segunda-feira, 31 de agosto de 2020

É COISA ANTIGA, ESTAIS VENDO?

 

Prainha do Doca, entre as praias Dura e Vermelha (Arquivo JRS)
É costume meu, sobretudo quando estou nas minhas caminhadas, prestar mais atenção nas coisas. No meio do mato, então, reparo ainda mais em tudo! Tem detalhes interessantes nesses caminhos, nas trilhas deste chão caiçara, pelos lugares que ainda estão preservados dos invasores, das ocupações humanas. Tem ruínas de antigas fazendas, tem divisas de terras... É possível avistar árvores que imagino serem ainda do tempo dos tupinambás, grutas de pedras que podem ter vestígios da pré-história... Tenho certeza que essa nossa exuberante mata, com seus frutos, aves e animais, além de nos equilibrar, guardam remédios essenciais a serem descobertos.


Herança dos antigos (Arquivo JRS)


                

                Quando eu me aventuro em caminhadas, sobretudo pelos caminhos de servidão, busco sinais de antigas ocupações, de cavas de casas e de árvores frutíferas. São os sinais mais evidentes de que outras gerações passaram por ali. E quase sempre me atenho ao chão, buscando restos de alguma coisa capaz de revelar algo mais.  Influências? Sim, quando crianças, ao ir com o meu pai cortar bambus na Prainha do Doca para a construção da nossa casa no morro da Fortaleza, me entusiasmei com o único morador dali. Ele nos levou mais para dentro da mata, de onde vinha um rio capaz de me encantar como todos os rios daquele tempo. Depois de um poço (onde o correr das águas, com o tempo formou um lugar fundo), ele nos conduziu a um espaço plano (uma cava no morro), com tijolos ainda inteiros e cacos de telhas. “É coisa antiga, estais vendo?”, esclareceu ele. “Algumas telhas lá de casa foram daqui. De vez em quando, quando preciso de tijolos, venho aqui buscar. Dentro do poço, ali embaixo, existe cacos interessantes, mostras do que possuía e fazia uso alguém que viveu aqui”. Meu pai também achou interessante tudo aquilo. Passamos aquele dia ali, cortando bambus, pois na semana seguinte o Getúlio, um caminhoneiro que buscava mensalmente as cargas de bananas nas praias (Brava e Fortaleza), distante uma légua dali, faria o favor de levar os bambus para o nosso trabalho, a nossa obra. No final, o pessoal terminaria a nossa nova moradia num animado pitirão.

                Daquela nossa casa não restou nada porque era pobre e outra lhe tomou o lugar. Somente uma mangueira plantada por papai deve estar ainda como sinal da nossa vivência naquele lugar, no morro da Fortaleza, onde começava a Badeja do Tio Custódio. Só posso dizer que, aquela fala do Doca, a sua empolgação para com os sinais na mata da sua prainha, me marcaram para sempre. Espaço de algumas das minhas heranças dos antigos. O que será agora de tudo aquilo?

terça-feira, 25 de agosto de 2020

GUAIÁS NO ASSOBIO..........Um conto caiçara.........

 



