O azul marinho é o famoso e conhecido prato da culinária caiçara, onde é servido em vários restaurantes especializados em frutos do mar. O amarelo marinho certamente nunca se ouviu falar. Não poderia mesmo, pois este nome, modéstia parte é de minha autoria; trata-se, na minha opinião do mais saboroso prato da culinária caiçara, é o chamado peixe seco salgado, que uns fazem com cará roxo, mandioca, batata doce e até mesmo com abóbora madura.
Mas não tem coisa igual quando se prepara com banana nanica madura. Não tão fácil como o azul marinho onde o peixe é fresco; o amarelo marinho necessita de um bom peixe seco. A receita, que se diga de passagem, herança de vovó Malvina, à minha mãe Alcina que por sua vez ensinou-me essa grande riqueza, irei passar desde o preparo do peixe até o final da lambança.
O PEIXE: em ordem de prioridade seria: cavala, pirabijú, anchova, tainha ou outro que seja carnudo. Abra-o pelas costa sem tirar-lhes as escamas, lanhando de cabo a rabo.. Salga-o, sem medo de exagero, com meio sal grosso e sal fino, deixando por três dias em bandejas fechada dentro da geladeira. Essa precaução é para que a biruanha (mosca) não deposite suas larvas. Depois de três dias retire o peixe, escorre-se a água colocando mais sal e deixa-o no sol, mais ou menos cinco dias até ficar seco e amarelinho.
O PREPARO: Deixar o peixe de molho em água fria, da noite pro dia, para tirar um pouco o sal. Preparar os seguintes ingredientes: três dentes de alho, uma cebola, um tomate, um maço de cheiro verde, coentro miúdo ou grande do mato, (que só nasce em terreiro de caiçara), coloque tudo já picado no panelão e deixe fritar no azeite de dendê. (O azeite de dendê eu adotei depois que um certo baiano, meu amigo, Wilhan Eduardo França, foi a minha casa preparar uma garoupa a moda baiana, onde colocou azeite de dendê, leite de coco, pimenta e outra baianarias; comi tanto que me desandou todo; fiquei três dias indo ao banheiro). Mas voltando ao amarelo marinho, que não desanda; depois de meio frito os ingredientes, coloque água pré-aquecida na panela e em seguida mergulhe o peixe seco, cortado em pedaços. Cinco minutos depois que começar a ferver, coloque sobre o peixe, mais ou menos meia dúzia de bananas nanica, meio verdolengas; espere amolecer e pronto.
O PIRÃO: Em vasilha separada, coloque de três a cinco xícaras de farinha de mandioca, (farinha de mandioca mesmo, daquelas feitas pelo pessoal do Mané Grande, do Francisquinho, da Dona Margarida, lá do sertão de Ubatumirim, não dessa serragem industrializadas que vendem em supermercado); separe as bananas e despeja o caldo amarelo fervendo em cima da farinha fazendo aquele angu escaldado; em seguida amasse as bananas, fazendo uma mistura só. –Pronto, está pronto o pirão, é só servir!!! Carque uma pinguinha, prepare um limão e uma malagueta e encha a pança. O salgado do peixe com o adocicado da banana no pirão faz com que a gente coma até o bicho fazer bico. –Para mim é a melhor comida do mundo! –Não me venha com esse papo de lasanha, estrogonofe, bacalhau, kibe, e outros escargô, que não bate no meu pirão de peixe seco! Ainda digo mais, assim como o azul marinho, o amarelo marinho também tem efeito genético, pois casal que queira ter filhos louros é só comer a coisa, ou melhor, o amarelo marinho, mas tem um segredo queconto em meu Livro
"Escrafunchando o Lagamá". - Julinho Mendes.
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