A Ordem da Rosa
A restauração do Sobradão do Porto vem dando o que falar. No trabalho de prospeção e raspagem da pintura, foram encontradas camadas de tinta rosa. Esse achado orientou os arquitetos na escolha da cor final do prédio, e é aí que a coisa começa querer a engripar. Voltemos um pouco no tempo.
Até a chegada da família real ao Brasil, em 1808, nossa arquitetura era bastante rudimentar: casas de taipa, ou pau-a-pique, revestimento externo branco, obtido com variedades de areia clara - a tabatinga- e janelas pintadas de azuis. Esse pigmento era obtido, parece, do anil, na época uma planta amplamente cultivada na colônia.
A altura das edificações, o tal pé-direito, era reduzido e as casa acanhadas. A cobertura era feita com telhas côncavas, hoje conhecidas por telhas paulistas.
Em linhas gerais, esse era o modelo vigente da nossa arquitetura colonial, exceção feita naturalmente às igrejas.
Em meados do século 19, com a abertura dos portos e o início do ciclo do café, uma onda de prosperidade alcança as províncias do Rio de Janeiro e São Paulo, particularmente o vale do Paraíba. Junto com a riqueza, mudança nos hábitos.
Nessa época, era dominante a cultura francesa e o Brasil não ficou isento de tal tipo de influência. Na arquitetura, a França difundia o chamado modelo neoclássico, com seus enormes casarões assobradados, construídos em pedra ou tijolos, com muito azulejo, vidro e gradis de ferro. Um exemplo magnífico deste tipo de arquitetura é o prédio aqui construído por Baltazar da Cunha Fortes, em 1846, hoje conhecido por Sobradão do Porto.
São Luiz do Paraytinga conserva um rico conjunto de casarões neoclássicos, erroneamente ditos “coloniais”, mas isso é uma outra história.
E o cor-de-rosa?
Em 1829, ao se casar com a princesa austríaca Amélia, o jovem imperador D. Pedro I criou a Imperial Ordem da Rosa, a mais alta distinção honorífera do império brasileiro.
A Ordem da Rosa existiu durante quase 60 anos e somente seria extinta com a proclamação da República. Nesse período, muita gente importante do império brasileiro foi com ela homenageada.
Além da comenda da Rosa, os Bragança elegeram o rosa como cor oficial de seus palácios e residências. Tal fato pode ser ainda hoje constatado quando se visita o Palácio Imperial, em Petrópolis, ou a Quinta da Boa Vista, antiga residência de D. Pedro II, no Rio de Janeiro.
Durante o reinado dos dois Pedros, era comum que indivíduos endinheirados pintassem de rosa os seus casarões. Os exemplos são vários, particularmente nas velhas cidades do Brasil.
Essa teria sido, muito provavelmente, a origem da pintura original das paredes do nosso Sobradão do Porto.Com a palavra, os arquitetos e historiadores.
FONTE : http://www2.uol.com.br/jornalasemana/edicao141/caicara.htm