Guaiás no assobio de vovô Lindolfo - Julinho Mendes.
Hora do almoço, família reunida, no centro da mesa a guaiazada fumegava. A panela estava cheio de guaiás que eu havia pego na costeira do morro do cais. Como sempre, em toda guaiazada que se preze, não faltou discussão e perguntas: Por que é necessário assobiar para se pegar o guaiá? Mamãe contava uma história, papai, que é caiçara de Caraguatatuba, contava outra e eu, a história que ouvira do meu amigo Eduardo Souza, em “O Canto de Sedução das Sereias”; enfim, nada nos convencia. Vovô Lindolfo (o Prega-fogo), que até então estava quieto, só observando a conversa, falou: — Fui eu quem descobriu que para pegar guaiás na costeira tem de assobiar ! E vou lhes contar a verdadeira história. Surpresos, passamos a ouvi-lo com atenção.
— Éramos seresteiros: eu tocava violino, meu irmão Rodolfo, violão, o Bidico, o bandolim, o Mané Barbeiro, violão de sete cordas, Zé Barbeiro, flauta e o compadre Leopoldo Losada tocava pandeiro. Numa certa noite, o clarão da lua cheia nos convidava para uma seresta, e fomos então para a casa do compadre Zécapão, que nos esperava com batata-doce, mandioca cozida e ova de tainha assada na brasa. A casa dele ficava nas proximidades da campina, onde hoje é a biblioteca municipal, na verdade, a campina era um grande pasto onde o velho Cipriano, o Janguinho, o Filetinho e outros tropeiros, inclusive os de Catuçaba, deixavam descansar seus cavalos e bois.
Tocávamos boleros, valsas, tangos, chorinhos, sambas e tudo que tínhamos direito. Mal começávamos a tocar, devagarinho, aos poucos, além dos convidados e dos penetras, podiam estar onde estivessem, os bois e os cavalos de nossos compatriotas logo iam se acomodando rente à cerca de arame perto da casa. Aqueles animais gostavam das melodias do nosso instrumental, pois davam-lhes descanso, sossego e tranquilidade ... um dia, até um jaracuçu do preto apareceu por lá, enrodilhou-se no pé do mourão e ali ficou apreciando o musical.
Nunca fui de pescaria e nem tinha intimidade com o mar, contudo, naquela noite, a convite do compadre Zecapão, aceitei fazer-lhe companhia para pegar guaiás na costeira. A noite de seresta fora uma beleza, e no outro dia, logo cedo, já estávamos na costeira do caís. Só havia um pau de isca e quem o usaria, é evidente, seria compadre o Zécapão, que tinha toda experiência e vivência com as coisas do mar. Começou a caçada. Enfia o pau prá cá, enfia o pau prá lá, e nada de tirar das tocas de pedras um guaiazinho que fosse. Dizia o compadre que a maré estava muito cheia. No entanto, a maré vazou e depois encheu, e nada de guaiá. Eu já estava de saco cheio em ver o Zé enfiar o pau prá cá e prá lá e nada. Pedi então o pau de isca para fazer uma tentativa. Zécapão, que já estava nervoso, replicou: "Te dou o balaio, mas não te dou o pau de isca!" Peguei o balaio vazio e pensei comigo: Se uma vaca, um cavalo, burro, que é bicho teimoso, e até jaracuçu, vem na melodia de uma seresta, porque que é que pelo menos um guaiazinho não viria na melodia do meu assobio? (modéstia à parte, sempre fui um grande assobiador, herança que deixei aos meus filhos, o BIP, o Pitágoras e o Sabiá). Então, antes de começar a assobiar, dei, no grito, uma acordada na guaiazada: PREEEEEEEEEEEEGA FOOOOGO!!! Aí sim, aí comecei o assovio. Não deu outra, a melodia de “La Cumparsita” ecoou pela costeira adentro, e a guaiazada, já acordada com o berro, se desentocou toda. Foi uma festa! Em dois minutos enchi o balaio. A guaiazada chegou até a brigar para entrar no balaio. Compadre Zécapão, não acreditava no que estava vendo e mandava que eu assobiasse mais. Então, vim assobiando, desde as costeiras do cais, até a barra da lagoa, e quando olhei para trás vi a guaiazada toda, enfileirada, nos seguindo. Aí então tive de parar de assobiar porque senão a guaiazada iria invadir a cidade !... Estão vendo só, meus netos, pescador de guaiá que não sabe assobiar fica só pondo e tirando o pau de isca, e nada de guaiá!
Encerrada a história, pedimos para vovô Lindolfo assobiar a melodia do tango “La Cumparsita”, que já não nos lembrávamos como era, e ele então pôs-se a assovia-la. Não demorou muito, e a vasilha de guaiá cozido que fumegava em cima da mesa começou a se mexer: eram os guaiás que, mesmo cozidos, começavam a dançar tango, dentro da panela.


JULINHO MENDES VIA FACEBOOK

domingo, 16 de agosto de 2020

A HISTÓRIA DO MONUMENTO Á BALEIA JUBARTE DO ITAGUÁ

 


O ano de 2000 foi pródigo em acidentes com baleias no litoral norte de São Paulo, mais precisamente em Ubatuba. Em julho, uma Jubarte, já morta encalhou na Praia do Félix, sendo enterrada nas imediações. Em novembro, outra, dessa vez viva encalhou na Grande do Bonete. Felizmente essa retornou com vida ao mar, com a ajuda de moradores, turistas e técnicos do Instituto Oceanográfico. Mas foi essa outra Jubarte fêmea adulta, de 15,5 metros de comprimento e cerca de 30 toneladas, a fazer história.




