Muitas são as pessoas que vêm morar em Ubatuba, provenientes de tantas cidades do nosso Estado ou regiões mais distantes ainda. Trabalho ou motivos emocionais – já que estamos falando de um dos lugares de Natureza das mais apaixonantes do planeta – trazem os imigrantes ao convívio constante com a proximidade do mar.
Quem caminha pelo centro comercial da cidade, vendo as agências bancárias, os restaurantes e a boa quantidade de veículos motorizados que por aqui circulam não pode imaginar que Ubatuba, durante mais de 80 anos – entre 1870 e 1952 – ficou praticamente isolada da dinâmica da vida comercial do Brasil.
Ela que outrora fora um importante porto de comercialização de produtos entre nosso país e a Europa – produtos estes que passavam pelo Sobradão do Porto (atualmente, Fundart) – quando da criação do porto de Santos e da construção de estradas de ferro ligando o novo porto a cidades do interior paulista, perdeu sua marca de entreposto comercial.
A partir daí, Ubatuba foi ficando esquecida e isolada, para só ter retomado seu contato maior com o mundo exterior, depois da construção da Rodovia SP-125 (Oswaldo Cruz). Nesse período sem estradas, o único meio de transporte e acesso a outras localidades era a canoa. Esse artefato de origem indígena tão bem assimilado pelos seus descendentes, miscigenados com portugueses e negros, fora utilizado para transportar e negociar mercadorias produzidas aqui, no sertão ou tiradas do mar – banana, farinha de mandioca, peixe salgado, pé-de-moleque (que para o caiçara, não é feito com amendoim, mas com farinha e gengibre), pinga.
As canoas maiores eram chamadas de “canoas de voga” e muitas eram providas de “traquete”, uma espécie de pequena vela que ajudava no impulso da embarcação. Mas, em muitas situações, era nos remos conduzidos à força de muitos braços que as canoas atingiam seus destinos. É, portanto, com muita razão e bons motivos que o caiçara se orgulha e se emociona ao ver canoas de valor histórico, como a “Maria Comprida” (hoje patrimônio da Fundart) sendo preservadas e valorizadas.
Deixa o mundo ir, sem saber prá onde, com pressa. Ubatuba vai de canoa...
Escrito por Heyttor Barsalini - Foto: Ana Maria Pavaão
Matéria Publicada na Ubatuba em Revista Semanal #11