Pedro Paulo Teixeira Pinto
Trazida de Portugal pela Rainha Isabel, nos fins do século XVII, a Festa do Divino Espírito Santo ou Festa de Pentecostes, é uma das mais antigas tradições profano-religiosas do Brasil. Pela atuação de vários fatores adversos, a Folia do Divino, em Ubatuba, não sai mais, ainda permanecendo viva na cidade vizinha de Paraty no Estado do Rio de Janeiro.
A Enseada era um bairro habitado exclusivamente por famílias de pescadores. As casas, de pau-a-pique, chão de barro batido, cobertas de sapé. Luz de lamparina, água de cachoeira carregada em pote para uso doméstico. Sobre tarimba de bambu, esteira de taboa completava a cama.
Na pesca, a atividade principal dos homens. As mulheres davam conta da roça.
Peixe, mandioca e banana eram a base da alimentação, enquanto danças como o Xiba, São Gonçalo, entre outras manifestações típicas, sustentavam as necessidades de entretenimento.
A ausência acentuada do pároco era remediada pelo humilde e dedicado capelão que reunia a comunidade para rezar na capela de Santa Rita.
Boitatá, saci-pererê, corpo-seco, mula-sem-cabeça, assombração, faziam parte do imaginário coletivo e podiam castigar criança desobediente e mesmo adultos.
Mau olhado e quebranto eram afastados pela competência das benzedeiras. Uma delas, dona Sarafina, velhinha, pito no canto da boca, de cócoras, à beira do braseiro do fogão feito no chão, contava longas histórias de meter medo.
Para chegar à cidade, hora e meia a pé, por trilhas e praias, sobre sempre pés descalços.
Nesse cenário, criança, conheci e convivi com a Folia do Divino Espírito Santo, maior festa anual de toda a comunidade caiçara. Durante sua permanência no bairro, todos os dias, de manhã à noite, com a roupa melhor que tinham, todos participavam, casa em casa, da romaria do Divino. Era o grande ato de fé da comunidade.
· OUTROS TEMPOS
Em 1974 a Folia não saiu. "O trabalho da Igreja, atualmente, é mais o de evangelizar, e hoje não há a possibilidade dessas festas se realizarem, pois é um ato religioso que não é mais entendido pelo povo", justificou-se o Vigário da época.
O interesse em resgatar essa importante tradição da cultura caiçara, reuniu algumas pessoas, como a Zenaide, dona Ofhélia e eu, que empenhamo-nos bastante para reviver o evento.
Em 1975 conseguimos que a Zenaide fosse a Festeira e garantimos, não sem luta, a saída do grupo da Folia, e toda Ubatuba recebeu a visita do Divino. Em 1976 foi a minha vez. Vencemos a fase crítica e finalmente a resistência da Igreja. Com a vinda do novo pároco, Frei Sebastião, sensível às manifestações populares religiosas, a Folia se firmou de novo. Contudo, sem o antigo brilho, dentro de uma nova realidade, cada vez mais adversa.
A influência crescente das religiões evangélicas, da atividade turística, da mídia eletrônica, determinaram profundas alterações no perfil de nossa população, hoje formada preponderantemente por migrantes aqui chegados em função da construção civil.
Hoje a Folia do Divino não sai mais, a partir do ano passado, e a razão principal é a falta de foliões. Os que não morreram estão muito velhos e a renovação não encontrou ambiente propício para acontecer.
Jaime Rodrigues em seu artigo "Observações Sobre a Cultura Popular" diz assim:" Uma conseqüência desse admirável mundo novo é a internacionalização do produto artístico-cultural. Isso quando não fortalecidas as culturas nacionais, a conduzem para o aniquilamento ou para a subversão, mediante a simbiose com manifestações alienígenas".
FONTE : Fundart
quinta-feira, 24 de junho de 2010
ESPECIAL DO LIVRO " Ubatuba, espaço, memória e cultura " - PARTE 2
Capítulo I
UBATUBA, O PRIMEIRO SOL DO VERÃO.
Quem acompanhar a trajetória do Trópico de Capricórnio1 no mapa, verá que ele se encontra, em sua rota imaginária ao redor do globo, com a cidade Ubatuba, localizada ao norte do litoral de São Paulo. E todos os anos, em 22 de dezembro, suas praias recebem os primeiros raios de sol do hemisfério sul, consagrando o início do verão. Essa metáfora espacial serve como ponto de partida para abordar a cidade desde uma perspectiva turística, uma das principais fontes de reconhecimento que se faz desta região do litoral norte de São Paulo.
Apesar de o Trópico de Capricórnio não ser conhecido como uma referência geográfica importante pelos meios de comunicação de massa e pelo público em geral, ele determina um dos motivos pelos quais Ubatuba é, em uma das estações do ano, a primeira a desfrutar do solstício de verão. O calor, a qualidade do clima e das águas coloca Ubatuba como um dos mais importantes recursos turísticos do litoral norte de São Paulo. As pessoas vão ao lugar em férias, pois o clima ameno atrai um fluxo turístico considerável à procura do sol e da Serra do Mar.
