Os Garrafões do Velho Rita.

 

Os Garrafões do Velho Rita.
João de Souza era daqueles contadores de causos que deixou saudades. Bastava sentar num banco de praça ou numa roda de amigos que lá vinha ele, com uma história mais engraçada que a outra. E teve uma que ele me contou que, sinceramente, não dá pra esquecer.



Foi lá pelos anos 80, quando Ubatuba resolveu virar Veneza por uns dias. Choveu tanto, mas tanto, que os rios se revoltaram, as ruas sumiram, e quem não sabia nadar teve que aprender na marra ou arrumar uma canoa emprestada. A água tomou conta de tudo e só foi embora depois de dias de teimosia.
Naquele tempo, morava ali pelo Itaguá o seu Sebastião Rita — pai do próprio João — homem simples, pescador , caiçara raíz . Atrás da casa dele, encostados na parede, ficavam vários garrafões vazios de vinho e pinga. Desses grandes, de vidro grosso, que pareciam ter vindo direto do tempo dos piratas.
Pois bem, passada a enchente, quando o sol resolveu voltar e a água finalmente baixou, seu Sebastião decidiu dar uma olhada na bagunça que a chuva tinha deixado. E foi aí que veio a surpresa!
Um por um, ele foi levantando os garrafões. E dentro de cada ... um bagre! Não era bagrinho, não — era bagre de respeito, de mais de um quilo! Ainda vivos, todos bem aconchegados no fundo do garrafões, como se tivessem feito dali o seu novo aquário.
Dizem que o seu Sebastião, olhando aquilo tudo, coçou a cabeça e disse:
— Tem tanto bagre , que vai dar pra comer por uns 3 meses.
E assim ficou famoso o “Os Bagres dos Garrafões do Itaguá”. Até hoje, quando a chuva aperta em Ubatuba, tem quem diga que é bom deixar uns garrafões no quintal. Vai que a maré traz o jantar pronto de novo, né?
E essa, meus amigos, é só mais uma das muitas histórias que o saudoso João de Souza espalhou por aí — com riso solto e coração caiçara.


Texto de Guinho Caiçara
via facebook

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