A fabricação de canoas no litoral norte de São Paulo é uma tradição que mistura conhecimento indígena, saber caiçara e adaptação aos recursos disponíveis na região. Ela é mais que um simples trabalho artesanal — é parte de uma herança cultural que vem sendo passada de geração em geração, especialmente em comunidades como Ubatuba, Caraguatatuba, São Sebastião e Ilhabela.
Origem e Influências
Indígenas Tupinambá e Tupiniquim: foram os primeiros a confeccionar as chamadas canoas de um pau só, escavadas em troncos maciços, principalmente de guapuruvu, cedro ou jequitibá.
Colonização: com o contato com portugueses, houve a introdução de novas ferramentas de ferro e algumas técnicas de vedação e acabamento.
Cultura caiçara: manteve o método indígena, mas adaptou o design para o mar e para a pesca costeira.
Técnica tradicional
A canoa tradicional caiçara é geralmente monóxila (escavada em um único tronco). O processo clássico envolve:
1. Escolha da árvore
Preferência por espécies leves, resistentes à água salgada e de tronco reto.
O corte costumava ocorrer em fases específicas da lua para evitar rachaduras (lua minguante era a mais usada).
2. Derrubada e corte do tronco
Feito antigamente com machados e foices; hoje, muitas vezes com motosserra.
O tronco é cortado no tamanho desejado, variando de 3 a 10 metros.
3. Escavação interna
Ferramentas afiadas, retirando lascas de madeira até formar o casco.
O fundo é deixado mais espesso para resistência.
4. Modelagem externa
Arredondamento do casco para melhor deslizar na água.
As proas e popas são levemente elevadas para enfrentar o mar.
5. Secagem e acabamento
A canoa é deixada ao sol e depois lixada.
Hoje, devido à escassez de árvores grandes e a leis ambientais, a fabricação de canoas monóxilas é mais rara.
Muitas comunidades passaram a usar fibra de vidro, compensado naval ou madeira laminada, mantendo o formato tradicional, mas adaptando os materiais.
Em festas tradicionais, como a Festa de São Pedro Pescador, ainda se vê canoas artesanais no mar.
Significado cultural
Mais que um meio de transporte ou pesca, a canoa representa identidade.
Em Ubatuba, por exemplo, há mestres canoeiros que ainda ensinam jovens da comunidade para preservar a técnica.
A prática também virou patrimônio imaterial em alguns municípios, sendo registrada e documentada por historiadores e antropólogos.
GUINHO CAIÇARA
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