sábado, 21 de novembro de 2020

UBATUBA E O TURISMO VALE PARAIBANO

 



O turismo chegou (Arquivo Ubatuba de outros tempos)

    Paulo Florençano, no livro da Idalina Graça, há quase meio século, escreveu:

    Foi somente a partir de 1933, após a adaptação da antiga estrada tropeira precária, porém útil e oportuníssima estrada de rodagem [Rodovia Oswaldo Cruz], que permitiu ainda que difícil e incertamente, o movimento de veículos motorizados entre Taubaté e Ubatuba, assim interligando esta última com as demais cidades brasileiras, é que um promissor surto de progresso começou, embora timidamente  a princípio, a impulsionar o velho burgo que modorrava, semi-esquecido. 

    Processava-se a redescoberta de Ubatuba! Nova gente, novas iniciativas começaram a surgir. Os visitantes eram pessoas que, entusiasmadas pelas espetaculares belezas naturais do lugar, previam-lhe promissor futuro como estância balneária importante, centro de turismo afamado...

    Reformaram-se alguns sobrados que, assim, puderam ser salvos do desaparecimento; construíram-se as primeiras casas para temporadas de férias; reabriram-se alguns estabelecimentos comerciais, e, dois de seus acolhedores hotéis - o "Felippe" e o "Ubatuba" - os principais então existentes, ambos instalados em bonitos sobrados que datavam dos tempos áureos do apogeu econômico da cidade, em junho, dezembro e janeiro ficavam lotados de turistas que acorriam de Taubaté, Pindamonhangaba, Caçapava e outras cidades valeparaibanas, ávidos de sol, praia, ar puro e suave, temperatura amena, paz e belezas naturais em profusão.

    Aí, pois, Ubatuba, exercendo todo o seu fascínio mágico, irresistível, se impôs de vez a todos aqueles que nela aportavam. E, o progresso aos poucos, porém sempre em ritmo de constante animação, finalmente retornou, motivado então  - já não mais pelo interesse financeiro, pela importância comercial do lugar, mas sim em razão de suas excepcionais atrações que a mãe natureza aqui, dadivamente apresentava: as alvinitentes praias de areias finas, a riqueza de suas florestas intactas, o encanto particular das suas ruas e praças ainda ostentando casario do passado, e, também, de modo muito especial, a tão cordial acolhida que os seus moradores, desde o simples praiano da zona rural, até a gente letrada da cidade, espontaneamente ofereciam aos visitantes.

DONA RITA

 

        Chico Cruz era irmão do Antônio Julião e da Chica, gente nativa da praia da Santa Rita. Rita Maria da Cruz, natural da praia das Toninhas, irmã do Argemiro, foi casada com Chico Cruz, funcionário do presídio da Ilha Anchieta, onde passaram os piores momentos em 1952, por ocasião do levante. Argemiro terminou seus dias casado com a Chica, no Perequê-mirim. Nilséa e Nilson amavam seus pais (Argemiro e Chica, que tanta estima tinham por mim).  Segundo os depoimentos deles e de tantos outros, junto com a Revolução de 32 e a Guerra dos Tamoios, foram os únicos momentos  sangrentos da nossa terra. “Ninguém dormia sossegado de tanto medo”. Dona Rita disse um dia que, “quando estourou a revolta dos presos, na parte da manhã, as minhas duas filhas mais velhas estavam na escola, ao lado do presídio”.

                Rita Maria da Cruz tinha 80 anos. Acho que era o ano de 2003 quando, bem próximo ao portão da casa dela, debaixo de uma pequena sombra de um pé de lichia, no centro da cidade, a viúva me concedeu um dedo de prosa. Não me demorei muito para não cansá-la demais. Mas valeu a pena! O comentário que faço questão de transcrever hoje é a respeito do turismo na nossa cidade.

                “No meu tempo de menina a gente vivia isolada. Só as canoas se teciam por esse mar de Deus. As  grandes canoas [de voga] faziam as viagens mais longas. Só depois começaram a vir os barcos de Santos. Levavam e traziam de tudo. Acho que era uma vez por mês que eles apareciam. Ainda não tinha estrada de carro por aqui. A gente, que morava nas Toninhas, saía logo depois da grande cantoria dos galos [por volta das três horas] na madrugada para vir estudar na cidade, na escola Doutor Esteves da Silva. Só quando era quase serão a gente chegava de volta lá em casa. Todo mundo andava pelos jundus e praias; sempre tinha alguém indo ou vindo pelo trajeto”.

                Pois é. É notório que a cidade de Ubatuba vivia praticamente isolada do resto do mundo. A estrada para Taubaté é do começo da década de 1930. A ligação rodoviária para Caraguatatuba se completou em 1957. Justo Arouca escreveu a respeito dela: 

                “A picareta que em 1948, rompeu o chão para robustecer aquele fio de sonho, abriu a marcha incessante em busca das lendárias praias de Iperoig, 54 quilômetros depois [...] Fatigado de desilusões  e de tanto esperar, o novo dia chegou, finalmente. Chegou ao Acaraú, sem pedra fundamental, sem foguetório, sem discurso, sem feriado escolar. Era o ano da graça de 1957, setembro [...] O sonho, agora, passa para a realidade. A nova estrada rompe o silêncio de mais de meio século, abrindo as portas da cidade para um novo tempo de reconstrução”.

             Vinte anos depois, em 1977, a última via de acesso (BR-101) nos liga, ao norte, à cidade de Paraty. O turismo é a principal atividade econômica. O Sol é para todos. O desafio maior hoje é saber amar toda essa natureza exuberante que temos, vencer a poluição que avança sobre tudo e derrubar as barreiras do ódio que tenta prevalecer sobre todos.

             Como eu gostaria de ter chances de outras tantas boas prosas!

Frangose Frios do Gerson.....década de 70

 

QUEM NÃO COMPROU UM FRANGUINHO ASSADO NESTE LUGAR NO PAI DO GERSON HOJE ´É A LANCHONETE DO CHINA.

Esquina da Rua Hans Staden coma Rua Maria Alves........( Calçadão da Maria Alves)

Foto de Marino da Fonseca Fonseca via Facebook