quarta-feira, 19 de maio de 2010

1979 - MAZZAROPPI EM UBATUBA



Mazzaropi na gravação da "Banda das Velhas Virgens", de 1979. A  maior parte do filme foi gravado em Ubatuba, principalmente na Praça da Matriz (foto) e no interior da Igreja da Matriz. Foi o  Penúltimo filme do Chaplin brasileiro. Mazzaropi , foi sem duvida um dos maiores comendiantes que o Brasil já teve, ao lado de Oscarito, Grande Otelo, Chico Aniso entre outros...


UBATUBA ANTIGA .....Padaria Popular


Sinceramente eu não seid e que ano é esta foto, sei que hoje no lugar da antiga Padaria Popular, hoje temos a Loja da Esquina das Modas, localizada na Praça Nobrega ...Quem souber de que ano é esta foto , favor informar através do e - mail : silcefon@gmail.com 
Tempos de ouro que não volta mais , eu ainda criança cheguei a comprar pão nesta padaria, era sempre bem atendido, minha mãe me leva pela mão, eu segurava a sacola e enquanto ela era atendida eu ficava olhando as balas e as diversas gulosemas, ficava com aquela famosa " carinha de pidão", e é claros empre ganhava algumas  balas...

VELHOS CAIÇARAS ....Texto de Eduardo Souza (UbaWeb)

"... pois são sempre aqueles poucos que buscam Deus que funcionam como o sal da sociedade" (Seyed Hossein Nasr)




Milan Kundera diz que: ..."Dom Quixote saiu de sua casa e não teve mais condições de reconhecer o mundo. Este, na ausência do Juiz supremo, surgiu subitamente numa terrível ambigüidade: a única Verdade divina se decompôs em centenas de verdades relativas que os homens dividiram entre si. Assim, o mundo dos Tempos Modernos nasceu..." (A Arte do Romance, Edit. Nova Fronteira) Por que citar aqui o escritor tcheco? Para me dirigir ao amigo Ezequiel dos Santos, que luta, lá pelas bandas da região sul de Ubatuba, o bom combate para manter viva a memória daquela cultura em que fomos forneados, e lhe dizer que seus textos, no jornal Maranduba News, sobre a Tia Maria Gorda e o Chico Romão, transportaram-me à infância, fizeram-me refletir sobre a cultura caiçara, sobre os velhos caiçaras e lembrar de minha vó materna.



Penso que uma palavra resume bem o que foi essa cultura: religiosidade. A religião católica tradicional, com sua riqueza de rituais e símbolos. Sem esquecer do sincretismo, da herança de negros e índios. Basta pesquisar as danças e outras manifestações que hoje fazem parte do folclore. Lembro-me de que, nas casas, fossem elas de alvenaria ou de pau-a-pique, os oratórios ocupavam um canto privilegiado da sala ou do quarto, todo enfeitado, cheio de imagens dos santos da devoção, a Virgem Maria, o crucifixo ao centro, a vela e um vasinho com pequenas flores colhidas no canteiro da casa. Na casa de vó Maria, o oratório era no quarto, e havia, dentre tantas, uma pequena imagem de um santo por quem tenho simpatia até hoje: São Benedito. Praticamente todo o folclore caiçara tem um fundo religioso, católico.



Aquele universo caiçara, de comunidades isoladas do resto do mundo, incrustadas em sertões e praias de difícil acesso, tinha um Juiz supremo, a Verdade, que permitia discernir o Bem do Mal, que estribava a existência e que permitia consolidar uma comunidade. Hospitalidade, generosidade também são palavras plenas de sentido quando me lembro das casas caiçaras em que fui recebido desde a infância até boa parte da juventude. Nas casas mais humildes sempre havia para a visita um café com farinha de milho ou com peixe seco assado nas brasas de um fogão à lenha. Naquele universo havia ordem e hierarquia. Os velhos eram estimados. Não havia necessidade de um código do idoso para que lhes reconhecessem a dignidade. Era prudente ouvi-los. Respeitava-se também a parteira, a benzedeira, o padre e a professorinha, espécies de autoridades naquelas praias e sertões.



