Retratos Brasileiros está em Ubatuba.
VIA FACEBOOK ANO 2017
'Nasci aqui nessa Praia da Almada em 1941. Aqui era totalmente isolado... mais ou menos no meio da mata Atlantica, não tinha acesso a cidade, não tinha estrada, a gente ia pra cidade a remo. Eram 5 - 6 homens em uma canoa grande, remo e vela, quando o tempo 'tava' ruim a gente pegava uma trilha, só tinha trilha. trilha e praia, trilha e praia.
Ai tinha o lado ruim e o lado bom : a coisa de bom naquela época que quase não tinha nada, mas tinha muita fartura, peixe por exemplo, a parte boa era essa. Mas ai vinha o lado duro, você não podia industrializar o peixe, não tinha gelo, não tinha estrada, não tinha telefone, não tinha nada, era isolado... então aqui o peixe era salgado, as mulheres abriam o peixe, metiam sal e secava no sol.
Isso não rendia nada, muito pouco, mal dava pra comer. Comida aqui, quer dizer, era pirão de peixe com farinha... era como se a gente tivesse na margem do rio Amazonas, mas o que era bom é que tinha fartura, né? O povo era um povo tudo igual, a vida de um era a vida de todos... hoje a vida é cheia de altos e baixos, um querendo passar por cima do outro, ambição.
Aí quando chegou a Rio-Santos melhorou bastante. Primeiro chegou a estrada, depois chegou a luz... aí ficou uma beleza, agora aqui é um paraíso, é o mesmo lugar que a cidade.
Entre aqui e a cidade hoje prefiro morar aqui, aqui é muito melhor. Meus filhos não, eles moram longe, eu que não quero saber de cidade. Vivi minha vida toda pescando, no mar, eu trabalhei no mar mais ou menos uns 30 anos. Me aposentei pela pesca. Hoje posso dizer que eu sempre fui lutador na minha vida, eu não tenho nada, mas isso que eu adquiri foi tudo com dinheiro do mar. Essa casinha tem quase 50 anos de construção, o material vinha tudo pelo mar, não tinha estrada, o material vinha tudo de barco. essa casa não tem areia, não tem brita, não tem cimento cola, é a massa pura, e o alicerce era pedra.'
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