Acesso
O único modo de chegar até a Ilha Anchieta é por meio de transporte hidroviário, cujo acesso principal é pela Enseada das Palmas, que dista 4,3 milhas náuticas, isto é, 8 km a partir do Saco da Ribeira e também do Itaguá. O trajeto é feito em aproximadamente 25 minutos de escuna.
Olhar
A Ilha Anchieta encanta seus visitantes com suas sete praias paradisíacas, abriga uma rica fauna da Mata Atlântica onde vivem capivaras, pacas, macaco – prego, sagüis, quatis, gambás, lagartos, preguiças, tatus e cotias. Levantamentos científicos constataram a presença de 50 espécies de aves, entre as quais estão: sabiá, juriti, tangará, tiesanquê, colerinha, saivá, bem–te–vi, atogá, gaivota e beija-flor.
Nas águas cristalinas que rodeiam a ilha são encontrados cardumes de tainhas, rabalos, carapaus, sardinhas, peixes voadores e tartarugas marinhas, todos protegidos por um polígono de interdição de pesca de qualquer modalidade.
Tartarugas marinhas utilizam a região como área de alimentação e são protegidas no Parque pelo Núcleo de Atividades do projeto TAMAR/IBAMA.No Parque Estadual é proibido acampar, pescar, retirar do mar ou dos costões qualquer espécie de flora ou fauna marinha; colher mudas, cortar plantas; levar animais domésticos e abrir caminho pela mata.
A costa é de pouca profundidade e sofre da influência dos rios da região, a temperatura média da água é de 20° a 28°, entretanto, podem ocorrer quedas bruscas da mesma, chegando a 15 ° C, por isto, o uso de roupas isotérmicas é sempre aconselhável o ano todo. A visibilidade da Ilha e na Ilha varia muito em função das correntes e condições climáticas. O fundo do mar é composto por costões rochosos e areia, contando com corais cérebro, esponjas, algas, tartarugas, budiões, arraias – prego, garoupas, badejones e peixes coloridos, principalmente na Ponta Sul. Algumas vezes aparecem golfinhos que encantam com suas brincadeiras, este espetáculo não é via de regra. A melhor época para praticar mergulho na Ilha é de janeiro até abril, tomando cuidado com a instabilidade da temperatura da água.
Apesar do Parque Estadual da Ilha Anchieta possuir sete praias, apenas cinco são abertas para visitação: a praia do Presídio, a praia do sapateiro, a praia das Palmas, a praia do Engenho e a praia do Sul. As outras duas são áreas de preservação e reflorestamento. As trilhas conducentes para a praia do Engenho e do Sul são interessantíssimas para quem gosta de ver a vegetação e os animais em seu habitat.
As praias do Presídio e do Sapateiro são as praias de recepção da Ilha, o píer usado para o embarque e desembarque dos visitantes e o que delimita suas fronteiras. São praias de tombo onde não é aconselhável o nado para crianças, praias belíssimas de águas cristalinas e areia bem límpida. Todas as construções da Ilha ficam em suas imediações: o centro do atendimento ao turista, por exemplo, que funciona como guia e o museu da Ilha, logo atrás do centro, onde estão localizadas as ruínas do antigo presídio. No dia 20 de junho de 1952, no Presídio da Ilha Anchieta aconteceu um dos episódios mais sangrentos da história do Litoral Norte e que tingiu de sangue o paraíso natural outrora tão preservado pelas comunidades indígenas que aí moraram. Na época o presídio contava com 465 detentos em 8 pavilhões, uma superlotação que provavelmente tenha sido o motivo principal da revolta dos presos.
