terça-feira, 23 de outubro de 2007

O CORCOVADO, ENTRE A TERRA E O CEU DE UBATUBA

Localização
O Corcovado de Ubatuba está localizado ao sul do município, no bairro do Sertão do Corcovado distando aproximadamente 23 km do centro Sua entrada para o sertão fica bem em frente a entrada do loteamento da praia Dura.

Acesso

O acesso é pela rodovia Rio – Santos, BR 101, no km 67 perto da Praia Dura. Sua entrada para o sertão está à direita da rodovia de quem vem do centro de Ubatuba,adentrando perto de 3 km,pela rodovia Yoshio Tosaki. Lá sob orientação de guias especializados pode-se iniciar a caminhada pela trilha , que dura, em média, 8 h até o topo do Pico do Corcovado.

De todos os atrativos natural ou histórico - culturais descritos neste livro, o Corcovado é o único cuja visão é alcançada em qualquer ponto da cidade. Em dias de céu azul é possível, além de enxergá-lo, ver todo seu contorno, seu desenho em formato de um degrau de escada ou como uma corcunda. O historiador da cidade Washington de Oliveira, “Seu Filhinho”, autor de UBATUBA, Lendas & Outras Histórias (1995) – em sua descrição diz a respeito do Corcovado: “- É uma formidável corcunda de pedra que se eleva de silhueta de Serra do Mar, da qual é, nestas redondezas, o ponto mais elevado, fazendo realçar essa giba desde Picinguaba até a ponta de Martim de Sá, nas proximidades de Caraguatatuba".

Mas quando saímos do centro de Ubatuba em direção ao sul do município pela rodovia Rio – Santos e passamos por algumas praias e nos aproximamos do bairro Sertão do Rio Escuro e da Praia Dura, ele parece nos acompanhar e nos observar. Sua visão vai se ampliando e suas formas montanhosas vão definindo melhor o pico e seu cume. Quando nos adentramos em direção ao sertão, seguindo a estrada, a paisagem é composta de matas abundantes da Serra do Mar. O pico do Corcovado se destaca magistralmente entre outras montanhas mais baixas, o monte de Ubatuba que une a terra e o céu inspirou as mais ancestrais lendas e ritos do imaginário cultural da cidade.

A sua altura é contestada hoje, antes era considerado o ponto mais alto do município, a sua elevação chega a mais de 1.150 metros do nível do mar, mas sabe-se que não é o ponto mais alto da cadeia da Serra do Mar. Por este motivo, esta altura proporciona uma visão insuperável de toda a região que em dias limpos, sem nuvem no céu, lá de cima de seu cume pode-se ver desde Sul Fluminense até o final do Litoral Norte Paulista, o Vale Oeste como a Serra do Mar, a Bocaina e a Mantiqueira. Esta visão impressionante do alto da cidade de Ubatuba faz sentir, segundo aqueles que têm feito a experiência uma mistura de sensações sobre o infinito do firmamento. De braços abertos, o Corcovado é comparado com o Cristo Redentor de Rio de Janeiro, como se estivesse abraçando toda a beleza da cidade de Ubatuba, ou como se tivesse um poder sobre todos lá em baixo, ou ainda, como se fosse alçar vôo em direção ao horizonte, primeiro sobre um mar verde da Mata Atlântica e depois sobre o mar azul do Oceano Atlântico.

O Corcovado é famoso não tanto por seu sertão ou seu bairro com seus muito e antigos moradores, mas por ser um desafio de aventura. Uma trilha considerada das mais difíceis da região. Em um percurso de aproximadamente 8 h de caminhada, a trilha oferece uma excursão e tanto para aqueles amantes do esporte chamado de radical, o traiking. Rios, cachoeiras no meio da beleza tão presente no coração da Mata Atlântica, o Corcovado impressiona por sua variedade de plantas e árvores centenárias, bromélias e outras espécies raras da flora e também da fauna que acabam por aliviar o cansaço exaustivo da caminhada íngreme. Quando ao final do trajeto mais fácil da trilha, o aventureiro depara-se com um paredão rochoso de 700 metros considerado este ponto o momento mais complicado, torna-se necessário uma escalada. Por se tratar de uma trilha longa, demorada e difícil, aconselha-se pernoitar no alto do pico e fazer a volta no dia seguinte.

