Confira agora a publicação da última parte do Especial A Pesca em Ubatuba - Estudo Socio Econômico publicado em 1973 pela extinta SUDELPA - Superintendência do Desenvolvimento do Litoral Paulista...
QUADRO 30
OPINIÕES SOBRE A NOVA ESTRADA BR-101
A BR-101
vai A BR-101 vai A BR-101 vai
Não
melhorar piorar deixar na mes-
Categorias sabe
o
local o local ma o local
%
% % %
Pescadores 80.2 9.3 2.1 8.3
1. Industriais 90.5 2.4 2.4 4.8
1.1 Tripulantes 91.9 2,7 2.7 2.7
1.2 Mestres 80.0 — — 20.0
2. Artesanais 68.2 18.6 9.5 9.5
2.1 Donos dos ap. de pesca 71.4 14.3 7.1 7.1
2.2
Camaradas 61.9 9.5 14.3 14.3
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A imensa maioria vê na futura estrada uma fonte de inúmeras melhorias
para
sua vida, pois mais de 80% dos pescadores acham que ela vai
beneficiar o local. Dentre as ca-
tegorias profissionais, os tripulantes são os mais
otimistas, pois 91.9% acham que a estrada tra-
rá melhorias, ao passo que a maior porcentagem dos
pessimistas está entre os artesanais pois
acham que com a estrada acabar-se-á o "sossego",
virão os "jagunços" tomadores de t e r r a ,
etc. . . Aliás essa diferença entre embarcados e artesanais
é significativa pois enquanto os primei-
ros, dada a sua maior mobilidade e desprendimento da
família, acham que a estrada só trará
benefício, os segundos, especialmente nas comunidades pouco
estruturadas, temem a desorgani-
zação social, a renovação. Entre os que acham que a estrada
vai piorar o local, estão os donos
de aparelhos de pesca, por vezes também negociantes que
temem a perda de seus privilégios.
Dentre os que encaram a estrada como uma melhoria, 31.3% acreditam que
aumentarão os recursos, tais como escolas, hospitais, e t c
, 29.5% pensam numa melhoria de
transportes.
É
interessante que nenhum das categorias relacionou a vinda das estradas
com a melhoria das atividades pesqueiras.
Em relação à permanência na pesca, mesmo com a vinda da BR-101, 44%
afirmaram que permanecerão na pesca, 21.9% procurarão outras
atividades, enquanto que mais
de 30% não sabem como proceder. Dentre as sub-categorias, os
mestres que sem dúvida são os
mais profissionais, querem permanecer na pesca, enquanto que
os camaradas tentarão outras
ocupações.
13. INDÚSTRIA DA
PESCA
A
rigor não se pode falar em "indústria de pesca" no Litoral Norte,
pois
com exceção de uma moderna unidade em S. Sebastião, os
demais são "firmas" artesanais que
trabalham com técnicas primitivas beneficiando uma
quantidade muito reduzida de pescado. São
"indústrias" que estão em crise permanente, devido
às dificuldades de entrarem numa produção
em escala maior, por diversas razões, entre as quais estão a
insuficiência e intermitência de for-
necimento de matéria prima. As indústrias artesanais mais
representativas são as salgas de sardi-
nhas em Ubatuba e Ilha Bela (defumação).
Como
se pode observar pelo Quadro 3 1 , a produção das chamadas salgas (de
Ubatuba e Ilha Bela) é relativamente pequena.
Essas pequenas empresas utilizam uma tecnologia bastante precária
especial-
mente as de Ilha Bela, que somente defumam e prensam a
sardinha. Os métodos aí são bastan-
te primitivos e todas as operações são manuais. Logo que a
sardinha é desembarcada é levada
aos tanques com sal e posteriormente aos fornos (em
tabuleiros). A sardinha defumada é leva-
da então para a secagem final (ao sol). Já a sardinha
prensada é levada a um tanque de água
fervendo, comprimida e levada para a secagem.
Em
Ubatuba as empresas são melhor organizadas e dispõem de equipamentos
para o enlatamento.
As
indústrias mais tradicionais têm grande dificuldade para seu funcionamen-
to, tais como: irregularidade no fornecimento da sardinha
dada a inexistência de gelo, altos cus-
tos de produção, incidência do ICM que onera o produto
(17%), inconstância da mão-de-obra,
falta de capital de giro e falta de capacidade técnica para
o lançamento de novos produtos.
As
salgas utilizam pouca mão de obra fixa. Em épocas de maior atividade,
quando a matéria prima é mais abundante, são recrutados
trabalhadores temporários e sem qual-
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QUADRO 31
FIRMAS DE BENEFICIAMENTO DE PESCADO NO L I T O R A L NORTE - 1969 - 1970
Prod. Anual Tempo de
Funcionamento - (Anos)
N9
médio de
Local N9 Tipo Méd./Firma
empregados
Ton. 1/9 10/19 Mais de 20
Ubatuba 4 Enlatamento 20 610 25% 75% —
e filetagem
de sardinha
Ilha Bela 4
Secagem e 7 25 — — 100%
defumação
São Sebastião 1
Filetagem, 300 1.134 100%
camarão des-
cascado, etc.
quer tipo de qualificação.
Por outro lado, as salgas de Ilha Bela tem, em geral, mais de 20 anos de
atividade, e não apresentaram até hoje, qualquer renovação
em seus métodos de beneficiamen-
to da sardinha defumada que conta com um mercado certo, mas
restrito, que é a colónia ja-
ponesa. A situação aí é de fato lastimável, pois nenhuma
delas pensava em lançar novos produ-
tos, procurar financiamento bancário, ou comprar novas
máquinas para aumentar a produção.
Mas
em Ubatuba, a situação era um pouco melhor, pois 50% das salgas pre-
tendiam lançar novos produtos e a quase totalidade pretendia
comprar máquinas novas para au-
mentar sua produção, que se destina, em parte, para o
próprio interior do Estado e para os
Estados do Nordeste. Das salgas de Ubatuba, 75% tinham
entrado em funcionamento há mais
de 10 anos.
Em
São Sebastião está instalada a única empresa moderna do género na re-
gião, ocupando mais de 300 operários e exportando a quase
totalidade de sua produção (cama-
rão) para o mercado internacional. É uma empresa que está
sempre se modernizando, mas é
justamente este processo que poupa a utilização da
mão-de-obra, tão importante para a região.
A CONFRIO por exemplo, adquiriu recentemente uma
descascadora automática de camarão que
faz o trabalho de mais de 100 operários.
Em
suma, constata-se uma crise geral nas empresas artesanais, cuja maioria
está à beira da falência, enquanto que por outro lado, as
firmas modernas que se instalaram
começam a poupar mão-de-obra local, agravando-se assim o
problema do sub-emprego.
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F I M
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