sábado, 4 de março de 2023

ANALFABETOS NÃO TEM VEZ - Ano 1971

 


ZÉ CAPÃO

 

ome de batismo: JOSÉ VIEIRA MENDES, mais conhecido pelo apelido de Zé Capão ou Zéca Pão, nativo, olhos miúdos e azuis, de estatura mediana, de físico entroncado. Residia a rua Professor Thomaz Galhardo nº 136, ao lado da Santa Casa, onde sempre morou. Nasceu nesta cidade de Ubatuba, em 19 de março de 1912, e faleceu em 04 março de 1974. Zé Capão era funcionário público municipal, lotado no cargo de coveiro, exímio pescador e carnavalesco por natureza. Era pândego, e muito falante entre os companheiros da pesca e turistas.

Os turistas rapidamente ficavam maravilhados com suas histórias e explanações sobre táticas de pesca. Zé Capão não sabia nadar. Por esse motivo não se arriscava em pescaria embarcada. Nunca entrou em uma canoa. Também não pescava na costeira pulando pedras, devido sua miopia acentuada. Das 4 horas da madrugada até as 9 horas da manhã, ficava puxando rede de arrasto artesanal (arrastão de praia), era camarada dos donos de rancho de pesca. Se a pescaria fosse farta, saia vendendo em um carrinho de mão pelas ruas da cidade.

Após o almoço, retornava a pesca profissional, mas de fundo esportivo. Na frente de sua casa, mantinha um estaleiro forrado com folhas de coqueiros diversos, porque nos arredores da cidade não tinha a famosa palmeira "Guaricanga", que seria a mais indicada, por ser comprovadamente a mais forte e durável, usada também na cobertura de ranchos de pesca, e casas dos pescadores. As vezes, usava treliças de bambu, um pouco mais trabalhoso, formando uma espécie de jirau para secagem de peixes. O arrastão raspa tudo do fundo mar, depois da escolha, são descartados os peixes pequenos, sobrando os chamados de "miuçalhas".

Aí, Zé Capão passava um pente-fino nessas miuçalhas, fazia a devida limpeza, salgava e ia para o estaleiro secar ao sol. Na roda de pescadores, simplesmente Zé ou Zé Vieira. Mas, às vezes escapulia... Zé Capão, ele nada respondia. Os seus locais prediletos de pesca eram: Boca da Barra, no centro, Pedra do Cabo, na Prainha do Matarazzo e o Cais do Porto. Os peixes preferidos para pescar eram: Robalo, Bagre-Cumbaca, Bagre-Amarelo, e as valentes Pirajicas. No seu roteiro de pesca ia sempre acompanhado de sua mulher, Dona Sebastiana Conceição Vieira Mendes que nasceu em 1913 e faleceu em 20 de dezembro de 1994, mais conhecida como "Tiana do Zé Capão", sua fiel e inseparável companheira de pesca.

Foi em umas dessas pescarias de Pirajica no Cais do Porto que Zé Capão se consagrou com essa célebre frase, ao ferrar uma Pirajica de mais de 6 kg. E a luta travada com o peixe, já passava de 15 minutos, o povão agitado em cima do cais esperando o desfecho. Tiana então, muito nervosa, corria de lado para o outro e aos gritos dizia: leva na escadinha... leva na escadinha do cais! Quando a vara envergou e aponta chegou ao pé, foi quando Tiana gritou: - VAI ESCAPAR... ZÉ! Zé Capão, que suava o topete para tirar a enorme e valente Pirajica fora d’água, respondeu - QUE NADA... TIANA! PASSA O BIROTE, QUE ESSA TÁ NO NALHO DO ZÉ VIEIRA!

A notícia rapidamente chegou a cidade, e por várias semanas não se falava em outra coisa. A frase, rapidamente foi cortada, aproveitando somente, o final, TÁ NO NALHO DO ZÉ VIEIRA. Qualquer um pode usar, desde que tenha praticado uma proeza qualquer, principalmente aqueles que gostam de levar vantagem em tudo. Podem ser momentos esportivos, amorosos, negócios etc. Os jovens caiçaras usavam por qualquer motivo, principalmente quando conquistavam uma garota, aí saiam aos quatro cantos da cidade dizendo: "MULHER COMIGO É ASSIM! CAIU NO MEU PAPO, TÁ NO NALHO DO ZÉ VIEIRA!" Quer dizer que está bem segura, está presa, não sai mais daqui. Esta frase foi usada pelos caiçaras do centro por muito tempo. Eu ainda uso. O Birote é uma corda mais resistente, com mais ou menos 10,00 metros, que os pescadores mais antigos e precavidos, usavam devido à fragilidade da vara de bambu. Essa corda mais grossa, era amarrada em continuação da linha do anzol a partir da ponta da vara, até o pé, onde fica enrodilhada como um coque. Se o peixe for muito grande, joga-se a vara na água, para não quebrar, e fica com o birote na mão, para tentear o peixe até que ele fique cansado. O nalho, que ele se referia, era a linha de nylon, da vara, quê, sendo dele, era mais forte que as demais, impossível do peixe arrebentar.