São três as possibilidades de percurso para fazer a trilha até o cume do Corcovado. A primeira é pelo sertão do Corcovado ao sul seguindo como se fosse à praia Dura, é a mais íngreme das subidas e quase uma escalada o tempo todo. Pelo lado Norte já é uma trilha mais fácil próxima do Horto Florestal, saindo da Cachoeira dos Macacos, porém esta opção é a mais longa e demorada. Ainda pela Serra existe uma outra chance de chegar às alturas, um caminho que é pouco explorado cuja via principal se dá pelo caminho que une Ubatuba e Taubaté. Vale lembrar que o roteiro desta trilha, por se tratar de um percurso difícil que adentra na mata atlântica, necessita sempre do acompanhamento de trilheiros especializados e credenciados nas agências existentes no município. A época ideal para fazer estas trilhas são as estações do outono e inverno, pois são épocas em que o índice de chuva é baixo e os dias de sol são mais freqüentes, proporcionando uma vista límpida e de céu azul.

Esse cenário, pela beleza e originalidade, já foi explorado pela mídia televisiva, sendo o lugar escolhido e servindo de pano de fundo na gravação do comercial para o lançamento de um modelo de carro da Chevrolet no ano de 1994. Em uma semana produziram-se as filmagens em uma verdadeira operação técnica que precisou além de um trilheiro bem experiente do grupo Guaynumbym, o uso de um helicóptero com cabos de aço para a locomoção da carcaça do veículo postando-o bem no cume do pico. O comercial ficou sendo vinculado por longo tempo em todas TVs brasileiras.

O Corcovado, tão misterioso e silencioso guarda uma porção de estórias, lendas de tesouros, romances e terror, mas nos parece um lugar de referência para o imaginário, onde se espelharam as mais ricas experiências culturais dos antepassados que viram neste lugar, um símbolo de união entre a terra e o céu de Ubatuba.

Do livro " Ubatuba, espaço, memória e cultura "

UBATUBA E SUAS PRAIAS...

Ubatuba tem mais de 84 praias, ao longo de cem quilômetros de costa . Algumas ainda sofreram pouca interferência humana, enquanto outras localidades já abrigam uma ampla infra-estrutura para receber os turistas, com várias opções de atividades para lazer ou esportes.

Fazem parte do litoral sul de Ubatuba, as praias de Galhetas, Figueira, Ponta Aguda, Mansa, Lagoa, Frade, Saco da Banana, Raposa, Caçandoquinha, Caçandoca, Pulso, Maranduba, Barra/Palmira, Domingas Dias, Lázaro, Sununga, Sete Fontes, Flamenguinho, Flamengo, Ribeira, Saco da Ribeira, Lamberto, Perequê – Mirim, Santa Rita, Sapé, Lagoinha, Oeste, Peres, Bonete, Grande do Bonete, Deserto/Cedro do Sul, Fortaleza, Brava da Fortaleza, Costa, Vermelha do Sul, Dura, Enseada, Fora, Godoi, Toninhas, Grande, Tenório, Vermelha do Centro e Cedro.

No litoral central de Ubatuba encontramos as praias de Itaguá, Iperoig/Cruzeiro e Matarazzo.

O litoral norte de Ubatuba tem as praias de Perequê-Açú, Barra Seca, Saco da Mãe Maria, Vermelha do Norte, Alto, Itamambuca, Prainha, Félix, Lúcio/ Conchas, Prumirim, Camburi, Léo, Meio, Puruba, Justa, Ubatumirim. Almada, Brava do Norte, Fazenda, Picinguaba e Brava.

Portanto, em posse de todas estas coordenadas que nos servirão para percorrer o litoral de Ubatuba, sugerimos os dois itinerários a seguir, traçados de acordo com a divisão espacial do litoral. As dez primeiras praias escolhidas seguem o recorrido da visão: norte, centro e sul, as dez seguintes, o percurso do olhar: sul, centro e norte.