Quando se perscruta o rosto de um velho caiçara, como o de Chico Romão, na foto publicada no Maranduba News, o que se lê? Há ali uma sabedoria esculpida na lida com a terra e o mar. Expressão de uma cultura resultante do enfrentamento e dominação da natureza, de um sentido para o sofrimento alicerçado na fé. Não quero de modo algum dizer que todos os velhos caiçaras que conheci eram repositórios de sabedoria, não, havia aqueles que cerziam e condimentavam a vida da comunidade com a alegria, com o humor dos causos, com o pitoresco de suas vidas: Zé Capão, Sidônio, Macuco, Dito Olinto, Pica-Pau, Santinho, Chico Sapo, Chico Alves, Lindolfo, dentre outros, foram alguns desses personagens.



O texto do Ezequiel também me fez recordar minha avó materna, Maria Amaro de Oliveira, sentadinha num banco de madeira, à beira do fogão de lenha, a acolher os netos na "barra da saia" - porque nós, os netos, na iminência de um castigo por alguma peraltice, corríamos para ela - e a contar histórias dos tempos dos bugres e dos escravos lá para os lados da Praia Dura. Vó Maria era comadre e madrinha de meio mundo e a todos recebia em sua casa. Foi nessa humilde casa, de porta sempre aberta para a rua, que tive meu primeiro contato com algumas manifestações que hoje fazem parte do folclore como a Dança de São Gonçalo e o Xiba. Era também naquela pequena sala que ela recebia a Folia do Divino, cujos integrantes nunca deixavam de visitá-la. Morreu com pouco mais de 100 anos. Tinha os olhinhos pequenos, mansos, usava sempre um vestuário de luto pelo marido, meu avô Bento Paulista, exercia, só com um aceno ou um lance de olhos, aquela autoridade matriarcal que as mulheres de hoje já não têm mais e em cada ruga de seu rosto esplendia essa sabedoria que se norteia na caridade e na fé.



"Pois é, o tempo tá virando!" - disse o Chico Romão à filha, antes de morrer. Pois não é que virou, Ezequiel. Um tempo terrível, um sudoeste bravo, que entrou com suas nuvens plúmbeas e que permaneceu sobre estas terras até hoje. Mas esse vento veio de longe, Ezequiel, dos confins do mundo, virando tudo de pernas pro ar, relativizando tudo, afastando o Juiz Supremo, entronizando idéias cujos frutos hoje estamos colhendo. O homem se colocou no centro do universo e reduziu a vida ao econômico e ao político, ao dinheiro, ao partido, à ideologia, à imanência, ao hedonismo.



Esse vento trouxe o fim da nossa cultura. Chegou por aqui pelos meados do século XX. Acabou com a tradição, com a hierarquia, com a ordem, com a família. Trouxe-nos os bezerros de ouro da modernidade para adorarmos. Deu-nos também a angústia generalizada. O sentido da terra reduziu-se ao valor monetário. A explosão imobiliária introduziu a onipotência do dinheiro. Simone Weil diz que "... o poder do dinheiro e a dominação econômica podem impor uma influência estrangeira a ponto de provocar a doença do desenraizamento"; que "o dinheiro destrói as raízes por onde vai penetrando, substituindo todos os motivos pelo desejo de ganhar"; que o dinheiro "vence sem dificuldades os outros motivos porque pede um esforço de atenção muito menor" e que nada é mais claro e simples que uma cifra. Veio também, nesse tempo, o ciclo do turismo e da construção civil, a imigração desenfreada com sua mão-de-obra barata; a energia elétrica, o telefone, a televisão, o contato com uma classe média paulistana infectada de modernidade, o tombamento da Serra do Mar e a Polícia Florestal; as novas seitas religiosas, a nova teologia da prosperidade, de igrejas compradas prontas e a relação mercantil com a fé. O caiçara experimentou de tudo e ficou com o que havia de pior. Hoje somos espécie em extinção, um reduzidíssimo cardume de tainhas posto numa lagoa artificial e rasa.



FONTE :   www.ubaweb.com

Nota do Editor: Eduardo Antonio de Souza Netto é caiçara, 57, prosador (nas horas vácuas) de Ubatuba, para Ubatuba e urbi et orbi.

REVIVENDO AS TARDES DE DOMINGO



Tardes calmas de verão. Tardes de domingo ensolaradas, de céu irrepreensivelmente azul. A brisa marinha incessante a brincar com as gaivotas sobre o Atlântico e a suavizar o calor dos corpos acomodados sobre a relva na beira da praia do Cruzeiro, naquele trecho entre a cruz e as imediações defronte o prédio da antiga Câmara Municipal.