A linha imaginária que atravessa Ubatuba passa pela praia do Cruzeiro, próxima ao campo de aviação Gastão Madeira. Um símbolo concreto desse cruzamento é um globo de metal, sobre uma estrela dos ventos, localizado em uma das praças que hoje serve de marco de referência para o lazer e a recreação dos habitantes de Ubatuba. A função simbólica deste lugar convencionado para este fim reveste, o mesmo de um valor ímpar em termos de localização espacial.
Assim, o sol oferece em Ubatuba um espetáculo privilegiado, um dos cenários mais primorosos da aurora do verão de nosso país tropical. Tal explosão de beleza desenha o visual colorido do Cruzeiro e, junto às águas que banham a baía do centro, desenham um belíssimo cartão postal de Ubatuba.
“O primeiro sol do verão brilha aqui”. Foi esse um dos slogans usados pela mídia na divulgação das imagens da cidade, que teve o objetivo de atrair turistas e visitantes. Talvez essa tenha sido a única investida feita na tentativa de explorar turisticamente o potencial do fenômeno imaginário, expresso no visual real da paisagem “deslumbrante” de Ubatuba.
O turismo é uma força motriz da economia mundial nos dias de hoje, uma atividade de importância política, social e cultural. Uma atividade de impacto significativo, que merece a nossa atenção e que compromete o percurso da nossa travessia por eixos do turismo como a geografia, a história e a cultura.
O turismo é, na atualidade, um campo de estudos que, segundo Chris Cooper, em Turismo, princípios e prática (2001), ainda carece de base teórica para tornar-se uma disciplina. Apesar dos vários indicadores atuais que apontam para uma crescente profissionalização do turismo, tanto em termos de atividade prática como teórica, nessa obra, o conceito faz referência ao fenômeno social, impulsionado por motivações de caráter social, em primeiro lugar.
Este trabalho se concentra em torno de uma localidade, pois a intenção é demonstrar a possibilidade de se estabelecer categorias de análise que perfazem a práxis do turismo, como o mapeamento dos recursos turísticos, e a reconstrução da história, imagens, tradições, costumes e folclore.
As abordagens tradicionais operacionalizam e reduzem o turismo a um conjunto de atividades ou transações econômicas – afirma Cooper -, enquanto autores mais recentes têm criticado esse “reducionismo”, enfatizando estruturas pós–modernas, que analisam o significado e o conteúdo do turismo na mira dos fenômenos interativos e artísticos.
A nossa proposta consiste de um estudo regional, localizado e bem definido. A cidade de Ubatuba está carente de um resgate cultural em termos de registro, capaz de oferecer-lhe o frescor do amanhecer e o despertar da consciência de seus habitantes para aspectos sobre seu entorno, sobre sua identidade e sobre as possibilidades de um presente reconhecido pelo valor de suas tradições ancestrais, e pelo poder transformador das instituições sociais que atuam na cidade.
Os eixos mais importantes do livro que apresentamos serão o espaço, a memória e a cultura nativos, que comprometem a apreensão dos sentidos e o olhar, sendo este último o epicentro de toda atividade crítica na produção de conhecimento. E não há nada mais apropriado para esse propósito que o ponto de vista de um nativo nascido em Ubatuba e de um estrangeiro considerado, em última instância, um turista que foi literalmente fisgado pela beleza física e humana de uma cidade que o cativou.
Neste primeiro capítulo, trataremos Ubatuba como um destino turístico inscrito no mapa do mundo, operando uma escolha das 20 praias que definiram dois roteiros e que representam o interesse para o entendimento da ação turística no local, caracterizando os principais atrativos naturais e culturais que fazem desta atividade e da pesca os principais eixos de sustentação econômica do município.
( O livro UBATUBA , ESPAÇO, MEMÓRIA E CULTURA, foi editado e lançado em 2005, ecrito pelos autores JORGE OTAVIO FONSECA e JUAN DROUGUETT ) - Em Ubatuba, o livro pode ser encontrado na Biblioteca Municipal de Ubatuba , Praça 13 de Maio, 52 - Centro.)
PRÓXIMA ATUALIZAÇÃO DIA 05 DE JULHO DE 2010
UBATUBA, O PRIMEIRO SOL DO VERÃO.
Quem acompanhar a trajetória do Trópico de Capricórnio1 no mapa, verá que ele se encontra, em sua rota imaginária ao redor do globo, com a cidade Ubatuba, localizada ao norte do litoral de São Paulo. E todos os anos, em 22 de dezembro, suas praias recebem os primeiros raios de sol do hemisfério sul, consagrando o início do verão. Essa metáfora espacial serve como ponto de partida para abordar a cidade desde uma perspectiva turística, uma das principais fontes de reconhecimento que se faz desta região do litoral norte de São Paulo.
