sábado, 24 de fevereiro de 2024
SAUDADE SERVE PARA .....
Como os causos que contou,
Era todo paladar
Como o pirão que provou,
Era todo caiçara
Como o povo que amou,
Era todo coração
Em 7/12/2007, quando o dia amanhecia, João de Souza, “o caiçara do pé rachado” nos deixou. É a ele que a poesia do Domingos faz referência.
Foi um duro golpe, sobretudo pela nossa amizade, pelos causos contagiantes e pelo ser caiçara que ele era. Infelizmente muitos sequer têm noção de quem ele era, onde morou... Imagine então conhecer os seus causos - os que ele teve oportunidade de escrever!
Desconfio que o causo de hoje ele não escreveu. Dele eu escutei quando fazia um serviço de pedreiro no Camping do Velho Rita. Os personagens são: Sebastião Rita, o pai do nosso saudoso João, e, João de Paula, o caiçara hippie. Eram primos. Os dois estiveram trabalhando na construção de um muro, mas o serviço se arrastava porque era hábito dos dois as escapulidas para “uma bicadinha” no Bar do Barriquinha, na beira do campo de futebol do Itaguá.
Num dia bem cedo os dois prepararam uma grande quantidade de concreto para enchimento das colunas. Misturaram tudo. Antes das oito horas da manhã a massa já estava no ponto. Ao perceberem que estavam adiantados, resolveram “molhar a goela” na “fruteira do bairro”. Em pé, afundada na massa, deixaram a enxada para mostrar que logo estariam de volta. Porém, isso não aconteceu.
De gole em gole, acompanhado de torresmo frito, passaram toda a manhã e viraram a tarde. Depois foram tirar uma soneca no rancho de canoa do velho Tibúrcio Mesquita. Anoiteceu. Já passava a Voz do Brasil quando Sebastião Rita chegou em casa. Todos estavam preocupados! Na mesma noite o tempo desabou: se seguiram quatro dias de chuva forte. Ninguém colocava nem o nariz para fora de casa. O terreiro era um lago porque o rio Acarau transbordou. Só depois de cinco dias, quando o tempo deu um recarmão, pareceu se firmar no sol, é que viram o monumento: do monte de concreto totalmente endurecido saía o cabo da enxada. Resultado: perdeu-se tudo, inclusive a ferramenta. Por fim, completou o João de Souza:
“Acho que foi desse jeito que surgiu a história da espada na pedra, lá na Inglaterra! Só que aqui não teve nenhum Arthur forçudo. Sobrou para o Chico Preto malhar com marreta e ponteiro um dia inteiro!”.
Postado por José Ronaldo
coisasdecaicara.blogspot.com
MAIS VALE A FÉ....
Na casa da vó Eugênia, assim como em todos os lares daquele tempo, existia um oratório. Era sobre a mesa grande da sala, onde tinha de tudo: lampião, imagens de santos, fotografias, balaio de costura, caixas de remédios etc. Conforme se aproximava a hora da ave Maria (18 h), o vovô Armiro acendia uma vela e puxava uma oração sempre acompanhado de mais algumas pessoas.
Ao anoitecer, o lampião era aceso por quase duas horas. Era o ritual da roda de conversa de cada noite. Depois disso vinha a ordem para descansar o corpo porque o dia seguinte já nos aguardava com suas tarefas. Era na grande sala que, por ocasião de visitas, as esteiras de taboa eram espalhadas após a prosa de cada noite, se transformando em espaço de descanso.
Sempre tinha agregados, sobretudo caipiras da Vargem Grande e das Palmeiras, que vinham para trabalhos na roça com o vovô. Foi numa dessas ocasiões que, ao se levantar na madrugada, o tio João notou José Sibi,um desses trabalhadores, ajoelhado diante de um quadro emoldurado. Ele fazia as suas preces considerando a sacralidade do oratório da vovó. Sabe qual santidade estava defronte o piedoso homem? Tratava-se do quadro, da fotografia de casamento dos meus pais, diante da Igreja Matriz de Ubatuba. Ou seja, desse jeito a imagem estava santificada. Deve ter feito milagres. Vai saber!
Postado por José Ronaldo
coisasdecaicara.blogspot.com
Assinar:
Postagens (Atom)