No dia 24 de Novembro de 2000, a baleia apareceu morta na região central da Praia Grande, causando imensos transtornos à administração municipal, defesa civil e outros orgãos responsáveis pelo meio-ambiente. As tentativas de devolvê-la ao mar ou transportá-la ao aterro sanitário foram em vão, e mesmo com a ajuda de um rebocador da Petrobrás e seis tratores os restos acabaram ficando durante cinco dias na areia, prejudicando o ambiente e tornando imprópria a Praia do Tenório, além da Praia Grande. Depois de muito protesto de comerciantes, turistas e moradores do bairro, devido ao mau cheiro exalado, decidiu-se enterrar na areia, embora essa atitude também provocasse reclamações. Ambientalistas temiam que o corpo causasse contaminação da praia e do lençol freático. Oito anos depois, a ossada foi retirada, em 08 de Agosto, pela necessidade da construção de obras viárias na região. A operação durou quatro dias. O mau cheiro persistia e atraiu a atenção de muitos transeuntes e moradores.



Na intenção de preservar a história e o patrimônio natural, a ossada foi transportada e remontada onde permanece até hoje, na Barra da Lagoa, próxima ao Aquário de Ubatuba.
Obs.: a primeira foto foi retirada da Internet, não sendo possível identificar o autor. A segunda foi tirada ontem pela equipe do Areias de Ubatuba.

TEXTO .....Pagina AREIAS DE UBATUBA via facebook


quinta-feira, 13 de agosto de 2020

ARCIDÃO, O PINGUIM.....

 


 Há coisa de quarenta anos era comum, no cotidiano caiçara, aproveitar ao máximo a natureza que nos rodeava e a convivência com as pessoas. Todos se conheciam, queriam ficar  juntos sempre. Nos finais das tardes, já nos serões, nas praias, os jovens jogavam futebol ou peteca. Aproveitavam a calmaria, paqueravam, partilhavam histórias. Os mais velhos, na linha do jundu, pelos ranchos de canoas, proseavam sobre o cotidiano antes de se dirigirem para o jantar. Outros chegavam de armar tresmalhos e puxavam as embarcações às áreas protegidas. Poucos passeavam na linha do lagamar: se molhavam até as canelas, um relaxamento ainda seguido à risca por alguns caiçaras e que vem de outros tempos.
                A minha prima Neide era uma dessas pessoas que praticava esse relaxamento. Nunca a vi falhar um serão, mesmo que chovesse. Andava olhando perto e longe; enxergava a linha do horizonte, todas as cores, mas também via cada concha, os buracos dos bichos da praia e os seres que eram novidades. Até um pinguim adotou.
                A simpática ave, trazida por alguma corrente do sul, recebeu o nome de “Arcidão”. Foi uma homenagem ao soldado do mesmo nome que, por alguns anos, sentou praça em Ubatuba . Muitos anos mais tarde, por intermédio do saudoso Ney Martins, eu soube que esse valoroso homem, após a aposentadoria, tornara-se mestre de congada em Jacarei, a sua terra natal. Já a ave se apegou tanto à Neide que, até o quarto era compartilhado: dormia num aconchegante tapete embaixo da cama. Durante o dia, aonde ia a moça, pra lá se dirigia andando de forma muito engraçada o “Arcidão”. Nunca se separavam, exceto quando a Neide precisou ficar fora um mês por conta do curso de enfermagem. A ave entrou em tristeza profunda, não se alimentava mais. A solução foi embarcar numa canoa e soltá-lo bem longe, pois ninguém aguentava vê-lo sofrer. Eu nunca tinha visto sentimento tão forte entre um animal e a comunidade da praia da Fortaleza. Duro foi sofrer depois com o sofrimento da Neide.

SAUDADE SERVE PARA........