Zé Capão contava que certa vez, também prendeu 54 pássaros (sanhaços), na cumbuca de um mamão, e quem não acreditar, que pergunte a minha mulher Tiana, dizia "Zé Capão", pois foi ela quem matou os pássaros, e fez um cozido com chuchu e batata. Essa história fica para outra vez, e como esta... têm várias. Contar história de pescador sem cita-lo é impossível.

O escultor, José Demétrio da Silva, contratado pela prefeitura no governo Paulo Ramos, que se propôs a esculpir em concreto armado, uma réplica a partir de uma foto vista de perfil, do pescador Zé Capão, mas não conseguiu. (vejam acima foto de 1946 extraída do livro O Meio Rural - Carlos Borges Schmidt).

A estátua que era para ser esculpida de perfil ficou de frente, e de rosto afilado, quando o de "Zé Capão" era cheio. Foi acrescentada barba cumprida que ele nunca usou. Ele tinha o corpo entroncado, ficou esguio. Eram dois remos, excluíram um. O agasalho sobre os ombros foi substituído por um pedaço de rede. A camisa, era de manga cumprida e enrolada, ficou de manga curta. Acrescentaram calça justa e barra dobrada, quando a dele era folgada e de barra enrolada. Esta escultura, se tirarmos o remo e o chapéu, e acrescentarmos um quepe, transforma-se em uma fiel escultura de um Patrulheiro Rodoviário. Portanto, serve para homenagear quem você quiser, menos um caiçara, e muito menos o nosso Zé Capão. Em matéria publicada no semanário A Cidade, em 04/10/2003, a profª Heloisa Teixeira, acertou o tiro na mosca, quando declarou: olhando a esta estátua, não me vem a memória "Seu Zé", o esguio homem e seu remo, é qualquer um, menos o Seu Zé. Prezada profª Heloisa, será que só nós dois sabemos disso?

Que esta escultura não é do Zé Capão, que conhecíamos e convivíamos, e não têm nenhuma semelhança com a imagem de um caiçara, quer seja ele pescador ou não. Essa escultura não serve para homenagear o povo caiçara, considerando sua estatura esguia, não se vê ali nenhum traço do homem caiçara. Essa escultura nada mais é, do que um Bandeirante segurando um remo mal acabado, que mais parece com uma nadadeira de baleia. No decorrer desses 40 anos pós Matarazzo, mediante o aniquilamento da cultura e costumes caiçaras, e ainda os que estão por vir. Hoje, somos a minoria, e Ubatuba hoje, está mais pra a cultura Mineira, e como a estátua que também lembra um Inconfidente, serve para homenagear os migrantes mineiros. Menos os Caiçaras.


VEJA    A   MATÉRIA  COMPLETA    VIA  LINK :


https://www.ubaweb.com/revista/g_mascara.php?grc=5179

AGENDA DO FINAL DE SEMANA EM UBATUBA SP

 

Atrações culturais marcam o fim de semana de 3 a 5 de março em Ubatuba. Quem estiver visitando a cidade poderá conferir algumas exposições que estão em cartaz e, ainda, prestigiar apresentações musicais e teatrais.

Confira a programação:

Até 5 de março

Exposição “Bigode: Mestre da Madeira”,

Teatro Municipal Pedro Paulo Teixeira Pinto

(conforme funcionamento do teatro)

 

Até 30 de março

A Ilha em Nós

Visitação de quinta a terça-feira, das 9h às 17h

Pavilhão Central na Ilha Anchieta

 

Sábado – 4 de março

16h – Lançamento do Filme Histórias Vivenciadas – registros de 2022

Promovido pela AARCCA

Rancho caiçara – Perequê- Açu

 

20h – Espetáculo Casa Forte

Teatro Municipal Pedro Paulo Teixeira Pinto

 

20h – Projeto Samba de Maria com o Grupo Luara Oliveira e as Comadres

Praça Anchieta – em frente ao Sobradão do Porto

 

Domingo – 5 de março

16h – A Pequena Sereia

Teatro Municipal Pedro Paulo Teixeira Pinto

 

20h- “Música na Praça” com Retreta Maestro Pedrinho

Praça Anchieta – em frente ao Sobradão do Porto


PREFEITURA   DE UBATUBA   SP