Ao contrário de muitas outras madeiras nobres exóticas, o valor do pau-brasil não estava em seus usos como uma variedade de madeira, mas como uma fonte de corante. Quando embebida em água, a polpa da árvore do pau-brasil cria um corante carmesim útil para colorir tecidos. Sua solidez da cor surpreendeu o viajante francês do século XVI Jean de Léry quando ele visitou o Brasil:
Um dia, um de nossa companhia decidiu branquear nossas camisas e, sem suspeitar de nada, colocou cinza de pau-brasil com a soda cáustica; em vez de branqueá-las, ele as deixou tão vermelhas que, embora fossem lavadas e ensaboadas depois, não havia como se livrar daquela tintura, então tivemos que usá-las daquele jeito (Léry).
Os poucos europeus que tripulavam os navios que navegavam para o Brasil não conseguiam colher pau-brasil em quantidades consideráveis e, portanto, tinham que contar com mão de obra indígena, como Léry deixa claro:
Quanto à maneira de carregá-lo nos navios, observe que tanto por causa da dureza dessa madeira e da consequente dificuldade de cortá-la, quanto porque, não havendo cavalos, burros ou outros animais para carregar, transportar ou puxar fardos naquele país, são os homens que fazem esse trabalho: se os estrangeiros que viajam para lá não fossem ajudados pelos selvagens, eles não conseguiriam carregar nem mesmo um navio de médio porte em um ano. Os selvagens não apenas cortam, serram, dividem, esquartejam e arredondam o pau-brasil, com machados, cunhas e outras ferramentas de ferro dadas a eles pelos franceses e por outros daqui, mas também o carregam em seus ombros nus, muitas vezes de uma ou duas léguas de distância, sobre montanhas e lugares difíceis, até a costa pelos navios que estão ancorados, onde os marinheiros o recebem (Léry). Em troca de seu trabalho, comerciantes portugueses e franceses trocavam com os nativos roupas de linho e lã, chapéus, facas, espelhos, pentes e tesouras - essencialmente mercadorias básicas de comércio, ferramentas e bugigangas (Léry, Staden). Esse tipo de troca significava que os europeus podiam adquirir pau-brasil - uma mercadoria valiosa na Europa - barato no Novo Mundo.
No sul, ao redor da Baía de Guanabara, Hans Staden mencionou que comerciantes franceses deram a alguns nativos armas e pólvora em troca de pau-brasil.
"Chegou um navio francês em um porto, que dista oito milhas de Ubatuba, ao qual os portugueses chamam de Rio de Janeiro, e os índios Niterói. Aí costumam os franceses fazer carregamento de pau-brasil. Vieram em um bote também até a nossa aldeia e compraram dos índios pimenta, macacos e papagaios. Um deles desceu em terra. Chamava-se Jacó, conhecia a língua dos selvagens, e negociou com eles. Pedi-lhe que me tornasse consigo no navio, mas meus amos disseram que não; não queriam entregar-me assim, mas obter por mim mercadorias. Nisto lhes pedi que me levassem ao navio; meus amigos lhes dariam bastantes mercadorias, ao que responderam: "Não, não são os teus verdadeiros amigos, pois já teriam os franceses, os que aqui estão no bote, dado a ti uma camisa, porque foste nu; mas eles não se ocupam contigo."
Hans Staden, Marburgo, no Carnaval de 1557, livro "História Verdadeira.....Duas Viagens ao Brasil....", capítulo 40.
E assim nasceu o Brasil!
A obra baseia-se em fatos históricos reais e fatos novos, o autor Detlef Günter Thiel realizou uma pesquisa completa sobre Hans Staden, um lansquenete espingardeiro alemão, em todo lugar onde esteve: no Norte de Hessen/Alemanha, em Portugal e no Brasil. Ele conhece a época das descobertas e utiliza os eventos históricos relevantes como fundo para uma descrição meticulosamente detalhada de todas as ocorrências. Deste romance histórico e seu tempo, poderão entender os hábitos das pessoas, e também o seu sofrimento naquela época, no Renascimento.
"Hans Staden Sua Alma, Minha Alma?" da Edição FLOR Do TEMPO
FONTE :
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