JORNAL A SEMANA NA REDE - Publicação Semanal - Edição 154- Ubatuba, 19 de Outubro de 2001
O extenso currículo profissional faz com que o secretário de Turismo de Parintins-Amazonas, Sérgio Luiz Abreu Carvalho, traga em sua bagagem uma larga experiência e competência nos seus feitos. A maior prova foi o desafio de transformar, no meio da Amazônia, a praticamente abandonada Parintins em potência turística, hoje conhecida nacional e internacionalmente por seu festival cultural, onde comemora-se um carnaval com características únicas valorizando a cultura particular da região atraindo, em seus três dias de festa, aproximadamente 80 mil pessoas por dia, quando os moradores aproveitam a visita dos turistas para encantá-los com sua receptividade provocando o retorno deste investimento durante todo o ano.
O secretário iniciou sua palestra com os sábios dizeres do presidente da Embratur mencionados acima e revelou que para o sucesso de um município não é preciso milagre mas, sim, muito cooperativismo de toda população e principalmente valorização de sua cultura, sua raiz, e claro, muito trabalho e apenas seguir as regras básicas que já estão escritas no Manual para o Desenvolvimento de Orientação do Turismo Sustentável OMT (Organização Mundial do Turismo). Ele disse que quando chegou em Parintins, “no meio do mato”, lugar de difícil acesso, primeiro observou as dificuldades. Encontrou grave problema com lixo, prostituição de menores, dois prefeitos anteriores que haviam sido presos, comerciantes em sua maioria sem o segundo grau completo, enfim, problemas numéricos, digo, muito maior do que o nosso.
Foi implantado o PNMT (Programa Nacional de Municipalização de Turismo) seguido por inúmeras campanhas que tinham como objetivo atuar como tratamento de choque popular. Para isso, foi necessário usar todos os veículos de comunicação. Quanto ao lixo, foram lançados jingles de conscientização que tocavam a cada poucos minutos nas principais rádios da cidade. Panfletos foram espalhados com os dizeres: “A volta do turista é você quem faz... Carinho neles”. O programa “Turismo nas ondas do rádio” também cooperou muito, pois era realizado com a participação da população que ligava ao vivo denunciando qualquer motivo de destrato por parte do comerciante, sejam altos valores, banheiro sujo, mal atendimento, enfim, todos ficavam sabendo e, imediatamente após a crítica construtiva, o proprietário se via na obrigação de mudar seus atos. Também foi lançado um selo de qualidade de higiene e atendimento ao turista. Para merecê-lo, o proprietário era obrigado a participar durante dois meses de aulas de turismo e seus benefícios. Este selo tem o prazo de validade de seis meses. Caso o comerciante não cumpra as regras básicas de bom atendimento, é obrigado a fazer novamente o curso. Paralelamente, todos os turistas são orientados a usufruir dos lugares que têm o selo. Com o problema da acomodação, pois em Parintins não há hotéis, foi lançado o projeto: Cama e Café, onde os proprietários de terrenos recebem um financiamento para construção de suítes padronizadas e servem o café, aproximando a relação de turista e morador. Para valorização da cultura artística local, foram construídas cinco ocas indígenas simples onde os artesão confeccionam suas peças, que, em tempos passados custava R$2,00, e com a valorização do mercado turístico passou a custar cerca de U$40 (quarenta dólares).
E assim seguiram-se tantos outros projetos, paralelamente acompanhados por oficinas de conscientização, profis-sionalização, etc. Para finalizar, hoje o lugar antes abandonado recebe inúmeros navios cruzeiros. Ou seja, para tudo se tem uma possível solução. Quando um proprietário de pousada local argumentou para o secretário e palestrante: “Sem aeroporto fica difícil!”, ele respondeu: “Não fica! Parintins está muito mais desfavorável.”
Ele disse que, ao observar nossa bela cidade de inigualável beleza natural, achou que tem muito lixo em lugares inaceitáveis, que a construção dos bairros está desordenada. Levantou que uma das questões mais graves é que cada um está puxando para um lado. Quando soube que está em projeto na Câmara Municipal a implantação do Conselho Municipal de Turismo, disse estarmos cometendo um erro fazendo detrás para frente, pois o Conselho é conseqüência e principalmente requer primeiro ouvir e sentir as necessidade de toda a população. Após, primeiramente a ação em direção ao turismo. “Ubatuba nunca teve de fato um planejamento turístico e isto é muito grave” e que se não tomar uma decisão emergencial, com certeza, ficará para trás em muito pouco tempo. E falou que, já que erramos tanto, agora fica muito mais fácil aplicar o correto, pois já tivemos tempo para aprender. E deixa aqui seu recado à população:
AS: Com toda a experiência que trouxe para Ubatuba, qual o recado que você tem para o nosso município?
SLAC:- O principal recado é que haja uma junção: juntem-se os adversários e os não adversários que desenvolvam com seriedade as políticas que buscam o desenvolvimento da comunidade e apliquem de forma honesta tudo aquilo que foi aprendizado dentro do processo em que a municipalidade foi inserida, isto é, aproveitem a oportunidade, ela é única; aproveitem o cenário favorável e principalmente deixem, esqueçam as coisas erradas do passado ou as pessoas que as fizeram, em prol do desenvolvimento de Ubatuba.
AS: O pouco tempo que você teve para conhecer e conversar com as pessoas em Ubatuba o que pôde perceber que seja emergencial em estar aplicando?
SLAC:- Primeiramente, a pasigüidade. Esquecer o imediatismo e passar a desenvolver turismo diretamente, junto e para a comunidade local. Acho que não existe outra forma de iniciar o desenvolvimento de forma harmônica num processo tão delicado, que é a economia de Ubatuba, através do turismo.
AS:- Então, Ubatuba tem solução?
SLAC:- Tem. Puxa vida, é inaceitável que a situação do município esteja sendo o entrave do progresso de uma cidade tão bonita como esta!