domingo, 14 de outubro de 2007

UBATUA E SUAS PRAIAS : Prainha do Matarazzo

A praia do Matarazzo está localizada bem na região central de Ubatuba, exatamente no morro que separa as praias do Perequê – Açu e de Iperoig -Cruzeiro. Seu acesso é fácil passando pela ponte que vai ao Perequê Açu, logo na cabeceira da ponte à direita, sobe-se uma estrada passando pelo mirante da estátua de São Pedro pescador, seguindo 5 minutos de carro ou uns 15 a pé. A Praia do Matarazzo recebe esse nome em homenagem ao ilustre empresário paulistano, Francisco Matarazzo Sobrinho, mais conhecido como “Cicillo” Matarazzo, que foi também prefeito de Ubatuba em 1934.


Do Livro :Ubatuba, espaço, memória e cultura.(autores Juan Drouguet e Jorge Otávio Fonseca

UBATUBA COMO CENÁRIO DA TV....

Os índices da Rede Globo são indiscutíveis:115 afiliadas, entre elas a TV Vanguarda do Vale do Paraíba que cobre a cidade de Ubatuba, atinge mais de 99% do território brasileiro e tem uma participação de 60% no número de aparelhos ligados no horário nobre. Esse público é formado por pessoas que ficam em média mais de 4 horas por dia em frente da TV (Dicionário da TV Globo, 2003:ix). Tal índice de audiência é significativo, uma vez que o mercado competitivo é grande e existem outras cinco redes de televisão aberta no país, por exemplo, a TV Bandeirantes que também pode ser vista em Ubatuba .

Nas minisséries, ao contrário das telenovelas, o enredo já está definido pelo autor antes do início da produção. Sua duração pode variar de 4 a 60 capítulos. Na década de 80, a faixa do horário das 22 h, antes ocupada por novelas e depois por seriados, passou a exibir minisséries com adaptações de importantes obras literárias nacionais como é o caso de A Muralha e A Invenção do Brasil (2000), a duas minisséries usaram Ubatuba para a filmagem de algumas cenas externas, explorando a paisagem natural e sem dar muito crédito a esse tipo de utilização da imagem.

A Muralha foi escrita por Maria Adelaide Amaral e João Emanuel Carneiro, inspirada no livro homônimo de Dinah Silveira de Queiroz e dirigida por Carlos Araújo e Luis Henrique Rios . A série foi pensada como parte dos eventos comemorativos dos 500 anos do Descobrimento do Brasil. A narrativa ficcional conta a aventura dos bandeirantes paulistas que desbravaram o interior do país no século XVII. Cem anos depois de que Pedro Álvares Cabral e suas caravelas chegaram ao Brasil, a principal preocupação destes personagens é a sobrevivência. As leis vinham da Corte, do Rei de Portugal e os índios eram catequizados pelos jesuítas da Companhia de Jesus com o propósito de convertê-los ao catolicismo. A disputa pelas terras fica de manifesto na trama de A Muralha, nome que se dava à cadeia de montanhas que forma a serra do mar e, nada mais oportuno que Ubatuba para mostrar esse encontro entre a serra e o mar, entre o conquistador e o conquistado. As muralhas eram grandes obstáculos para as incursões dos bandeirantes que iam em busca de novas terras e riquezas.

A Invenção do Brasil, é uma minissérie escrita e dirigida por Gruel Arraes e Jorge Furtado, com direção e produção de Eduardo Figueira. A série também fez parte dos eventos comemorativos dos 500 anos do Descobrimento do Brasil. Baseada na obra de José Alencar e Mario de Andrade, o título foi inspirado no prefácio do livro A Fundação do Brasil, de Darcy Ribeiro. Unem-se neste tipo de produção ficção, documentário e comédia.