Apesar de que muitos - como diz o cronista, achavam improvável este tipo de mobilização pelas dificuldades naturais que o mar representava, o início da rebelião foi no momento em que os presos saiam para executar serviços fora do presídio. 117 presos saíram escoltados por 3 policiais que invadiram o presídio depois de atacar e matar alguns destes policiais. Mais de 250 presos fugiram enquanto 76 soldados procuravam conter a eminente rebelião. Em lanchas, jangadas de bambu e tambores de petróleo vazios, os presos saíram da Ilha rumo à desejada liberdade. Uma das lanchas que correu esta sorte, sem roteiro de navegação, dirigia-se a Parati. Houve briga dentro dela cuja capacidade era para 40 pessoas, entretanto, portava 90 que lutavam por destinos diversos. A embarcação bateu nos rochedos e se partiu no meio, muitos de seus tripulantes acabaram morrendo. Uma força tarefa organizada que incluía o Exército, Polícia Militar e Aeronáutica se mobilizou à casa dos fugitivos da lei. O saldo desta rebelião foi: 12 detentos mortos, 8 policiais e 2 funcionários civis. O Presídio da Ilha Anchieta foi desativado em 1955, por falta de condições e segurança. Hoje em dia, o Presídio da Ilha Anchieta virou um ponto turístico de visitação em Ubatuba.
Existe na Ilha um único lugar de hospedagem para estudantes e pesquisadores que cobra uma pequena taxa de manutenção, um restaurante desativado e a casa de um dos diretores do Parque.
O nome da Ilha é Parque Estadual da Ilha Anchieta e tem como atual diretor Manoel de Azevedo Fontes. A Ilha como já dissemos é um Parque Nacional de proteção integral administrado pelo Instituto Florestal que é um órgão da Secretaria Municipal do Estado de São Paulo. A Ilha possui uma pequena infra-estrutura que consiste em um píer para o embarque e desembarque de turistas, um centro de informações e de recepção que oferece mapa da Ilha e as normas de visitação, as ruínas de um presídio desativado desde 1955, aberto; um pequeno alojamento para trinta pessoas autorizadas às quais se cobra uma pequena taxa para manutenção, um restaurante desativado por falta de licitação, em projeto de voltar a funcionar e uma casa construída antes da formação do parque.
Não existem moradores na Ilha, as pessoas que trabalham lá voltam para suas casas na noite, só pernoitam na Ilha alguns estudantes e pesquisadores com autorização para ficar. A Ilha só pode receber um barco cada 10 minutos e no máximo 1.020 visitantes por dia.
Demanda Turística
O atrativo mais requisitado pelos numerosos visitantes da Ilha é a praia do Engelho. Geralmente, as pessoas que vão até a Ilha Anchieta estão em busca de mergulho em suas águas transparentes cheias de peixes. A região oferece uma grande diversidade de lazer aos turistas como caminhar pelas trilhas ou visitar o patrimônio cultural do presídio ao qual nos referiremos no item âncoras nos principais pontos turísticos de Ubatuba. A Ilha Anchieta virou atração turística conquistando visitantes, pesquisadores e estudiosos de todas as partes do mundo.
Mesmo com a intervenção humana na Ilha, esta não perdeu sua identidade: o vitalismo da natureza em estado mais puro.
6. TONINHAS
Localização
A praia das Toninhas está localizada na região sul de Ubatuba, a 8,3 km do centro da cidade, entre a praia Grande e a Ponta do Espia.
Acesso
O acesso para Toninhas é feito pela Rodovia Rio - Santos. Distante a 8,3 km do centro de Ubatuba. São várias as ruas de terra através das quais se chega até as suas areias. Ônibus da empresa Cidade de Ubatuba oferecem opções com regularidade.
Olhar
Toninhas é uma praia reclinada para o mar com areias finas e amarelada. No início do verão, época de acasalamento das toninhas, golfinhos pequenos que dão o nome à praia aparecem para dar o ar da graça aos turistas e visitantes. Esta praia é considerada boa para banho e para a prática esportiva do surf.
O belo espetáculo das águas nas Toninhas faz desta, uma das praias mais tradicionais de Ubatuba, uma grande área construída que compreende diversos hotéis, sendo que alguns possuem arquitetura similar aos meios de hospedagem europeus. Nos cerca de 1.500 metros de extensão ao longo de sua orla podem ser encontrados quiosques, excelentes restaurantes e bares à beira mar.
A praia possui um dos melhores sistemas de saneamento de todo o Município, atendido pela SABESP. A CETESP, responsável pelo saneamento ambiental, divulga diariamente boletins retratando a balneabilidade de suas águas. As ondas do mar em Toninhas são fortes, principalmente no início da tarde, quando a praia é acometida por ventos de alta intensidade que permitem a prática do surf e de outros esportes náuticos.