Aqui e ali, grupinhos de jovens ou de adultos a prosearem. Mais afastados, casaizinhos de namorados. Eram tempos de pudor e recato em público. Na sombra das amendoeiras, os que mergulhavam nas páginas de um livro ou de um jornal. Mais adiante, um ou outro que escutava, no radinho de pilha portátil, Mitsubishi, a transmissão, em ondas curtas, de algum jogo do campeonato paulista de futebol. Eram tempos de Pelé e Ademir da Guia. A certa altura, de enormes caixas acústicas, instaladas nas cercanias pelo Gustavinho Skiendzel, o som agradável, de excelente qualidade para aquela época, pervagava a tarde com as músicas que fizeram a trilha sonora daquelas gerações: The Beatles, Sergio Endrigo, Nico Fidenco, Gilbert Becaud, Ray Charles, Wilson Simonal, Rita Pavone, Vanderleia, Roberto e Erasmo Carlos e por aí afora. E nós ali, não sentados à beira de um caminho, mas à beira da praia, naquelas imensas tardes de domingo.



Tardes de domingo preguiçosas. O tempo passava lento, planando como as fragatas nas correntes de ar pelo azul do céu. Bem cedinho, à igreja. Depois, à praia. Após o almoço, o Cine Iperoig ou a beira da praia do Cruzeiro. Exceto quando havia algum jogo de futebol importante no campo do Perequê-Açú. Um ASDER versus Diabos Rubros. Aí, então, a cidade baldeava-se àquele bairro para assistir aos nossos craques da bola. E tínhamo-los em pencas: Nédes, Novato, João Gonzaga, Toninho e Dedé Medeiros, Zé Antonio, Wilson Guimarães, Joanilson, Tuta... Dava gosto vê-los jogar. Eu era torcedor do Diabos Rubros. Um timaço, treinado pelo Ari Cunha e depois pelo saudoso amigo Helio Stefani. Nédes, Wilson Guimarães e Toninho Medeiros, talvez, os três maiores craques do futebol ubatubense.



Naquelas tardes, as proximidades das laterais do gramado do campo de futebol ficavam tomadas pelo público. Homens e mulheres, dos mais abastados aos menos favorecidos, pessoas de todas as idades, e todos se conheciam. Carrinhos de pipoca e, circulando entre o povaréu, garotos a vender pirulitos em tabuleiros e, em cestas de taquara, amendoim torrado ou pinhão cozido. Fogos de artifício, rojões, a partida havia terminado, a tarde chegava ao fim, saltava o alambrado da Serra do Mar. As pessoas, então, retornavam para suas casas, alguns de bicicletas, a maioria à pé, em grupos, e riam e tagarelavam, respeitosos e descontraídos. Penso que não lhes passava pela alma a idéia de que aquelas tardes de domingo eram reflexos de uma comunidade coesa na alegria e no sofrimento, de que tinham uma história e uma cultura comum que as identificava e as unia e de que um dia aquelas tardes de domingo em Ubatuba não se repetiriam nunca mais.


CORTESIA :


Nota do Editor: Eduardo Antonio de Souza Netto é caiçara, 57, prosador (nas horas vácuas) de Ubatuba, para Ubatuba e urbi et orbi. - COLUNISTA DO SITE : http://www.ubaweb.com/
 


MEMORIAS DE UMA FIGUEIRA


Mamãe morrera de velhice, mas deixou minhas doze irmãs. Éramos muito unidas, vivíamos sempre juntas... Na infância quase perdemos uma de nossas irmãs, Amélia, a mais nova. Um veado comeu-lhe os braços, mas conseguiu sobreviver... Na adolescência já sobressaíamos sobre as demais e éramos ainda mais felizes, pois todas enxergavam todas. Ficamos adultas e por muito tempo continuávamos felizes. Lembro-me do canto das arapongas, das baitacas, dos surucuás... Macucos, jacus e urus, dormiam em nossos braços. Um dia um tucano trouxe lá das bandas do Jundiaquara uma semente de jatobá e largou ali bem pertinho de nós; brotou e rapidamente cresceu. O jatobá não podia ouvir o coaxar das pererecas que ficava todo afoito, pois sabia que dentro de um a dois dias viria chuva e ia crescer um pouco mais. Cresceu formoso até o ponto de não me deixar mais ver o cantinho da praia do Itaguá... Fiquei triste, mas me acostumei.







