quarta-feira, 14 de abril de 2021

DONA VIRGINIA LEFÉVRE - PARTE 5

 

Crianças e alimentação escolar


     Dona Virgínia, além da escolarização em pontos de norte a sul, também envolveu as famílias e seus problemas, pensou na economia, na saúde etc. Me parece que, mediante as preocupações dessa mulher, movimentadas há mais de setenta anos, nós somos questionados em nossas ações e/ou omissões diante das iniciativas comunitárias e da valorização das nossas coisas de caiçara. Tomemos como exemplo as iniciativas dela que foram muito além da escolarização. Podemos e devemos agir, com certeza! 


A escolinha, afinal, começou a funcionar em 1946, na praia do Itaguá, a quatro quilômetros de Ubatuba, num terreno doado pelo Sr. Bráulio Santos. E os alunos sempre encheram a modesta sala de aula, não raro ultrapassando o número legal de quarenta. Como tinham parentes em Caçandoca, estes vieram pedir uma escola também. Esta foi inaugurada em 1949. No ano seguinte a Prefeitura de Ubatuba autorizava a instalação de outra no Camburi, de uma quarta na praia da Almada, em 1951, e mais uma em 1954 no Sertão de Ubatumirim, longínquo e isolado. Todas foram construídas e são mantidas pela S.P.E.S., sendo que a municipalidade de Ubatuba paga os ordenados das professoras nas três últimas e o Estado, nas duas primeiras. Em 1953 a Sociedade passou a receber subvenções do Estado, por ter sido declarada de utilidade pública. O programa das escolas é uniforme, idêntico, aliás, ao de qualquer Grupo Escolar, e elas recebem visita anual do Inspetor Estadual. Em 1955 tínhamos duas dezenas e poucas crianças em cada uma delas (por falta de auxiliares, minhas estatísticas são muito falhas). 

 

Mas nossas escolas não se limitam só às crianças e à sala de aula. Cuidam também dos adultos, alfabetizando-os à noite, ensinando as mulheres a costurar a máquina e preparar alimentos mais sadios; distribuem aos pescadores fios para as redes e peças para os barquinhos que eles próprios constroem; aos lavradores dão formicida contra a saúva, ensinando-os a diversificar suas culturas e fazendo distribuição de sementes e remédios. Esse auxílio abrange umas seiscentas pessoas, atualmente.

 

Há pouco tempo, a Sociedade realizou um concerto beneficente e, com a renda, comprou um motor para um dos barcos, a fim de que os homens do Sertão de Ubatumirim possam levar víveres para vender aos caiçaras do Itaguá mais barato do que os armazéns de Ubatuba. 

 

Texto   de  Jose Ronaldo

FONTE.........http://coisasdecaicara.blogspot.com/2021/04/muito-alem-da-escolarizacao.html