quarta-feira, 4 de julho de 2018

ATENÇÃO NO RUMO..........

 Aproveito sempre o silêncio do dia que começa para me recordar de muita gente boa, de pessoas que estão em outros lugares: alguns próximos, outros distantes. Quantos dividiram comigo momentos maravilhosos!?! Se ficaram na memória, é sinal que dividimos coisas do nosso ser; que a nossa comunhão abriu caminhos neste mundo. Neste momento me lembro de um trecho da música do caiçara Francisco Alves da Silva, o Chico Arves: “Companheiro me ajude/ que eu não posso cantar só./ Eu sozinho canto bem,/ com você canto melhor”. E me recordo das rodas de prosas dos caiçaras pelos jundus das praias. Nesta semana, mais um desses proseadores nos deixou: trata-se do Luís Carlos, da praia do Perequê-mirim. De acordo com a comadre Luzita: “Ele morreu pela falta do pai, pois desde que a mãe faleceu há muitos anos, os dois viveram juntos. Agora, tem menos de um mês que o pai se foi. Ele perdeu o companheiro de toda vida, não aguentou, morreu nesta madrugada”.

             O Luís Carlos era quem cuidava da praia do Perequê-mirim. Assim que o dia amanhecia, ele já estava rastelando e carregando tudo aquilo que encalhava no lagamar: folhas, galhos, lixo plástico, vidros etc. Fez isso por décadas. Assim, a areia continuava agradável de se ver, convidativa para nossas caminhadas. Numa dessas ocasiões, eu permaneci com ele e o Oliveira por mais de uma hora conversando  no porto do Pedro Cabral, recordando de tantas coisas da gente.


                       Testemunhar uma vida chegando a este mundo é uma experiência maravilhosa! Maria Eugênia e Estevan são as nossas realizações máximas, né Gal? Vovó Martinha, a parteira, contava detalhes engraçados e/ou impressionantes: “Sinfrônio, o Velho, sofria as mesmas dores da sua mulher Maria. Era como se ele também estivesse esperando um filho naquela barriga murcha. Até vomitar vomitava o coitado. Desde o Pulso até o Saco das Bananas não tinha quem não se impressionasse com o sofrimento dos dois. Tudo se acabou quando eu peguei a criança, numa madrugada de um domingo, numa época de tainha. Pai e mãe voltaram ao normal, aquelas dores se foram, a criança cresceu, a vida continuou”. Creio que os mesmos sintomas acompanham  a perda de uma vida. É, a vida é assim! As pessoas passam em nossas vidas, nós passamos nas vidas das pessoas. Edirani Lopes assim se expressou: “Sinto saudades de pessoas que nem imaginam o tamanho da falta que me fazem”.          E, com certeza, cada uma dessas pessoas deixou um pouco dela e levou um pouco de nós.  Oliveira, o velho caiçara da Fortaleza, naquela manhã de prosa no jundu, junto com o agora saudoso Luís Carlos, disse: “A vida continua. Eu sigo remando nela com a minha canoa até que este corpo aguente ou que nenhuma tormenta me alague. Não pretendo desembarcar tão já. Só presto atenção no rumo que vou tomando”.     

A LENDA DA CRUZ DE FERRO






               Meu tio Salvador sempre gostou de cantar umas músicas singulares, dessas que raramente escutamos por aí. Ele tem prazer em continuar repassando aquelas músicas que contém letras interessantes, que falam de fatos históricos e de causos da nossa gente. Foi por uma cantoria dele que eu me interessei pela Cruz de Ferro, na subida da serra, em Ubatuba. Hoje dizem que é lenda.