Vi brotar mais ao norte, não sabia bem o que era; não se mexia nem com noroeste, nem com sudoeste... era diferente, mas muito bonita. Na parte alta era vermelha, meio alaranjada, depois ficou escura. O branco e azul, às vezes ficavam desbotados, mas sempre se renovam e permanecem até hoje. Bleeeem bleeeem, bleeeem bleeeem, bleeeem bleeeem... era a única que produzia um som melodioso a ecoar pelo ar... Cresceu outra, ao lado, bonita também, cor-de-rosa com azul, mas não fazia o blem blem blem.







A partir daí começamos a nos sentir ameaçadas e logo a primeira fatalidade veio a nos acontecer. A duros golpes, Rosália faleceu, depois Amélia, Glorinha, Fernanda, Júlia. Mais tarde vieram a falecer: Maria José e Aurora. Mortes pior tiveram Ana Maria e Josefina, tiraram-lhes do seio da terra e deixaram morrer de sede. Iracema teve mais sorte, tentaram preservar sua vida ao máximo, mas sabíamos que sua vida estava por pouco... não tardou, abraçada com Juvenal, um velho indaiá, também se foi; estes morreram não faz muito tempo lá no meio da Rio Grande do Sul, um pouco depois da esquina da Mato Grosso.







Voltei a ver o cantinho da praia do Itaguá pois o jatobá também morrera...







Entendo o calor do verão, o frio do inverno. Entendo a rajada dos ventos e os raios que precedem os trovões. Às vezes entendo até o progresso... Só não entendo a fúria da ganância dos homens!!!







Ainda restam: Bernardina, que mora lá no caminho do Perequê-Açú onde ficava a casa do Sidônio e a Georgina que mora lá na Prainha do Matarazzo. Estas estão mais seguras do que eu!!! Estão elas muito longe de mim, já não as vejo mais, pois as árvores de pedras nos tiraram a visão... perdemos total contato.







E eu??? Eu ainda estou aqui, na Cunhambebe, em frente à casa da Alcina do Isaias Alfaiate, resistindo ao tempo, ao progresso, a poluição, ao efeito estufa... Estou aqui até não sei quando, mas com certeza tenho vontade e força para viver por mais cem ou duzentos anos. Estou feliz, muito feliz!!! Os pássaros continuam a me visitar, as bromélias continuam sendo casa de pererecas e nunca me deixaram; samambaias, orquídeas e outras parasitas sempre me fizeram companhia... Não sinto solidão! Sempre tive a companhia das crianças... As crianças sempre fizeram parte da minha vida. Julinho, Marcinho e Helinho do Isaias; Zezinho, Olinda, Eliseu e Flávio do Ximinguinho; Nivaldo e Elenice do Domingos Mariano; Isaias, Nenê e Mamaco do Valmor; Luiz Carlos (Nacuia), Cida, Fernando e Emerson do seu Aquino; Antenor, Manequinho e Celso do seu Oscar; Carlito, Fatinho e os demais filhos do Boca Rica; Eliseu e Elias da dona Cacilda; Mesquitinha, Vicente, Dedé e Toninho do Zé Tibúrcio; Cícero, Sérgio e Eugênio do Trianon; Celsinho do Dominique e o Silvinho Brandão (hoje vereador) e ainda muitos outros daquela época; foram crianças que brincavam ao meu sombrear e que hoje são homens e que se esqueceram de mim.







Não faz mal, muitos esqueceram de mim! Aliás, gerações e gerações!!!







As crianças permanecem, hoje tenho mais crianças ainda, ou melhor, hoje tenho uma ALDEIA, uma TABA de crianças.







Enquanto houver crianças serei feliz. Enquanto houver crianças terei a certeza de minha existência. Enquanto houver crianças sempre hei de ser UMA GRANDE PRINCESA, porque as crianças são puras e entendem muito mais que os adultos a importância da vida de uma árvore.





AUTOR :   Professor JULINHO MENDES - CAIÇARA  DE UBATUBA-SP