domingo, 4 de fevereiro de 2024

A Paz de Iperoig ou Armísticio de Iperoig - Ano 1563

 




A Paz de Iperoig ou Armísticio de Iperoig foi um tratado de paz efetuado entre os portugueses e os índios tamoios em 1563.
"Iperoig" é um termo derivado da língua tupi antiga: significa "rio dos tubarões", através da junção de iperó (tubarão) e 'y (rio). Era o nome da localidade onde Manuel da Nóbrega e José de Anchieta ficaram reféns dos tamoios em 1562-1563.
Após a queda do forte francês Coligny, na Baía de Guanabara, restaram poucos franceses que, aliados dos tamoios, combatiam os portugueses na região costeira da América. Com a precariedade de aliados, os tamoios decidiram formar uma grande aliança com outros nativos da Capitania de São Vicente, que ficou conhecida como Confederação dos Tamoios. Dela, participavam também algumas tribos tupinambás, tupiniquins, carajás, goitacazes e aimorés, que assaltavam rotas e vilas portuguesas, como a de Piratininga. Era uma tentativa de dar um fim à guerra estabelecida na metade do século XVI entre europeus e indígenas.
AO GERAL DIOGO LAINEZ, DE SÃO VICENTE, JANEIRO DE 1565
Movido pois com tantas e tão justas causas, e confiando em a virtude de Nosso Senhor Jesus Cristo, que das pedras duras tira abundantes rios d'água, empreendeu este caminho, determinado de se partir em dois navios bem aparelhados á terra dos contrários, e depois de renovados os votos á primeira oitava da Páscoa do ano passado de 1563 nos partimos antes que os navios, e eu indo-os esperar a uma fortaleza daqui a quatro léguas chamada Beriguioca, em uma canoa, onde logo começámos a experimentar a doçura da Divina Misericórdia e Providência, á qual totalmente nos havíamos entregado e foi que, havendo nós outros chegado á terra, e desembarcado, veiu tã o grande tempestade de vento ec huva, que se nos tomara em mar, como a canoa era pequena, teríamos grande perigo de nos perder, a salvo conduziu-nos; bendito seja o Senhor doador de todo bem.
Esperando pois por bom tempo nos embarcamos o dia da Exaltação da Santa Cruz, em sua canoa, feita de uma cortiça de pau, e éramos 20 por todos, e viemos aquele dia com bom tempo ao primeiro porto, onde para maior prova de Cunhambeba achámos uma canoa dos do Rio, que se tornava de cá, os quais lhe contaram logo muitas mentiras, dizendo que os índios de Piratininga lhes haviam morto um dos seus e que os Cristãos foram correndo de trás deles, tirando-lhes para os matar, com outras cousas, que puderam facilmente mover a constância de qualquer dêstes, que não é muita. Mas o Cunhambeba depois de lhes ouvir lhes disse:"Bem sei que os Cristãos são bons e tratam verdade, vós outros farieis por onde vos tratassem assim"; e nem ele nem nenhum dos seus dando crédito ás suas palavras, nos embarcamos ao outro dia e viemos outras duas jornadas, com algumas tormentas, e enfim, pela misericórdia do Senhor chegamos dia de S . Mateus Apóstolo á Beriquioca, mas não foi muito a nosso salvo, porque ao dobrar de uma ponta nos deutão grande tempestade de vento que estivemos meio afogados, ao menos eu nunca tive por tão certa morte em todos os transes passados com o ali, e ainda agora me espanto como foi possível passar por ali uma só cortiça de um pau por onde um navio tivera muito perigo e trabalho em passar; contudo os índios esforçavam a mim e assim remando com grande impeto e dizendo-me que não hou-se medo, que eles me tirariam fora a nado, mas eu em al tinha posta minha confiança e tinha-me com Cunhambeba, o qual ia dizendo:"Padre Deus, oh Senhor Deus, amanse-se o mar." Ouviu-o o Senhor, e ainda que não se amansou o mar, passámos seguros e acolhemo-nos á terra antes de chegar a povoado com a água que nos dava pela cara e boca já coalhada e feita de sal. Ao outro dia se tornaram a embarcar para entrar na fortaleza, que seria pouco mais de meia légua, e eu me fui pola praia com dois ou três deles e tivemos tanta chuva todo o caminho que me passou e esfriou todo, e segundo a fraqueza que eu trazia, se um pouco mais longe estiveram as casas passára muita pena; assim chegámos a estas vilas, vencidos tantos encontros, e com minha vinda houveram todos muita alegria, como com pessoa que saía de um cativeiro, do qual não esperava outro fim se não a morte. Bemdito seja o Senhor todo poderoso qui mortificat et vivificat. Este foi o fim da minha peregrinação, a qual prouvéra ao bom Jesus que por outra mão fôra escrita e a minha, por amor de seu nome, estivera suspensa ao sumo em Iperuig, ec erto que se não pensasse tudo isto haver sido ordenado pola suma e divina disposição e vontade da obediência, que me arrependeria de haver-me de lá vindo e ainda com tudo isto me arrependo e pesa, não porque vim, mas porque não foi digna minha vida que eu desejava de pôr por meu Senhor Jesus Cristo, de ser aceita de Sua Divina Magestade; mas, por que meu pai celestial é mui rico para todos os que o invocam e tem muitas bênçãos que dar, ainda não desespero de alcançar esta de sua mão onipotente, confiando que primeiro me faria martir, no cumprimento de meus votos e de toda virtude e depois s e dignaria aceitar meu sangue derramado por sua glória em holocausto e odor de suavidade, o qual eu peço humilde e entranhavelmente a todos os Padres e Irmãos, maximè a V.R.P., me alcancem do Senhor.
Deste Colégio de Jesus de S. Vicente, em 8 de Janeiro de 1565 anos.
Minimus Societatis Jesu.
JOSEPH DE ANCHIETA
E assim nasceu o Brasil!
A obra baseia-se em fatos históricos reais e fatos novos, o autor Detlef Günter Thiel realizou uma pesquisa completa sobre Hans Staden, um lansquenete espingardeiro alemão, em todo lugar onde esteve: no Norte de Hessen/Alemanha, em Portugal e no Brasil. Ele conhece a época das descobertas e utiliza os eventos históricos relevantes como fundo para uma descrição meticulosamente detalhada de todas as ocorrências. Deste romance histórico e seu tempo, poderão entender os hábitos das pessoas, e também o seu sofrimento naquela época, no Renascimento.



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