A trama ficcional conta a história de Diogo Álvares (Selton Mello), que vive no Brasil do século XVI, degradado de Portugal, depois de roubar o mapa de Pedro Álvares Cabral, este personagem chega ao Brasil três dias antes que o navegador. Aqui se encontra com a tribo Tupinambá que o batiza de Caramuru e passa a formar um triangulo amoroso com as irmãs Paraguaçu (Camila Pitanga) e Moema (Deborah Secco). Com a chegada de Dom Vasco (Luis Mello), interessado nas novas terras, propõe para Diogo seu retorno à Europa e um casamento de conveniência com a marquesa Sevigny (Debora Bloch).

Caramuru não consegue se separar de Paraguaçu, levando-a para França. A marquesa de Sevigny planeja casar-se com o ex – degradado, mas Diogo se casa com Paraguaçu que adota o nome cristão de Catarina do Brasil, e retorna ao país como líder Tupinambá. Marco Nanini é o narrador que interfere na trama e vai fazendo a ligação entre ficção e realidade, comentando também os fatos históricos.

Há um reconhecimento do litoral paulista como lugar das filmagens, mas não especificamente de Ubatuba, onde realmente estas aconteceram em um grande deslocamento de material para a montagem dos cenários da época. A Invenção do Brasil foi transformada em filme, em novembro de 2001, com o título Caramuru, a Invenção do Brasil.

Ambas as minisséries televisivas tiveram como parte dos cenários, as praias de Ubatuba, o que nos leva a pensar que a imagem de Ubatuba está sempre na mídia, desta poderosa Rede de televisão, oculta. Mas, o que acontece cada vez que a Globo aparece em Ubatuba para filmar, principalmente nas praias da Fazenda e Ubatumirim é uma revelação para seus habitantes ávidos de novidade, de celebridades e da aparelhagem técnica que mobiliza muitas pessoas e investimento. A reação dos ubatubenses ao ver as paisagens que lhe são familiares remitindo à outros lugares produz frustração e ao mesmo tempo realização de não se saber enganados. Acreditamos que a Rede Globo use com freqüências as paragens de Ubatuba pelas condições propícias para a filmagem a céu aberto e o baixo custo da mesma. Ubatuba, na verdade é um remanescente natural da imagem primordial do Brasil. A falta de reconhecimento do município, talvez seja por uma disputa de interesses econômicos e políticos que não vem ao caso discutir. No marco das celebrações dos 500 anos da Descoberta do Brasil surgiram estas duas minisséries, cujo desafio era reconstruir a imagem da nascente nação brasileira, assim o espaço físico tem um papel importante, do mesmo modo que o imaginário dos europeus e indígenas que a mídia tenta reproduzir.

A palavra exclusão veio à tona nessa oportunidade, reivindicada por grupos sociais minoritários de índios, sem terra, representantes do movimento negro que aproveitaram para evidenciar as desigualdades sociais produzidas ao longo desses 500 anos . É evidente que o papel da mídia foi preponderante nesse momento, pois as suas estratégias narrativas idas ao ar se chocavam com os interesses desses remanescentes das etnias que arquitetaram a nação brasileira. A relação espaço e memória fica evidente quando queremos referir ao conceito de cultura, são conceitos pré – requisitos que nem sempre a mídia leva em consideração, em função da própria imediatez do veículo através do qual são transmitidas as mensagens em função dos efeitos receptivos.

O papel da televisão não é apenas ser uma fábrica de artistas, produtores, técnicos, jornalistas, etc., de certa forma, também consiste em reconstruir o telespectador no sentido de educar seu olhar, oferecer um espelho no qual a cultura brasileira possa se olhar sem medo ou vergonha, e abrir horizontes para as manifestações mais nobres como a literatura, o teatro, a música, o esporte e o cinema. A educação do futuro exige um esforço mancomunado da sociedade que reivindique o papel das ciências humanas e sociais a romper com esse velho confronto entre natureza e cultura. Neste percurso do livro tentamos de alguma forma vencer essa muralha para reinventar o Brasil e Ubatuba é um bom lugar para se começar.


FONTE : Livro : Ubatuba, espaço , memória e cultura , dos autores Juan Drouguet e Jorge Otávio Fonseca, editado em 2005 .