CAUSOS CAIÇARA de Julinho Mendes
ÁRVORE DE NATAL
O menino todas as tardes ia à beira da praia e ficava sentado a sombra de um abricoeiro. Olhava no fio do horizonte a espera da silhueta de um barco. Dos barcos que dias antes apareceram não era o de seu pai, pois o pai não chegara em casa...
O pai era pescador e estava numa traineira, na pesca da sardinha. A sardinha estava longe, talvez nos mares do sul, por isso a demora.
O natal estava próximo e o presente que mais queria era a presença do pai. Não tinha a certeza de que o pai chegaria antes do Natal, mas a esperança era grande.
Ficava ali brincando com os guaroçás, desenhando na areia, catando conchas. Um abricó desprega do galho e cai em sua cabeça, olhou para cima e viu aquela árvore todinha amarela de abricós maduros, parecia uma árvore-de-natal; teve uma ideia: -Vou fazer uma árvore de Natal e vou dar de presente para o papai! Pensou. No mesmo abricoeiro dependurava um galho seco; a seu redor um mundo de areia e os mais diversos tipos de conchas coloridas misturadas com abricós, guaroçás, espinha de peixe, unhas de guaiás,... Recolheu tudo aquilo e deu forma a sua imaginação. O galho do abricoeiro que estava seco e morto teve vida novamente, ficou todo enfeitado com a areia seca da praia; conchas, caracóis, estrelas, abricós amarelos e verdes,... Tinha achado um coco da Bahia, no qual fez o pedestal, colorido com as pétalas das mais diversas flores encontrados na beira do jundú. Com a ajuda dos irmãos e da mãe, estava feita a mais linda árvore-de-natal, uma árvore caiçara que certamente alegraria a casa na noite de natal.
O sol transpunha-se o pico do Corcovado e sua luz, naquele vermelho escarlate, não tardava a findar aquele dia vinte e quatro de dezembro. Numa última olhada, naquele horizonte já sombrio viu o piscar de uma luz, parecia uma estrela anunciando; seu coração bateu mais forte e no pressentimento enxergou seu pai no timão, virando a bombordo, o barco de sua felicidade. Saiu correndo e gritando de alegria, pois sabia que seu pai, antes das oito horas, estaria em casa.
A mesa estava arrumada para a ceia de natal. Um guarassuma assado, trazido pelo pai da pescaria anterior, temperado com alho, coentro, salsinha, cebolinha; caroços de jaca assados serviam de castanhas que transbordavam uma caçarola de ágata; uma gamela forrada com cambucá, bacopari e, grumixamas perfumavam o ambiente; pote com suco de limão cravo, bolo de fubá e no meio estava a mais linda árvore-de-natal, feita pelos meninos, cheia de pequenos presentes que seriam trocados entre a família. Dos presentes, brinquedos industrializados não existiam, eram peças de roupas e alguns bonecos feitos com a palha de milho e toco de ciosa.
No relógio da parede uma eternidade; deu oito, nove, dez horas; e nada do pai aparecer. -Aquele barco não seria o de meu papai! Pensou o menino. A tristeza começava a tomar conta da casa, pois sabiam que sem o pai não teria graça alguma e seria uma noite triste e sem comemorações.
Alguns foguetes já pipocavam anunciando o dia vinte e cinco de dezembro; de repente: Fuiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiuuuuuuuuuuuuu. Era o velho e conhecido assovio do mestre pescador anunciando a sua chegada. A alegria iluminou aquela penumbra que tomava conta da casa. Na plaqueta atrás da porta o falante papagaio gritou: -É o Chico! É o Chico! A cadela “cambita” latiu e a euforia foi grande. O grande presente tinha chegado. Ainda completamente coberto com escamas de sardinhas e cheirando a peixe, foi recebido com o maior carinho e alegria; beijou a mulher, abraçou os filhos, brincou com a cachorra, pegou o papagaio... Estava realizado. Agradeceu a Deus pela boa pescaria que fizera, agradeceu pelo bom retorno, agradeceu pela existência da mulher e filhos, e juntos ceiaram a noite de Natal, em volta da mais linda árvore de Natal, presente de seus filhos; presente tirado da praia e do mar.---------------------------------------------------------------
Das imagens abaixo, faço importante a lembrança e o comentário. A primeira, foi do primeiro concurso de Árvores de Natal realizado por nós no Museu Caiçara (em 2001)e que teve todo apoio do saudoso radialista Tony Luiz da rádio Costa Azul, saudosos ainda vê-se a figura e João de Souza, Clementino Soares e João Barreto que ganhou o concurso com a árvore mais tipicamente caiçara enfeitada com coisas encontradas na beira da praia.
A segunda imagem também do Concurso de Árvores de Natal, já em 2004, atrás da Cadeia Velha, onde acontecia o nosso movimento cultural chamado Pirão Geral.
Esse concurso de Árvores de Natal foi maravilhoso, surpreendente, com as mais diversas e criativas árvores apresentadas pelos concorrentes; infelizmente nós ná pudemos mais dar continuidade, mas esperávamos que a Fundart, assumisse, o que seria hoje um grande atrativo turístico com uma grande festa. Mas...
Fonte...Júlio César Mendes via facebook
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