domingo, 5 de junho de 2022

PERSONALIDADES UBATUBENSE ........ ANO 1896

 



FONTE............ALMANARC  O ESTADO  DE SÃO PAULO  PARA O ANO DE 1896

DEZ ANOS DEPOIS....

 

A imagem aqui compartilhada é de uma matéria anterior, do mesmo blog CoisasdeCaicara, do amigo José Ronaldo, aqui

Nesta semana, em 1º de dezembro, foi o aniversário do nosso caiçara Mané Hilário. Fui visitá-lo por volta das onze horas, pensando que o encontraria acordado, mas... só pude contemplá-lo no seu pesado sono. A comadre me informou que agora ele está ficando menos tempo na cadeira, está dormindo mais, mas tem muitos momentos de lucidez. Até pediu uma festinha de aniversário, com cantoria se possível. Isso demonstra que, apesar dos efeitos colaterais dos remédios fortes que toma, o bom velhinho continua sabendo o que quer, tem clareza daquilo que está ao seu alcance.
                Voltei no tempo. Há dez anos, por ocasião da entrevista que gerou o artigo publicado na Enciclopédia Caiçara (Vol.4), assim disse o nosso personagem querido:
                “Eu sou de 1908;  1º de dezembro de 1908. Eu nasci numa casa na rua Dr. Esteves da Silva [...] Dancei muito baile. Onde tinha baile eu tava rente. Hoje não posso mais; a perna não ajuda. Hoje eu gosto de vê. O coração dá umas mordidas, mas...o que vou fazê? Não posso mais, né? O que os olho não vê o coração não sente, mas eu gosto de tá olhando. E... tudo acaba!”. Ou seja, aos 93 anos, naquela ocasião, o Mané Hilário já aceitava numa boa as limitações do corpo. Imagine hoje, aos 103 anos!
                Parabéns às pessoas que fazem de tudo para que o nosso pescador descanse enquanto os ventos cantam no traquete. Fica a certeza de que muitas coisas jamais saberemos e que existem muitos fios soltos cujas pontas não poderemos nunca achar.

UM FUNCIONÁRIO PÚBLICO EM APUROS...

 

Bem cedo olhei a imagem do Tio Dico, no rio da Praia do Puruba, consertando peixes depois de uma redada, ainda trabalho comum na comunidade. Ao mesmo tempo me defrontei, na leitura de Joatão e a ilha, com a passagem onde os amotinados do presídio da Ilha Anchieta (21 de junho de 1952) alcançaram a Praia da Justa e encontraram o posto do telégrafo que ali existia. (Lembre-se que eram sessenta e um homens que desembarcaram no canto da Praia do Prumirim e foram andando pelas matas e praias). O pai da saudosa Maria Balio (nossa vizinha no Sapê), tio-avô do Tio Dico, era o funcionário local que foi obrigado a conduzir o grupo pela trilha em direção a Paraty. Deles - Maria Balio e Tio Dico - eu escutei várias vezes o episódio seguinte que o autor transpôs para o romance. Nele, o telegrafista caiçara recebe o nome de Sidônio.


       Passaram a prainha, na ponta da Praia de Ubatumirim, toparam com a linha telefônica e o posto telefônico ali instalado. Voltada para a praia a velha igreja, de paredes avermelhadas, envelhecendo com o tempo.
      Joatão correu. Não podia afastar-se dos acontecimentos. Quando adentrou a sala de transmissão já Lino berrava ao apalermado funcionário da telefônica:
     - Deixa de ser besta, homem. Quero falar já-já  com Parati.
     O funcionário, atordoado, complicava:
     - Por favor: o número do assinante.
    - Não sei número nenhum. Liga para qualquer um!
    O bolo de presos armados, tumultuando o pequeno compartimento do posto, aumentava a tensão e tornava o operador mais apavorado [...] Terminado o quebra-quebra, os chefões retornaram a picada. O caiçara Sidônio assistiu tudo, inteiramente coberto de desconfiança. Poderia ter fugido, mas as pernas não obedeceram. Recebera algum dinheiro para ser guia.
    - Tocar pra frente, Sidônio - bradou Lino - É agora que vamos seguir a linha telefônica?
    - Sempre por baixo dela - Sidônio via-se condenado à submissão.
    - Todos na picada embaixo do fio - Ferreira e Lino ajustavam os refugiados confusos - Vamos em fila bater firme a picada! Quem cair de fracote, fica. -Os molóides, cabras de saia, não vão ser ajudados. Ninguém vai ser burro de carga!
    Os alienados afastaram-se da Praia de Ubatunirim, entraram pela região de lavoura - o sertão, de muita roçada: plantações de banana, mandioca, feijão - até o pé do morro, o primeiro da Serra de Parati.

    Em 1981 eu me aventurei em percorrer o mesmo caminho daquele grupo de fugitivos. No Sertão do Pasto Grande encontrei um guia. O saudoso Mané Grande encarregou o neto, uma criança de 10 anos, a me acompanhar morro acima. Depois de muita subida, encontramos um homem trabalhando num roçado. Era irmão do Lacerda, um líder político esquerdista da cidade de Ubatuba. Ali passei o resto do dia em prosa, aprendendo muito sobre o percurso e as histórias mantidas por ali, sobretudo do período dos governos militares, da Ditadura Militar, entre dois ou três moradores existentes naquele tempo. No fim da tarde retornei pelo mesmo caminho, sempre em companhia do menino que hoje nem me recordo do nome, mas a quem devo muito pela companhia.

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Praia das Toninhas - cidade de Ubatuba. Década de 60

 

Praia das Toninhas - cidade de Ubatuba. Década de 60