Já não se festeja mais o Divino como antigamente... Naquele tempo, quando terminava uma festa, o novo festeiro, ou melhor o novo Imperador providenciava logo as corridas da folia. Folia, eram duas bandeiras, mais um bando precatório composto de Mordomo, chefe e recebedor das espórtulas (gorjetas) - Mestre, repentista que cantava e ritmava seus cânticos repicando o tambor :um rabequista, dois violeiros e um tiple. Estes eram os foliões. Duas Folias partiam simultaneamente para os extremos do município: uma para o Camburi, ao Norte, outra para o Tabatinga ao Sul. De lá vinham para a cidade em lenta peregrinação, cantando de casa em casa. Para a hospedagem no bairro - apesar de gratuita - havia séria disputa e a honraria cabia ao mais generoso na espórtula ou ao mais influente junto ao imperador.
Depois desta peregrinação, de bairro em bairro, a FOLIA chegava à cidade e após breve repouso partia para a segunda corrida que era manobrada de modo a aqui chegar em vésperas da Festa, para a qual extenso programa já estava organizado.
Nove dias antes, ao amanhecer, a Folia percorria as ruas da cidade, acompanhada pela Banda Musical: eram as Alvoradas. A noite, novena solene com benção do Santíssimo Sacramento e depois de nova caminhada pela cidade, leilão de prendas em coreto armado no Largo da Matriz. No dia da Festa, domingo, pela manhã, Procissão das Esmolas. O Imperador levando a Coroa, o círio, à guisa da báculo e seleto cortejo, percorria as ruas, com senhoritas angariando donativos. As onze horas, Missa solene, cantada a três ou quatro vozes, acompanhadas no coro pela Banda Musical. Na missa, o Imperador tinha lugar destacado junto ao Altar-Mór, cercado por alguns cavalheiros que representavam a Corte. Finda a Missa, o Imperador, a Corte e o celebrante, dirigiam-se ao Império, no coreto anilado frente a Igreja, onde havia benção dos pães e doces, que havia em abundância, para serem distribuídos aos "promesseiros".
Os "promesseiros" compareciam levando uma vela, uma peça de vestuário, ou qualquer objeto fruto de sua promessa, mas sempre segurando-o envolto num lenço. Recebidos pelos atendentes do Império, estes devolviam no lenço, pão e doces. Findo o Império, farta distribuição de comes e bebes na Casa da Festa, para em seguida novo cortejo levar alimentos aos presos da cadeia (quando havia) e aos doentes da Santa Casa.
A tarde, na praça hilariantes demonstrações, como pau de sebo, corridas em sacos, porco ensebado e outras mais. As 17 horas, imponente procissão com inúmeros andores, nunca menos de oito e presença das Irmandades do Santíssimo Sacramento, Apóstolos da Oração, Pia União das Filhas de Maria e outras. A procissão voltando á Igreja, verificava-se indisfarçável inquietação: ia-se proceder a eleição do novo Imperador para o ano seguinte.
Doze nomes eram depositados em uma urna e em outra onze cédulas em branco e uma com a inscrição: "Imperador". Em suspenso os nomes eram anunciados um a um, até que surgia a cédula: "Imperador"!
O contemplado, envaidecido apressava-se por chegar em casa receber o Imperador destronado, que com povo e a Banda Musical ia levar-lhe a coroa do Divino Espírito Santo. A noite, finalizando a Festa, havia variada demonstração de fogos de artificio, onde ressaía a habilidade do maestro e o pirotécnico Benedito Xavier Teixeira. Devemos acrescentar que não havendo outros entretenimentos na cidade e nos bairros, a Festa do Divino era o acontecimento máximo e a população se preparava nas compras, nas reservas, nas confecções de vestuários e tudo mais quanto pudesse manifestar ostentação nos dias festivos.
FONTE |
Washington de Oliveira (Seu Filhinho) UBAWEB.COM |