quinta-feira, 21 de outubro de 2021

A HISTÓRIA DO MOTOCICLISMO EM UBATUBA....

 


CAUSOS CAIÇARA de Julinho Mendes 


A casa Farah era uma casa de eletrodomésticos de grande importância para Ubatuba nas décadas de 60 e 70. Foi através desta casa que apareceram as primeiras televisões, geladeiras, fogões, e muitas modernidades para nossa cidade. A primeira televisão à controle remoto de Ubatuba foi adquirida por Isaias Mendes, comprada na casa Farah; era uma Philco apoiada em quatro pernas, uma das poucas que existiam em Ubatuba. Nos dias de decisões dos campeonatos de futebol, tanto paulista como brasileiro, a sala de visita de nossa casa (isso eu me lembro muito bem), ficava repleta de telespectadores; eram os amigos mais chegados de meu pai: Bananinha, Natanael Monarco, Ciro do DER, Humberto, Gonzaga, Zé Diniz, e muitos outros.
Farah era um turco da cidade de Pindamonhangaba que mantinha um estabelecimento aqui em Ubatuba, no qual era gerenciado pelo nosso conhecido caiçara Zezito Barros. Farah trazia para Ubatuba as novidades lançadas no mercado das grandes lojas da capital, e deixava para que seu gerente de confiança fizesse a revenda das mercadorias. Zezito por sua vez atendia as exigências de seu patrão, pois era ele um grande negociante; não sabemos se a arte de negociar, ele aprendeu com o Turco, ou se era um dom nato, pois Zezito conquistava seus fregueses, pela lábia, pela simpatia, pelas facilidades nos pagamentos, enfim, Zezito era mais turco que o próprio turco, na arte de negociar.