 


                Como os causos que contou,
                Era todo paladar
                Como o pirão que provou,
                Era todo caiçara
                Como o povo que amou,
                Era todo coração

                Em 7/12/2007, quando o dia amanhecia, João de Souza, “o caiçara do pé rachado” nos deixou. É a ele que a poesia do Domingos faz referência.
                Foi um duro golpe, sobretudo pela nossa amizade, pelos causos contagiantes e pelo ser caiçara que ele era. Infelizmente muitos sequer têm noção de quem ele era, onde morou... Imagine então conhecer os seus causos - os que ele teve oportunidade de escrever!
                Desconfio que o causo de hoje ele não escreveu. Dele eu escutei quando fazia um serviço de pedreiro no Camping do Velho Rita. Os personagens são: Sebastião Rita, o pai do nosso saudoso João, e, João de Paula, o caiçara hippie. Eram primos. Os dois estiveram trabalhando na construção de um muro, mas o serviço se arrastava porque era hábito dos dois as escapulidas para “uma bicadinha” no Bar do Barriquinha, na beira do campo de futebol  do Itaguá.
                Num dia bem cedo os dois prepararam uma grande quantidade de concreto para enchimento das colunas. Misturaram tudo. Antes das oito horas da manhã a massa já estava no ponto. Ao perceberem que estavam adiantados, resolveram “molhar a goela” na “fruteira do bairro”. Em pé, afundada na massa, deixaram a enxada para mostrar que logo estariam de volta. Porém, isso não aconteceu.
                De gole em gole, acompanhado de torresmo frito, passaram toda a manhã e viraram a tarde. Depois foram tirar uma soneca no rancho de canoa do velho Tibúrcio Mesquita. Anoiteceu. Já passava a Voz do Brasil quando Sebastião Rita chegou em casa. Todos estavam preocupados! Na mesma noite o tempo desabou: se seguiram quatro dias de chuva forte. Ninguém colocava nem o nariz para fora de casa. O terreiro era um lago porque o rio Acarau transbordou. Só depois de cinco dias, quando o tempo deu um recarmão, pareceu se firmar no sol, é que viram o monumento: do monte de concreto totalmente endurecido saía o cabo da enxada. Resultado: perdeu-se tudo, inclusive a ferramenta. Por fim, completou o João de Souza:
                “Acho que foi desse jeito que surgiu a história da espada na pedra, lá na Inglaterra! Só que aqui não teve nenhum Arthur forçudo. Sobrou para o Chico Preto malhar com marreta e ponteiro um dia inteiro!”.

sábado, 8 de agosto de 2020

POESIAS NA PRAIA DA VILA

 


Traquete na Guaivira (Arte na telha - Arquivo JRS)

                      Quando criança, era comum escutar os mais velhos se referirem à cidade, ou melhor, à praia da cidade, como Praia da Vila. Depois eu aprendi que era Praia do Cruzeiro ou Yperoig. A Praia Grande, hoje a mais frequentada pelos turistas, era a Praia Grande da Vila, distinguindo assim da Praia Grande do Bonete.  Hoje me recordei disso, relendo Terra tamoia, da saudosa caiçara Idalina Graça. Então resolvi retransmitir um pouco mais dessa nossa gente de outros tempos.
                   
                  O dia amanheceu lindo. Alegremente arrumei um farto lanche e resolvi passar o dia fora. No portão, encontrei-me com um amigo que me perguntou rindo: "Vai viajar, Idalina?"
                     - Sim, ao país do sonho...
                     Ele parou, perguntando: "Você não quer me levar?"
           Sorri:   - Você nem saberia como desembarcar lá, materialista como é!
               Com um adeus amigável, separamo-nos. Ele para o trabalho, eu, para sonhar. Enfim, eis a praia branca e dourada por um sol de maio, que estende seus fúlgidos raios na relva verde e macia; o mar chorou melancólico sua eterna queixa, de encontro às rochas milenárias.
               Velas brancas [traquetes] tremulam sobre a superfície das águas; parecem bandos de gaivotas à procura de pouso seguro. Sobre minha cabeça, de um azul límpido e maravilhoso, o céu de Iperoig é um estandarte real. Em breve me encontro à porta da casinha, onde um pescador da Praia da Vila, como os antigos chamavam a nossa Iperoig, está sentado ao sol, consertando algumas redes. Ele canta em surdina uma terna canção.
               - "Aposto" digo sentando ao seu lado, que você não tinha esta no seu repertório caiçara.
                -  Ele riu com gosto, ao dizer me:   - Eu queria saber como a senhora adivinhou.
                  Correspondi sorrindo:   - Precisava que o conhecesse como o conheço.
                    Respeitoso, afastou-se e, fazendo um gesto amigável, respondeu:  - Sente-se aqui, e preste atenção à letra desta canção. Eu não sei porque, mas estava triste ontem. Então escrevi-a. Como a esquecer minha presença, cantou com sentimento, "O meu segredo":

