Mergulhando a fundo
nos documentos referentes a região da Praia da Enseada e Ilha Anchieta,
encontrei vários registros de terras datados da segunda metade do século 19.
Estas escrituras de
terras denominam a localidade como "Enseada dos Tubarões".
Estes documentos podem comprovar que as antigas "histórias de
pescador" que narram encontros titânicos com enormes cações na região da
atual Enseada do Flamengo e Ilha Anchieta eram 100%
verdadeiras. Relatos de canoas abocanhadas, pescadores desaparecidos e também
de presos "vigiados" e impedidos de escapar à nado do presídio da
Ilha Anchieta pela grande quantidade de tubarões no canal do Boqueirão, podem
refletir nada mais que a realidade.
Estes encontros eram tão frequentes que até existiam técnicas especiais
para escapar de um ataque das temidas tintureiras, anequins ou galhas pretas,
espécies mais agressivas.
Estas técnicas incluíam a cor da pintura do fundo da canoa; o ouvido atento
ao "choro de bebê" carcterístico de um ataque eminente,
após o qual todos se deitavam em absoluto silêncio no fundo da canoa; e a
técnica de abandonar o banco da canoa juntamente com os restos de isca e sair
remando muito silenciosamente.
Neste mesmo período, por volta de 1856, relatos de navegadores ingleses já
utilizavam dupla denominação para nossa Enseada, um dos quais
traduzo: " Mais abaixo para o oeste está a Ilha dos
Porcos entre a qual e o continente encontra-se um confortável
ancoradouro chamado Baía dos Flamengos, de outro modo
chamada Shark's Bay."
No entanto outro livro de 1820 chamado "Memorias Historicas do Rio de
Janeiro" registra: "Defronte da ilha (Anchieta) está a Enseiada
dos Tubaroens, boa, limpa e capaz de navios grandes".
Uma coicidência, é o fato de que o nome antigo da cidade de Ubatuba
era Iperuig, que significa em tupi: água dos tubarões (iperu=tubarão, y=água/rio).
Abaixo uma foto da Praia da Enseada em 1950, mostra como podem ter sido um dia
estas águas qualhadas de tubarões.
foto: Família Prochaska.
ATUALIZAÇÃO EM 4 DE MARÇO DE 2019:
No ano de 2015,
colhendo relatos dos pescadores locais para o meu mestrado entrevistei o Mestre
Tião Lourenço pouco tempo antes dele falecer e registrei este maravilhoso
recorte do Tempo Antigo:
Nos contam os caiçaras da Praia da Enseada que, de primeiro,
no tempo dos antigos, ainda existiam grandes peixes capazes de
“comer gente”:
Olha, eu ainda
consegui vê muito cação ali né... Naquele tempo...
que nem, pra gente tomá banho, precisava o pai da gente ir olhá a gente tomá
banho né, por causa de cação ou mero... [...] As vez a gente
ia espalhá cana lá no morro (do Porto Velho), a gente via o cação passando
assim, com a água clara assim (faz gesto), você via ele assim rente à
costeira... andando (nadando)... botava até a galha pra
fora né... Aquele anequim do branco então... aquele cardume
assim, atrás do outro assim, 4, 5 que você via né... Esse anequim azul passava,
as vez a turma largava a rede, rasgava tudo a rede da turma...
Então o pessoal tinha até medo né, de saí de canoa, saía com medo porque, é...
Que nem a tintureira (tipo de cação) memo, a tintureira tinha cada
uma (grande porte) que você via passando aí... E ela (a tintureira)
ficava “de pé” debaixo da canoa gemendo... Ah ela geme... ela faz hummmm, hummmm...
Daí o cara ficava quietinho assim... pra remá assim... quietinho, quietinho pra
podê chegá no porto. (OLIVEIRA FILHO, 2015, comunicação pessoal)
Postado por Peter Santos Németh - O
Alemão
DOMINGO, 25 DE NOVEMBRO DE 201
FONTE.......https://canoadepau.blogspot.com/