( História do Joca Chica )
Lá no alto do morro, morava o vô Marcolino — pescador, fazedor de farinha de mandioca, construtor de canoa e, segundo ele mesmo, o maior criador de porcos e galinhas do litoral. Tinha tanto bicho que, se todos resolvessem cantar e grunhir ao mesmo tempo, dava pra ouvir até em Paraty.
Um dia, vô Marcolino terminou sua mais nova obra-prima: uma canoa de madeira Guapuruvu, tão boa que parecia até querer pescar sozinha. Canoa grande, cabia seis pessoas e dois sacos de farinha, se apertasse.
Chamou as crianças — tudo ainda com joelho ralado e dente mole — e disse:
— Hoje vamos pescar na ilha do Promirim!
Foram navegando, remando, rindo… até que, chegando na praia da ilha, vô Marcolino parou, coçou a barba e arregalou o olho:
— Mas… mas… aquilo ali… aqueles porcos… aquelas galinhas… são meus!
As crianças riram:
— Ah, vô, como que seus bichos vieram parar aqui? Nadaram? Pegaram carona de canoa?
— São meus, eu conheço! — insistiu ele, apontando para uma galinha que parecia acenar com a asa.
Ficaram o dia todo pescando. Quando o sol começou a se esconder, vô Marcolino ficou de tocaia, seguindo os bichos. Foi então que viu uma coisa inacreditável: lá no pé do morro da ilha, havia uma raiz de mandioca gigantesca, coisa de mais de um metro de grossura, atravessando por baixo do mar!
Era a mandioca que ele tinha plantado no quintal! Cresceu tanto, mas tanto, que foi parar na ilha — e os porcos e galinhas usavam a raiz como túnel pra ir e voltar, como se fosse um metrô rural.
Vô Marcolino e as crianças voltaram correndo de canoa. Chegando em casa, lá estavam os bichos, saindo do túnel, como se nada tivesse acontecido.
E assim ficou famosa a Mandioca do Vô Marcolino — a única no mundo que servia de ponte, túnel e estrada para porcos e galinhas turistas.
— Arelaaaá, arelaaaá! — gritava o caiçara Joca, neto do vô, toda vez que contava essa história.
Guinho Caiçara
via facebook
Comentários