quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

FALA CAIÇARA..... Arranhando japonês....


(Trindadeiros - 30 anos depois)

                Quando pequeno, eu escutei falar de uma escola de pesca que, nas décadas de 1950/1960, funcionava na Ilhabela. Mais tarde procurei saber mais detalhes dessa escola. Tratava-se de uma iniciativa católica (semelhante a ASEL e a ALA que nós, os mais “antigos”, conhecemos, em Ubatuba) para proporcionar uma formação técnica-assistencial aos jovens caiçaras. Era também uma ação humanitária. Nessa intenção, na ilha que abriga tantos caiçaras, foi criada uma estrutura básica funcionando como internato, ou seja, de diversos pontos do Litoral Norte, os filhos das famílias pobres eram encaminhados para serem instruídos de forma mais técnica na arte pesqueira. Legal isso, né?

FALA CAIÇARA................Tecendo Tucun



                Eu não vivi  isso, mas teve um tempo em que a linha de pesca de todos os caiçaras era feita de tucum, ou melhor, das fibras entrelaçadas das folhas de tucum.
                Tucum é uma palmeira pequena (ou mediana?) comum nas áreas encharcadas e nas depressões do nosso relevo, onde ajunta água regularmente. Por isso é raro encontrá-la em morros. O seu fruto, abundante em cachos, é um coco do tamanho de uma bola de gude; azedíssima na casca quando verde. Depois de devezado, a casca fica roxa como a jiçara ou o açaí. A carne fica duríssima. Nessa fase é preciso cozinhá-lo. Em seguida, após a quebra, transforma-os em paçoca no pilão. A farinha final, acrescentada à farinha de mandioca, torna-se uma iguaria apropriada para ser degustada com café. É dessa maneira que também outros cocos (pindoba, indaiá, jarobá...) viram paçoca.
                Voltando ao início da prosa, das folhas do tucunzeiro eram retiradas as fibras, torcidas com esmero até se tornarem uma linha única e resistente. Era algo trabalhoso, mas valia a pena! Era necessária à pesca! Hoje não precisa mais desse trabalhão porque a indústria está avançada. Basta ter dinheiro! Porém, não nos esqueçamos do valor cultural dessas pequenas coisas.