1. PRAIA DA PICINGUABA

Localização


A Praia da Picinguaba está localizada ao norte do município, a 40 km do centro de Ubatuba. Da entrada no km 8 da Rodovia Rio – Santos, BR 101, até suas areias são mais 6 km. Picinguaba está entre as praias de Bicas e Brava do Camburi.

Acesso

O acesso à praia é pela rodovia Rio Santos, BR 101. Existe uma linha de ônibus Centro - Picinguaba da empresa Cidade de Ubatuba, com alguns horários, que chega até a Vila da Picinguaba.

Visão

Com apenas 50 metros de praia, Picinguaba é uma charmosa vila, onde podem ser reconhecidas as típicas formas de vida caiçara . A pouca praia é compensada por diversas belezas que o mar e a mata oferecem àqueles que lá ainda mantêm suas raízes e aos que lá chegam para sentir a verdadeira sensação da vida tranqüila dos seus típicos moradores.

Embora suas muitas casas de alvenaria se destaquem no meio da paisagem natural do local, a praia mantém um visual esplendoroso e selvagem. Essas casas rústicas abrangem também alguns morros.

Adentrando nas matas das proximidades da praia, pode-se aventurar por trilhas e em 30 minutos de caminhada chegar na Cachoeira do Saco da Guarda ou então no Saco da Cabeçuda. Ainda, no percurso de uma outra trilha mais longa, atravessando o Morro do Baú, está a praia do Praiano. As histórias locais - lendas repassadas oralmente - advertem aos turistas a nunca chegar em altos gritos, pois correm o risco de nunca mais voltar.

Vale ressaltar que a baía da Picinguaba reserva aventuras para todos os gostos e, além da pescaria, dos passeios de traineiras e canoas disponíveis na vila, pode-se daí avistar ilhas como a Comprida, das Couves, entre outras, e praias vizinhas como as das Bicas, Fazenda, Brava e Camburi.

Demanda turística

A demanda turística da praia de Picinguaba chega a ser seleta principalmente devido à sua localização, distante do centro de Ubatuba. Nos meses do verão, o movimento é maior de turistas, com maior presença de estrangeiros, artistas plásticos, entre outros.


TEXTO DO LIVRO " Ubatuba, espaço , memória e cultura " de Juan Droguet e Jorge Otávio Fonseca.

SÉRIE : JORGE FONSECA , 100% CAIÇARA

Jorge lembra com emoção e prazer de sua infância em Ubatuba. Brincava, caçava passarinho com estilingue, vivia grandes aventuras desfrutando a natureza junto a seus amigos. Uma época em que ganhar alguns réis, era um privilégio permitido também às crianças. Ele conta que pelo menos uma vez por semana, atracavam navios na costa, como o “Aspirante” ou o “Taipava”, trazendo além de cargas e mantimentos, alguns poucos turistas que ficavam no antigo e famoso Hotel Felipe. Jorge e alguns amigos corriam pelo caminho que levava até a praia do Matarazzo, onde esperavam pelos pequenos botes que traziam até a areia os tripulantes do navio e as cargas. Então, ajudavam os turistas com suas malas levando-os até o hotel Felipe, ganhando boas gorjetas. Jorge Fonseca lembra que não era qualquer um que ficava em estadias naquele hotel pois suas diárias chegavam a vinte e trinta mil réis.

“A minha mocidade – nos diz o entrevistado - começou a ser mais aventureira.” Sobretudo quando começou a aprender a caçar, utilizando espingardas 36 e depois uma 28. Acompanhado de alguns amigos, embrenhavam-se nas matas praticamente virgens de Ubatuba, algumas vezes chegando às divisas com outros municípios onde ficavam de uma a duas semanas. Mas lembra que não era necessário ir tão longe para achar as caças preferidas e até um rancho eles construíram em local bem próximo como o Taquaral. Ali eles encontravam uma diversidade de animais como cotia, raposa, jacutínga, “porco do mato” e uma variedade de aves com o tucano, macuco, sabiá e outros. Jorge hoje se arrepende desta prática predatória, pois muitos animais tinham suas vidas interrompidas por um tiro de espingarda. Ele lembra que uma vez, até macaco eles caçaram, atirando pelo menos em dois deles e que ao limpá-lo, na hora de pelar, quando o viu, disse que parecia muito com gente. Mesmo assim, já que caçaram, comeram o tal macaco. Em uma outra oportunidade, jurou nunca mais repetir o fato, atirou em uma preguiça e quando chegou perto dela para pega-la já morta, havia um filhote agarrada a barriga da mãe. Jorge ficou triste e chateado, jurando que nunca mais mataria este tipo de animal, bem como os macacos. O filhote da preguiça ele acabou levando para terminar de criá-lo, mas acabou dando a uma mulher que prometeu criar e depois soltá-la para a mata.

