quarta-feira, 24 de novembro de 2021

O MERO QUE VIROU PILÃO...............Causo caiçara de Julinho Mendes

 

CAUSOS CAIÇARA de Julinho Mendes

Como de costume, antes de ir trabalhar nas empreitadas que fazia, ainda no escuro, levantava e ia até a praia do Itaguá ajudar na puxada do arrastão. Um dia levou o filho.
–Vamos filho que hoje eu vou te ensinar a pesca de arrastão. O menino todo remelento, barrigudinho e meio amarelado calçou seu tamanquinho de madeira e seguiu o mestre pai.
Na praia já estavam lá os companheiros de pesca com a rede n’água; cinco num lado e mais cinco no outro, puxavam os cabos do arrastão.
–Ta vendo filho, é assim a pesca de arrastão, lança-se a rede ao mar e vem puxando pelos cabos.
–O Sr. não vai ajudar puxar papai? Perguntou o menino.
–Não filho, eu sou o mestre, meu trabalho é de levantar o pano da rede quando chegar no lagamá e isso não é qualquer um que sabe fazer, pois tem que ser conhecedor de peixe e saber a hora de levantar, para os peixes não saltarem por cima da rede!
O menino ia aprendendo com o velho pai.
O clarão do sol já se fazia no horizonte e, parecia aquele dia, ser um dia de sorte, pois a rede vinha lenta e pesada, se não fosse limo mingau seria um grande cardume de peixe.
A rede chegou no lagamá e o grande mestre correu para exercer sua função, e assim falou para o filho barrigudinho:
-Agora João, você vai ver o grande mestre conhecedor de peixes que é seu pai, fique aí observando. E saiu correndo.
Com água pela cintura agarrou a tralha de boias da rede e levantou; observou então algo escuro e grande dentro da rede e caiu de berro:
-Ai, ai,ai! –É um mero! É um mero! Devagar que é um grande mero! Anunciou o grande mestre.
A euforia entre os pescadores foi grande, pois o mero é peixe pra mais de 250 kg, daria um bom dinheiro. Mais cautelosos os pescadores puxaram a rede bem devagarzinho para não espantar o grande peixe. E o mestre Rita gritava:
-O bicho não se mexe, tá com ova! Tá com ova!
O menino lá em terra, orgulhoso falava:
-Papai é largo mesmo, sabe até que o peixe está com ova!
A rede se aproximava do lagamá e, vendo que o bicho era grande, velho Rita gritou:
-Ajudem aqui, vamos agarrar o bicho e enrolar no pano da rede, se não ele vai fugir!
Obedecendo a ordem o grande mestre, oito pescadores atarracaram com o grande peixe e o levaram para a praia. Vendo que o peixe não se mexia, começou o falatório:
– O peixe não se mexe! O bicho tá morto! Ta ovado! Ta dormindo! É um toco!...
Já com o dia mais claro, foram ter certeza da espécie de peixe que o velho Rita tinha anunciado. Aí a farra foi grande na praia do Itaguá. Aquilo que o grande mestre velho Rita tinha anunciado era, na verdade, um pilão de toco de urucurana, com o fundo furado; dentro, ainda tinha um guaiazinho meio desbotado, mais para cor-de-rosa do que para roxo.
Enquanto a caiçarada tirava sarro do “grande mestre” velho Rita, o menino João, orgulhoso de seu pai, saiu correndo e gritando pelas ruas do bairro do Itaguá:
-Mamãe, mamãe, mamãe,... papai pescou um pilão, papai pescou um pilão...
Dona Zefa respondeu ao menino: -Deve ser o nosso pilão que estava nos fundos do quintal, na beira do rio Acaraú e que naquela tempestade, de cinco anos atrás, foi levado pela enchente. Tomara que ainda sirva pra socar um pixé. -----------------------

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