                 Nas horas de desalento
                 que nem sei explicar,
                 Entendiado da vida,
                 procuro então disfarçar.
                 Sozinho no meu barquinho,
                 deslizo por sobre o mar.

                 Então, eu conto às vagas
                 as mágoas do coração.
                 Desabafo minhas queixas
                 Em uma terna canção.
                 Chego a trocar meu barco
                 pelo som de um violão.

                 Ligeiro salto na praia
                 e esqueço o meu tormento,
                 Vendo o mar de Iperoig
                 Desafiando o vento.
                 Eu canto melhor que ele,
                 em seu eterno lamento.

                 E a Lua, invejosa
                 desta louca serenata,
                 vem chegando de mansinho
                 em sua alvura de prata...
                 ...E o pobre pescador
                 sente uma angústia que mata.


           Como é bom ler! Melhor ainda é escrever os nossos sentimentos, as nossas visões dia após dia. No futuro alguém vai prestar atenção, recordar e aprender a partir daquilo que deixarmos registrados.


terça-feira, 4 de agosto de 2020

#ArteParaTodos: FundArt divulga relatório anual do projeto de oficinas culturais




EM 2019 O PROJETO DE OFICINAS CULTURAIS “ARTE PARA TODOS” TRIPLICOU O ATENDIMENTO AOS MUNÍCIPES

O Projeto de Oficinas Culturais “Arte Para Todos” realizado pela Prefeitura Municipal de Ubatuba por meio da FundArt triplicou atendimento em 2019; Dados são comprovados pelo relatório anual divulgado pela Instituição.

Desde 2017 a Diretoria Executiva da FundArt busca melhor estruturar o setor cultural da instituição. O setor ganhou processo de arquivamento próprio, investimento em pessoal com assistente administrativo específico para a área cultural, além da implantação de sistema informatizado para o gerenciamento de dados das oficinas culturais.

Com o olhar voltado para a melhor organização, controle e monitoramento de dados referente ao projeto de Oficinas Culturais “Arte Para Todos” foi possível otimizar o investimento no maior projeto sociocultural de Ubatuba. Em 2019, a Fundação de Arte e Cultura de Ubatuba ofertou 1770 vagas nas cinco regiões do município.

Para Camila Marujo, diretora presidente da FundArt, a ampliação do projeto é resultado de um trabalho conjunto, realizado em parceria com a Secretaria Municipal de Educação e associações parceiras e também com os artistas orientadores em atuação nas cinco regiões de Ubatuba.

“2020 nos fez readequar a proposta do projeto para o formato online. Sabemos que a capacidade de atendimento é diminuída devido a situação atual [pandemia Covid-19], mas novamente destaco a parceria com os profissionais envolvidos – a maioria profissionais autônomos do setor artístico, compromissados com o desenvolvimento cultural do município. Sem eles não seria possível dar continuidade a este projeto tão importante! ” – conclui Camila Marujo.

O Projeto de Oficinas Culturais “Arte Para Todos” visa a prática de atividades culturais que proporcionem a aquisição de novos conhecimentos e vivências, de experimentação e de contato com os mais diversos tipos de linguagens, técnicas e ideias possibilitando a difusão cultural e a formação de público para a área de cultura.
O Projeto “Arte Para Todos” – após pausa em julho, volta as atividades no mês de agosto ainda no formato online e mantém seu cronograma anual inalterado até novembro. Quaisquer informações sobre o projeto entre em contato pelo e-mail: cultural@fundart.com.br