Texto extraído do livro " Ubatuba, espaço, memória e cultura "

UBATUBA, O PRIMEIRO SOL DO VERÃO. 1 ª Parte


CONTINUAÇÃO DO CAPITULO " UBATUBA, O PRIMEIRO SOL DE VERÃO "
1 º Capitulo do Livro " Ubatuba, espaço, memória e cultura "
dos autores Juan Drouguet e Jorge Otávio Fonseca




“O primeiro sol do verão brilha aqui”. Foi esse um dos slogans usados pela mídia na divulgação das imagens da cidade, que teve o objetivo de atrair turistas e visitantes. Talvez essa tenha sido a única investida feita na tentativa de explorar turisticamente o potencial do fenômeno imaginário, expresso no visual real da paisagem “deslumbrante” de Ubatuba.

O turismo é uma força motriz da economia mundial nos dias de hoje, uma atividade de importância política, social e cultural. Uma atividade de impacto significativo, que merece a nossa atenção e que compromete o percurso da nossa travessia por eixos do turismo como a geografia, a história e a cultura.

O turismo é, na atualidade, um campo de estudos que, segundo Chris Cooper, em Turismo, princípios e prática (2001), ainda carece de base teórica para tornar-se uma disciplina. Apesar dos vários indicadores atuais que apontam para uma crescente profissionalização do turismo, tanto em termos de atividade prática como teórica, nessa obra, o conceito faz referência ao fenômeno social, impulsionado por motivações de caráter social, em primeiro lugar.

Este trabalho se concentra em torno de uma localidade, pois a intenção é demonstrar a possibilidade de se estabelecer categorias de análise que perfazem a práxis do turismo, como o mapeamento dos recursos turísticos, e a reconstrução da história, imagens, tradições, costumes e folclore.

As abordagens tradicionais operacionalizam e reduzem o turismo a um conjunto de atividades ou transações econômicas – afirma Cooper -, enquanto autores mais recentes têm criticado esse “reducionismo”, enfatizando estruturas pós–modernas, que analisam o significado e o conteúdo do turismo na mira dos fenômenos interativos e artísticos.

A nossa proposta consiste de um estudo regional, localizado e bem definido. A cidade de Ubatuba está carente de um resgate cultural em termos de registro, capaz de oferecer-lhe o frescor do amanhecer e o despertar da consciência de seus habitantes para aspectos sobre seu entorno, sobre sua identidade e sobre as possibilidades de um presente reconhecido pelo valor de suas tradições ancestrais, e pelo poder transformador das instituições sociais que atuam na cidade.

Os eixos mais importantes do livro que apresentamos serão o espaço, a memória e a cultura nativos, que comprometem a apreensão dos sentidos e o olhar, sendo este último o epicentro de toda atividade crítica na produção de conhecimento. E não há nada mais apropriado para esse propósito que o ponto de vista de um nativo nascido em Ubatuba e de um estrangeiro considerado, em última instância, um turista que foi literalmente fisgado pela beleza física e humana de uma cidade que o cativou.

Neste primeiro capítulo, trataremos Ubatuba como um destino turístico inscrito no mapa do mundo, operando uma escolha das 20 praias que definiram dois roteiros e que representam o interesse para o entendimento da ação turística no local, caracterizando os principais atrativos naturais e culturais que fazem desta atividade e da pesca os principais eixos de sustentação econômica do município.