Apesar de o Trópico de Capricórnio não ser conhecido como uma referência geográfica importante pelos meios de comunicação de massa e pelo público em geral, ele determina um dos motivos pelos quais Ubatuba é, em uma das estações do ano, a primeira a desfrutar do solstício de verão. O calor, a qualidade do clima e das águas coloca Ubatuba como um dos mais importantes recursos turísticos do litoral norte de São Paulo. As pessoas vão ao lugar em férias, pois o clima ameno atrai um fluxo turístico considerável à procura do sol e da Serra do Mar.
A linha imaginária que atravessa Ubatuba passa pela praia do Cruzeiro, próxima ao campo de aviação Gastão Madeira. Um símbolo concreto desse cruzamento é um globo de metal, sobre uma estrela dos ventos, localizado em uma das praças que hoje serve de marco de referência para o lazer e a recreação dos habitantes de Ubatuba. A função simbólica deste lugar convencionado para este fim reveste, o mesmo de um valor ímpar em termos de localização espacial.
Assim, o sol oferece em Ubatuba um espetáculo privilegiado, um dos cenários mais primorosos da aurora do verão de nosso país tropical. Tal explosão de beleza desenha o visual colorido do Cruzeiro e, junto às águas que banham a baía do centro, desenham um belíssimo cartão postal de Ubatuba.
“O primeiro sol do verão brilha aqui”. Foi esse um dos slogans usados pela mídia na divulgação das imagens da cidade, que teve o objetivo de atrair turistas e visitantes. Talvez essa tenha sido a única investida feita na tentativa de explorar turisticamente o potencial do fenômeno imaginário, expresso no visual real da paisagem “deslumbrante” de Ubatuba.
O turismo é uma força motriz da economia mundial nos dias de hoje, uma atividade de importância política, social e cultural. Uma atividade de impacto significativo, que merece a nossa atenção e que compromete o percurso da nossa travessia por eixos do turismo como a geografia, a história e a cultura.
O turismo é, na atualidade, um campo de estudos que, segundo Chris Cooper, em Turismo, princípios e prática (2001), ainda carece de base teórica para tornar-se uma disciplina. Apesar dos vários indicadores atuais que apontam para uma crescente profissionalização do turismo, tanto em termos de atividade prática como teórica, nessa obra, o conceito faz referência ao fenômeno social, impulsionado por motivações de caráter social, em primeiro lugar.
Este trabalho se concentra em torno de uma localidade, pois a intenção é demonstrar a possibilidade de se estabelecer categorias de análise que perfazem a práxis do turismo, como o mapeamento dos recursos turísticos, e a reconstrução da história, imagens, tradições, costumes e folclore.
As abordagens tradicionais operacionalizam e reduzem o turismo a um conjunto de atividades ou transações econômicas – afirma Cooper -, enquanto autores mais recentes têm criticado esse “reducionismo”, enfatizando estruturas pós–modernas, que analisam o significado e o conteúdo do turismo na mira dos fenômenos interativos e artísticos.
A nossa proposta consiste de um estudo regional, localizado e bem definido. A cidade de Ubatuba está carente de um resgate cultural em termos de registro, capaz de oferecer-lhe o frescor do amanhecer e o despertar da consciência de seus habitantes para aspectos sobre seu entorno, sobre sua identidade e sobre as possibilidades de um presente reconhecido pelo valor de suas tradições ancestrais, e pelo poder transformador das instituições sociais que atuam na cidade.
Os eixos mais importantes do livro que apresentamos serão o espaço, a memória e a cultura nativos, que comprometem a apreensão dos sentidos e o olhar, sendo este último o epicentro de toda atividade crítica na produção de conhecimento. E não há nada mais apropriado para esse propósito que o ponto de vista de um nativo nascido em Ubatuba e de um estrangeiro considerado, em última instância, um turista que foi literalmente fisgado pela beleza física e humana de uma cidade que o cativou.
Neste primeiro capítulo, trataremos Ubatuba como um destino turístico inscrito no mapa do mundo, operando uma escolha das 20 praias que definiram dois roteiros e que representam o interesse para o entendimento da ação turística no local, caracterizando os principais atrativos naturais e culturais que fazem desta atividade e da pesca os principais eixos de sustentação econômica do município.
( O livro UBATUBA , ESPAÇO, MEMÓRIA E CULTURA, foi editado e lançado em 2005, ecrito pelos autores JORGE OTAVIO FONSECA e JUAN DROUGUETT ) - Em Ubatuba, o livro pode ser encontrado na Biblioteca Municipal de Ubatuba , Praça 13 de Maio, 52 - Centro.)
PRÓXIMA ATUALIZAÇÃO DIA 05 DE JULHO DE 2010
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