Confira os relatórios anuais em nosso site: www.fundart.com.br

Fonte: FundArtDisponível em: https://fundart.com.br/arteparatodos-fundart-divulga-relatorio-anual-do-projeto-de-oficinas-culturais/


sábado, 1 de agosto de 2020

A PRIMEIRA FARMACIA DE UBATUBA




Início

A primeira farmácia homeopática foi instalada na rua Dr. Esteves da Silva (antiga Rua da Botica), era de propriedade do ubatubano da gema e do Centro, o farmacêutico: Prof. Cel. Luiz Domiciano da Conceição. Titio Luiz da Botica, como era chamado pelos seus familiares, tinha laços de família com a professora Dionísia Bueno Velloso (família Costa Ferreira). O farmacêutico fez parte da fundação do Ateneu Ubatubense e ocupava o cargo de procurador; era, também, secretário da Intendência Municipal e um competente professor. No Grupo Escolar Dr. Esteves da Silva, onde já lecionava desde a fundação da escola, em 18/07/1896, “Ocupava a cadeira de Leitura, Recitação e Gramática Portuguesa”. Lembrando sempre, que o primeiro diretor foi o professor Luiz Mariano Bueno, livro Achegas à História do Litoral Norte Paulista, volume I – de autoria do Dr. Félix Guisard Filho, página 152 e do próprio livro de atas do Grupo Escolar Dr. Esteves da Silva. Diga-se de passagem, que as páginas da Ata foram arrancadas do livro do Grupo Escolar. Portanto, a escola não tem mais os originais.

Consta no livro de ponto do pessoal do Grupo Escolar Dr. Esteves da Silva, no espaço reservado para Observações: - “Em 19 março de 1907, o Prof. Cel. Domiciano da Conceição, nesta data assumiu a diretoria d’este Grupo, por ter-me designado para substituí-lo o ex-diretor, cidadão, Luiz Mariano Bueno”. Por ser um professor competente, respeitado, dedicado e amigo de todos, então, designou-o para substituí-lo. Este foi o procedimento que conduziu o professor Cel. Domiciano da Conceição a diretor do Grupo Escolar Dr. Esteves da Silva.

Na comemoração do 3º centenário da elevação da ALDEIA de IPEROIG à categoria de Vila e, tendo o seu nome mudado para, VILA NOVA DA EXALTAÇÃO DA SANTA CRUZ DO SALVADOR DE UBATUBA. Foi neste dia, 28 de outubro de 1937, que em sua homenagem, foi dado o nome de uma rua central da cidade. A antiga “Rua Esperança” passou a chamar-se, Rua Coronel Domiciano.



Nota do Editor: Francisco Velloso Neto, é nativo de Ubatuba. E, seus ancestrais datam desde a fundação da cidade. Publicado no Almanak da Provícia de São Paulo para o ano de 1873. Envie e-mail para thecaliforniakid61@hotmail.com.


VEJA   A MATERIA COMPLETA  VIA  LINK...........https://www.ubaweb.com/revista/g_mascara.php?grc=34886


FONTE  ORIGINAL DA MATERIA........SITE  ubaweb.com

ANJOS DA SAUDE.........


Vovó Martinha, a parteira da mamãe e de muitas outras


Na série Anjos da Saúde, publicado no O Guaruçá, Nenê Velloso cumpre a sua tarefa de nos ensinar sobre a cultura local. Está correto! Afinal, alguém já disse que “uma história de vida não é feita para ser arquivada ou guardada numa gaveta como coisa, mas existe para transformar a cidade onde ela floresceu”.

      Hoje, lendo os envolventes escritos do Nenê, escolhi o relato da minha vizinha da Praia do Sapê, na década de 1960. A Maria recupera ações de mulheres caiçaras nas questões de saúde, inclusive da sua própria mãe e da minha vó Martinha, a parteira.

   
        Relato de Maria Cruz 

        Nasci em 48 e estas pessoas povoaram minha infância: Dona Martinha, avó do Domingos, do Jairo, entre outras menos conhecidas, era parteira. Fez todos os partos na nossa região, desde que me entendi por gente. Até quando apareceu médico por aqui e as mulheres ficaram mais “prosas”, aí as parteiras se acabaram. Herdou o dom de Dona Maria Félix, santa criatura que me apresentou ao mundo em 1948. Era uma parteira da Caçandoca, e Dona Martinha que morou lá aprendeu certamente com ela o ofício.