Certo dia apareceu na calçada na Casa Farah, uma grande novidade para a população de Ubatuba; uns diziam que eram cavalos de aço, outros falavam que eram bicicletas com motor; o povo inteiro correu para ver a novidade; eram na verdade as primeiras motocicletas que apareceram em Ubatuba. Três lindas motocicletas vermelhas, conhecidas na época com o nome de LEONETTE; que reluziam com os raios do sol.
Zezito se viu em papos de aranha com aqueles veículos. Como venderia tal produto, se 99% da população nem se quer sabia andar de bicicleta. Vender televisão, geladeira, fogão,... era fácil, mas vender motocicleta seria uma proeza. Foi para casa e estudou um plano para quem e como venderia as motocicletas. Assim o fez. A venda seria destinada em primeiro lugar, a quem soubesse andar de bicicleta, depois, ter um poder aquisitivo um pouco mais alto e por fim mostrar a utilização de tal objeto. A lista saiu com nome de dez pessoas, e os três primeiros, seguindo a ordem de sua classificação, foram: Bananinha da Casa Lippi, Agostinho Peixeiro e Isaias Alfaiate. Não deu outra! No dia seguinte cada um dos três recebeu uma carta convite para conhecer a tal motocicleta, e, em cada carta uma verdadeira estratégia de marketing e venda.
A carta destinada ao Agostinho tinha o seguinte discurso: “Prezado amigo Agostinho. Venho através desta, comunicar que a Casa Farah trouxe as primeiras motocicletas da história de Ubatuba, e, como grande ciclista que você é, estas bicicletas motorizadas estão à sua disposição para um teste na estrada (teste drive, como hoje é chamado). É uma motocicleta bonita, forte, econômica e que colocará você na frente de qualquer outro comerciante, onde você poderá se deslocar para qualquer parte da cidade, chegando na frente de qualquer concorrente para comprar seus pescados diretamente do pescador.
Sendo assim, esperamos sua visita. Atenciosamente Zezito – Casa Farah.”
Agostinho coçou o queixo e viu que Zezito tinha razão, seus negócios cresceriam com a compra da motocicleta.
Isaias Mendes também recebeu a sua carta. O primeiro discurso foi padrão para os três; mas o discurso que levaria Isaias comprar a moto foi outro, dizia assim: “Isaias, já pensou você indo caçar macuco e pescar garoupa de motocicleta? Você vai chegar nas picadas e costeiras na frente de qualquer outro caçador ou pescador! Pense bem Isaias, ir caçar no Itamambuca ou pescar na Ponta Grossa, será um piscar de olhos! A hora que der meio dia você já tá com uns quatro macucos no borná, ou comendo pirão com banana verde das garoupas que pescou pela manhã!!! Atenciosamente”....
Isaias coçou o queixo e viu que Zezito tinha razão, dava pra matar uns macucos pela manhã e ainda fazer umas calças ou umas duas bermudas do meio dia pra tarde.
A carta para o Bananinha teve o discurso que foi para o Agostinho e para o Isaias, pois Bananinha era comerciante de secos e molhados e era chegado também numa caçada e pescaria.
A estratégia montada pelo Zezito não falhou. Nem bem a loja abriu; Bananinha, Agostinho e Isaias já estavam na porta da loja Farah... Compraram as LEONETTES do Zezito. Foram os primeiros motoqueiros de Ubatuba e assim estava formado o primeiro Moto Clube Ubatubano.
Tudo aquilo que o grande estrategista em marketing e vendas escreveu em suas cartas, aconteceu. Agostinho cresceu em seu comércio de pescado, pois visitava os cercos e negociava os peixes na frente de qualquer outro concorrente. O bananinha conciliou o comércio com a diversão, favorecido também com a motocicleta. Já o Isaias era o primeiro que chegava nos lugares de caçadas e pescarias. Nas caçadas, andava com Vicente Ramos na garupa da moto e nas pescarias andava com o Juventino.
Um dia combinou uma caçada com seu amigo Bananinha, lá no morro do Aníbal, no Itamambuca, e logicamente cada um foi com sua motoca. Naquela época não existia a rodovia BR-101 e o acesso à praia de Itamambuca era pela estrada velha, estrada da Casanga. Chegando próximo ao morro da Cruz, só não aconteceu uma tragédia porque Deus não deixou, pois foram recebidos a chumbo, a sorte foi que o tiro atingiu dos farois para baixo. Aconteceu o seguinte: Dito Jordão era morador do Itamambuca e sempre vinha à pé, pra cidade negociar sua farinha de mandioca. Era madrugada; a estrada naquela época era muita fechada e escura. Tinha-se notícia que, em certo trecho da estrada andava uma onça brava e perigosa que atacava o pessoal, então Dito Jordão andava com sua espingarda cartucheira, calibre 20, atravessada nas costas. De repente, quase na virada do morro da Cruz, Dito Jordão, começou a ouvir um ronco esquisito, parecia onça no cio; deu uma tremedeira que o homem não sabia se continuava ou se voltava, e o ronco cada vez mais se aproximava. –Se eu correr o bicho me pega, se eu ficar o bicho me come! –Se ela me comer, ela vai me comer, mas vai levar uma carga de chumbo “T” na cara! Foi isso que pensou Dito Jordão, que tremia mais do que folha de bananeira em dia de noroeste. -Seja o que Deus quiser! Engatilhou a espingarda e esperou o bicho. O ronco aumentava e não demorou enxergou os dois olhos do bicho vindo em sua direção. –Minha Nossa Senhora, é uma monstruosa. Não vai demorar estarei no bucho da bicha! Pensou Dito Jordão e ainda sentiu um mingau quente correr perna abaixo. Mesmo tremendo puxou o gatilho e meteu fogo na direção dos dois zolhões… PUUUULL
Tava morta... O bicho fechou os olhos e parou de roncar. Colocou outro cartucho e foi lá pra ver o tamanho da pintada... Chegando próximo ouviu a maior discussão, parecia briga de pai e filho.
-Eu não falei Isaias, que esse lugar era perigoso?
-Perigoso nada Bananinha, eu sempre venho aqui e nunca me aconteceu nada!
-Quem pode ter atirado em nós, Isaias?
-Não sei Bananinha, mas deve ser algum caçador medroso que anda por aí!
-Rapaz! O safado quase que nos mata!
-É mesmo, a sorte foi que o tiro bateu do farol pra baixo.
-Se eu pegar eu mato esse desgraçado!
-Calma Bananinha, calma que vamos descobrir o criminoso.
Nisso apareceu Dito Jordão, gritando.
-Heeei - heeei! Essa onça é minha, fui eu que atirei.
-Que onça seu lerdo? Você atirou foi em cima de nós! Olha só o farol da moto todo quebrado!
-Que é isso?! Eu atirei numa onça que vinha com os olhos brilhando e roncando de fome em cima de mim.
-Seo caçador titica! Olha só! Os olhos da onça que você viu foram os faróis de nossas motos e o ronco era o barulho do motor.
-Você quase que nos mata, seu porqueira!
-Raaaapaaaaaz!!! Me desculpem! Eu nunca tinha visto uma coisa dessas! Eu pensei que fosse uma onça e meti fogo na cara dela....
Aconteceu na estrada da Cazanga - Morro da Cruz, foi um milagre... Isaias e Bananinha sentiram-se renascidos. O dia clareou e os dois voltaram com o farol da moto todo estilhaçado pelo tiro.
No armazém, na alfaiataria e na peixaria, o fato foi matéria para mais de um mês, a cidade toda soube do fatídico caso.
Fica aqui registrado a Historia do Motociclismo em Ubatuba, e os três primeiros motoqueiros foram: o saudoso Agostinho Cancellier, o saudoso Benedito de Paula – o Bananinha, e Isaias Mendes - Alfaiate, que ainda hoje, tem uma perna mais pesada do que a outra, devido um bago de chumbo alojado no osso da canela, do tiro dado pelo também saudoso caiçara do Itamambuca, Dito Jordão.------Nas imagens abaixo, Eu e meu irmão Márcio, em cima da Leonette, frente a nossa casa na rua Cunhambebe em 1968.




ECHO UBATUBENSE, O PRIMEIRO JORNAL DE UBATUBA, ED. 17, DE 30 DE JANEIRO DE 1897

 


Ubatuba  teve  no ECHO UBATUBENSE   o seu primeiro jornal , o qual teve o Dr. Esteves da Silva como seu Editor Responsável, infelizmente esse jornal só teve um ano  de vida  ,foi editado  e  distribuído  entre  1896 a 1897, confira  agora   a  edição de número 17, de 30 de Janeiro de 1897.

Medalhão de comemoração dos 300 anos de Ubatuba.Lançado em 1937....

 


Essa  é   a   " Medalha  Comemorativa  aos 300 anos  de  Fundação da cidade  de Ubatuba  SP, este exemplar foi adquirido pelo meu amigo caiçara  e 100% Ubatubense   Odaury Carneiro  via leilão, ela foi lançada em 28 de Outubro de 1937.......