O nome de Toninhas que a praia ostenta, merece um pouco de atenção da nossa parte, uma vez que a espécie animal, considerada uma das mais inteligentes depois do homem, é justamente, a dos delfins. Descendentes de mamíferos terrestres, as toninhas comunicam-se por meio de ultra – sons, a terceira visão. Toda espécie da família destes brincalhões domesticáveis é chamada de botos, golfinhos ou toninhas. Outrora, quando a cadeia alimentar encontrava-se em perfeito equilíbrio havia muitas toninhas nesta praia que hoje leva esse nome.
Nas Toninhas, conta a história oral, ocorreram fatos misteriosos que até hoje não se sabe se são lendas ou verdade.Pouco importa quando se trata da tradição popular e do imaginário caiçara que vem a nos instigar.
A lenda dos marinhos inicia-se com a constatação de uma estiada que afetava Ubatuba e região. Moradores da praia das Toninhas se queixavam com maior ímpeto da seca que comprometia a pesca de sobrevivência. Tonico Honorato, patriarca sabido das Toninhas pregava a seca como um castigo divino. Ante a voz ancestral, o povo rezava e, enquanto elevava suas prezes para o céu, dois amigos; Julio e Camilo reparavam na estranha conduta do colega Marino que estava arredio, mas com um êxito inusitado na atividade da pesca. Seguindo-o puderam presenciar o surgimento das águas de uma encantadora mulher com a qual Marino se estreitou em um idílico abraço.
Um dia, a fascinante mulher emergida das águas tardou em aparecer e, contrário às outras vezes, mostrava muito ansiosa por voltar para o mar. O amante quis retê-la e na luta conseguiu ver na garganta dela uma enorme guelra vermelha que nos peixes funciona como órgão respiratório. Em um gesto rápido Marino extirpou a guelra de Ondina que lhe impedia falar e que a condicionava a viver nas profundezas do oceano. Após este gesto de amor, Marino e Ondina trocaram juras de amor eterno e formaram o lar dos Marinhos na praia das Toninhas.
(De Oliveira, 1995: 44 ss).
Outrora, Toninhas também foi passagem de pedestres que se dirigiam à cidade. Eles vinham por uma trilha que saia da praia da Enseada, passava por toda a praia das Toninhas e seguia para a Praia Grande.Dizem os mais velhos, que em algumas noites, passava em alta velocidade, uma carruagem escura sem o cocheiro. Quem viu afirma ser uma visão horripilante! Mas o tempo passou e as assombrações ficaram no passado. Hoje, Toninhas, glamourosa e deslumbrante avista o Atlântico desde o requinte dos seus hotéis, dos restaurantes à beira da praia em um eterno happy hour que esbanja nos cardápios o sabor da comida local e internacional.
Demanda Turística
A praia das Toninhas é freqüentada por famílias e surfistas, estes últimos beneficiados nos dias de mar agitado. Toninhas é do agrado de todo tipo de público, àqueles que gostam de descobertas, no canto direito do Condomínio fechado Wembley Inn, a cinco minutos a pé, encontra-se a trilha que leva até a Pedra Quadrada, interessante para os que gostam de pescar ou de apreciar a bela vista que daí é possível admirar.
A rede hoteleira se vê beneficiada, principalmente, nos meses de janeiro, dezembro e fevereiro, estes centros de hospedagem chegam a registrar altos índices de ocupação e visitação decorrentes da praia. Os próprios hotéis organizam mapas e roteiros que são veiculados nos principais pólos de emissão de turistas para a região de Minas Gerais, Taubaté, vale do Paraíba, etc.
Lita Chastan faz uma homenagem a esta praia no seu livro São Paulo Litoral Norte – caiçaras e franceses (1999), com o poema “Encanto das Toninhas”.
Foi canto – feitiçaria
capricho, fado, alquimia
visão, sonho e encanto
encantamento e magia
bem na ponta das Toninhas!
CONTINUA .....Confira a 12 ª parte do Livro " Ubatuba, espaço, memória e cultura " NA PRÓXIMA ATUALIZAÇÃO DIA 10/02/08