        Dona Martinha morava no Sapé, depois foi para a Estufa, onde morreu. Também no Rio das Pedras, bairro antes da Tabatinga, havia Dona Ana, que doou a área para a igreja católica daquele bairro. Ela amparava nossa gente, por aqui, e igualmente era muito querida. Homeopatia era com a Dona Quinina (Joaquina), mulher do Seu João Pimenta, que tinha armazém no Sapé. Ela tinha um “livrão” que manuseava a procura da “dose” a cada doença que lhe contassem. Tinha e vendia as doses que preparava num vidrinho ou caçula de guaraná, e todos acorriam a ela e sua medicação de “dose”.

        Minha mãe, Ana Cruz, oficialmente Ana Rosa das Chagas, atuou nesta época de dona Quinina, e foi a primeira “enfermeira” daqui da região. E ainda hoje guarda seu “pedido-cópia” de remédios, que era endossado pelo Seu Filhinho, e seus livros de apontamentos. Quando prefeito o Dr. Alberto Santos, foi contratada através do Senhor Vivi. Fazia de tudo: curativos, aplicava injeções e comprimidos antigripais, dava “comprimido de ferro”, e outros remédios. Aplicava inclusive soro antiofídico, que também tinha em casa. Abria ou espremia furúnculos, ajeitava quebraduras, arrumava talas de bambu e tiras de pano usado e enfaixava até sarar, e ainda ensinava a fazer os famosos “emplastos” de mato, São Joãozinho e canema, que ajudava a curar o quebrado.

         Minha mãe só não fazia parto, isto era com Dona Martinha, e que, como todas as parteiras, fazia os remédios para tal ocasião, as famosas “queimadas”, remédio para as parturientes da época. Geralmente a parteira tomava a seus cuidados a parturiente e seu filho até a primeira semana de vida, que era a mais perigosa para o bebê, pelo mal de sete dias, que não me lembro ter ouvido acontecer. Lembro-me da “vacina lizada anti-piogênica”, contra picadas de insetos que geralmente traziam alergias. Tínhamos em nossa casa um armarinho cheio de remédios farmacêuticos e alguns instrumentos simples que ela usava em sua lide diária. Trabalhou durante treze anos, sem um dia de férias, a qualquer hora do dia ou da noite e onde precisassem dela, lá estava minha mãe, ou então atendia em nossa casa mesmo. Parou quando prefeito o Dr. Nélio, quis transferi-la para a ASEL, e mamãe não aceitou. Através de Lei 486/08/77, foi aposentada como pensionista, percebendo hoje um salário mínimo regional ou salário mínimo brasileiro. Jamais recebeu qualquer outro valor sobre seus tempos de serviço.

        Sobre as benzedeiras, não me perguntou, mas vou enumerar por primeiro as mais antigas que conheci:

1- Tereza Blaque, na Maranduba, xingava muito, mas todos a procuravam. Morreu quando eu ainda era criança.

2- Rosalina Félix, na Maranduba, descendente de escravos da Caçandoca.

3- Minha tia Tatãe, ou Cândida Antonia de Morais, do Sapé, benzia mais crianças.

4- Benedita Fermino, nossa amiga, do Sapé, todas no meu tempo de criança.

5- Olivina, que veio da Praia Grande do Bonete, bondade infinita.

6- Sebastiana Maria, do Sertão da Quina, inclusive fazia as famosas “garrafadas” e que hoje fazem, a meu ver, tanta falta, pois fé também cura.

       Somente as duas últimas benziam em meu tempo de adulta. Eram criaturas muito benquistas e eram procuradas por todos.

Nota do Editor: Francisco Velloso Neto, é nativo de Ubatuba. Seus ancestrais datam desde a fundação da cidade. Publicado no Almanak da Provícia de São Paulo para o ano de 1873. Envie e-mail para thecaliforniakid61@hotmail.com.




FONTE:

Livro de Hans Staden sobre viagem ao Brasil e prisão em Ubatuba impactou artes nacionais




Xandu Alves@xandualves10 | @jornalovale

Há histórias (verdadeiras) que parecem ficção de tão extraordinárias. Esta é uma delas.

