As primeiras notícias sobre o motim chegaram ao público no dia 21 de junho de 1952. Mas os números divulgados nem sempre correspondiam à realidadeImagem: Biblioteca Nacional
Daniel Salomão Roque - De São Paulo para a BBC News Brasil
24/10/2022 05h29
São Paulo, 20 de junho de 1952. Às 8h30 daquela sexta-feira, um grupo de presos assumia o controle do Instituto Correcional da Ilha Anchieta, no litoral norte do Estado. A penitenciária, localizada num terreno íngreme, a 700 metros do continente, contava então com um expediente reduzido.
Graças aos festejos de São João, apenas 17 funcionários civis e 28 militares prestavam serviço no dia - em datas comuns, esse número dobrava. Portugal de Souza Pacheco, o chefe de disciplina, permanecia na ilha, assando leitões para uma confraternização familiar. Depois disso, ele talvez se dedicasse a seus afazeres mais cotidianos - espancamentos e sessões de tortura.
Assim, o locutor de Mãos Sangrentas, já na abertura do filme, anunciava às plateias o que elas veriam ao longo dos minutos seguintes: "Uma ilha de paz e beleza. Paisagem cheia de poesia. Praias luminosas. Uma ilha de sonho. Ninguém poderia imaginar as feras que ela oculta. Nem tigres, nem leões. Feras humanas. Homens transformados em feras pelo destino e pela sociedade. Nossa história é apenas o relato de um fato real." Semelhante perspectiva tinha raízes no século 19: "A Ilha Anchieta nasce como um espaço de regeneração dos vícios urbanos", explica Ferreira. "A princípio, seu objetivo era isolar os vagabundos, alcoólatras e degenerados, para que se ocupassem ao ar livre".
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