É de como um naufrágio, um banquete antropofágico, o mau tempo de Ubatuba e um dos primeiros best-sellers do mundo transformaram a cultura e a identidade do Brasil.

O livro influencia o modernismo, que influencia o Cinema Novo e todo o restante.

Hans Staden (1525-1576) era um arcabuzeiro alemão que deixou a terra natal em busca de aventuras aos 20 anos. Foi a Lisboa, mas perdeu o navio para as Índias. Então, veio ao Brasil.

Chegou em janeiro de 1549, em Pernambuco, e ajudou os portugueses a resgatarem compatriotas em guerra com índios.

De volta à Europa, retornou ao Brasil em 1550 com Juan de Sanabria (1504-1549) rumo ao território espanhol, no Sul.

“De Cananeia para baixo era tudo espanhol. Eles tinham projeto de ocupar, mas deu tudo errado, com naufrágios e tragédias”, conta o jornalista e escritor Eduardo Bueno.

Chegaram à na Ilha de Santa Catarina e naufragam. Eles perambularam por dois anos até Staden conseguirem partir em um novo navio, e naufragaram novamente, em Itanhaém.

A expedição foi a São Vicente e o alemão tornou-se coordenador da artilharia do Forte São Felipe, no canal de Bertioga, em 1554, bem no limite com o território tribal dos Tamoios (Tupinambás), que odiavam os portugueses e eram aliados dos franceses.

Numa batida, Staden foi capturado pelos Tamoios e levado a uma aldeia em Ubatuba.

Bueno conta que o capturado entrou na aldeia amarrado e pulando, dizendo: “A vossa comida chegou”. “Ia ser comido num ritual antropofágico”.

Posto para engordar, Staden viu dois portugueses presos serem devorados pelos índios. Então, passa a dizer que é francês. Não dá certo. Só é salvo da panela por causa da abundante chuva de Ubatuba.

Conta Bueno: “Ele diz aos índios que chovia sem parar porque o Deus dele estava chorando. Se o matassem, nunca mais pararia de chover”.

Supersticiosos, os índios pedem para ele fazer parar de chover. Staden reza e, de repente, para de chover.

Agora poderoso, Staden foi libertado, voltou à Europa e escreveu o livro “Duas viagens ao Brasil”, editado pelo médico, anatomista e matemático Johann Dryander em 1557, que tornou-se um best-seller.

O livro só chega ao Brasil em 1892. Mas é uma edição de 1900 que impactará o país. Os direitos foram comprados por Eduardo Prado, um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras e pai de Paulo Prado, financiador da Semana de Arte Moderna de 1922.

Ele teria dado o livro a Tarsila do Amaral (1886-1973) e a Oswald de Andrade (1890-1954), destaque entre os modernistas e expoentes do conceito antropofágico, de pegar a arte de fora, canibalizá-la e vomitar uma arte nova, brasileira.

Impactados pelo livro, Tarsila fez o quadro Abaporu (‘homem que come gente’, em Tupi), de 1928. Andrade lançou o Movimento Antropofágico, impactando o Cinema Novo e as artes nacionais.


fonte........site............ovale.com.br.


A EXPRESSÃO DE UM VIOLÃO




A expressão de um violão
Julinho Mendes – Ubatuba, 10/11/09
Debaixo do céu azul resplandece o Pico do Corcovado que tem em seus declives sinuosos um símbolo da fé cristã, a Cruz de Ferro. Ali vivem os tangarás, símbolo de nossa cantoria, de nossa dança e de nossa bandeira e também os manacás com seus dégradés lilás. A imagem da pomba do Divino Espírito Santo irradia os sete dons: sabedoria, entendimento, ciência, conselho, fortaleza, piedade e temor a Deus. A igreja Matriz se conserva em patrimônio de história e também de fé. O boi bumbá tradição de antigamente agora retorna do mar em boi de conchas. Sereia é lenda do mundo, saci é do Brasil e daqui de nossa terra temos o dragão da gruta que chora que vive lá onde o lugar é de barulho que desde a época dos tupinambá é chamado de Sununga.
Tudo isso estampado na tampa de um violão que em sua voz, ecoa os cantos e aos cantos, a cultura caiçara.

FONTE.........JULINHO MENDES VIA FACEBOOK