sexta-feira, 16 de abril de 2021

A PESCA EM UBATUBA - ESTUDO SÓCIO ECONOMICO - 1973 - 10 ª E ÚLTIMA PARTE

 

 


Confira    agora   a publicação da última parte   do Especial  A Pesca  em Ubatuba - Estudo Socio Econômico  publicado em 1973  pela extinta SUDELPA - Superintendência  do Desenvolvimento do Litoral Paulista...



QUADRO 30

                         OPINIÕES SOBRE A NOVA ESTRADA BR-101

                                     A BR-101 vai     A BR-101 vai       A BR-101 vai

                                                                                             Não

                                      melhorar           piorar          deixar na mes-

           Categorias                                                                        sabe

                                       o local           o local           ma o local

                                                                                             %

                                          %                  %                 %

 

 

   Pescadores                            80.2                9.3              2.1             8.3

 

   1. Industriais                       90.5                 2.4              2.4             4.8

     1.1   Tripulantes                  91.9                 2,7              2.7             2.7

     1.2   Mestres                      80.0                 —                —              20.0

 

   2. Artesanais                        68.2                18.6              9.5             9.5

     2.1   Donos dos ap. de pesca        71.4               14.3              7.1             7.1

     2.2 Camaradas                      61.9                 9.5             14.3            14.3

 

 

 

 

                                                                                                    55


                      A imensa maioria vê na futura estrada uma fonte de inúmeras melhorias para

sua vida, pois mais de 80% dos pescadores acham que ela vai beneficiar o local. Dentre as ca-

tegorias profissionais, os tripulantes são os mais otimistas, pois 91.9% acham que a estrada tra-

rá melhorias, ao passo que a maior porcentagem dos pessimistas está entre os artesanais pois

acham que com a estrada acabar-se-á o "sossego", virão os "jagunços" tomadores de t e r r a ,

etc. . . Aliás essa diferença entre embarcados e artesanais é significativa pois enquanto os primei-

ros, dada a sua maior mobilidade e desprendimento da família, acham que a estrada só trará

benefício, os segundos, especialmente nas comunidades pouco estruturadas, temem a desorgani-

zação social, a renovação. Entre os que acham que a estrada vai piorar o local, estão os donos

de aparelhos de pesca, por vezes também negociantes que temem a perda de seus privilégios.

                  Dentre os que encaram a estrada como uma melhoria, 31.3% acreditam que

aumentarão os recursos, tais como escolas, hospitais, e t c , 29.5% pensam numa melhoria de

transportes.

                 É interessante que nenhum das categorias relacionou a vinda das           estradas

com a melhoria das atividades pesqueiras.

                     Em relação à permanência na pesca, mesmo com a vinda da BR-101, 44%

afirmaram que permanecerão na pesca, 21.9% procurarão outras atividades, enquanto que mais

de 30% não sabem como proceder. Dentre as sub-categorias, os mestres que sem dúvida são os

mais profissionais, querem permanecer na pesca, enquanto que os camaradas tentarão outras

ocupações.

13.   INDÚSTRIA DA PESCA

                   A rigor não se pode falar em "indústria de pesca" no Litoral Norte, pois

com exceção de uma moderna unidade em S. Sebastião, os demais são "firmas" artesanais que

trabalham com técnicas primitivas beneficiando uma quantidade muito reduzida de pescado. São

"indústrias" que estão em crise permanente, devido às dificuldades de entrarem numa produção

em escala maior, por diversas razões, entre as quais estão a insuficiência e intermitência de for-

necimento de matéria prima. As indústrias artesanais mais representativas são as salgas de sardi-

nhas em Ubatuba e Ilha Bela (defumação).

                  Como se pode observar pelo Quadro 3 1 , a produção das chamadas salgas (de

Ubatuba e Ilha Bela) é relativamente pequena.

                    Essas pequenas empresas utilizam uma tecnologia bastante precária especial-

mente as de Ilha Bela, que somente defumam e prensam a sardinha. Os métodos aí são bastan-

te primitivos e todas as operações são manuais. Logo que a sardinha é desembarcada é levada

aos tanques com sal e posteriormente aos fornos (em tabuleiros). A sardinha defumada é leva-

da então para a secagem final (ao sol). Já a sardinha prensada é levada a um tanque de água

fervendo, comprimida e levada para a secagem.

                  Em Ubatuba as empresas são melhor organizadas e dispõem de equipamentos

para o enlatamento.

                    As indústrias mais tradicionais têm grande dificuldade para seu funcionamen-

to, tais como: irregularidade no fornecimento da sardinha dada a inexistência de gelo, altos cus-

tos de produção, incidência do ICM que onera o produto (17%), inconstância da mão-de-obra,

falta de capital de giro e falta de capacidade técnica para o lançamento de novos produtos.

                  As salgas utilizam pouca mão de obra fixa. Em épocas de maior atividade,

quando a matéria prima é mais abundante, são recrutados trabalhadores temporários e sem qual-

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QUADRO 31

                     FIRMAS DE BENEFICIAMENTO DE PESCADO NO L I T O R A L NORTE - 1969 - 1970

 

 

 

 

                                                        Prod. Anual      Tempo de Funcionamento - (Anos)

                                          N9 médio de

             Local   N9          Tipo                   Méd./Firma

                                          empregados

                                                           Ton.           1/9           10/19         Mais de 20

 

 

 

 Ubatuba             4     Enlatamento         20            610         25%             75%               —

 

 

                           e filetagem

                           de sardinha

 

 

 Ilha Bela           4    Secagem e             7             25         —               —                 100%

                          defumação

 

 

 São Sebastião       1     Filetagem,        300           1.134         100%

                          camarão des-

                          cascado, etc.


quer tipo de qualificação.

                    Por outro lado, as salgas de Ilha Bela tem, em geral, mais de 20 anos de

atividade, e não apresentaram até hoje, qualquer renovação em seus métodos de beneficiamen-

to da sardinha defumada que conta com um mercado certo, mas restrito, que é a colónia ja-

ponesa. A situação aí é de fato lastimável, pois nenhuma delas pensava em lançar novos produ-

tos, procurar financiamento bancário, ou comprar novas máquinas para aumentar a produção.

                  Mas em Ubatuba, a situação era um pouco melhor, pois 50% das salgas pre-

tendiam lançar novos produtos e a quase totalidade pretendia comprar máquinas novas para au-

mentar sua produção, que se destina, em parte, para o próprio interior do Estado e para os

Estados do Nordeste. Das salgas de Ubatuba, 75% tinham entrado em funcionamento há mais

de 10 anos.

                   Em São Sebastião está instalada a única empresa moderna do género na re-

gião, ocupando mais de 300 operários e exportando a quase totalidade de sua produção (cama-

rão) para o mercado internacional. É uma empresa que está sempre se modernizando, mas é

justamente este processo que poupa a utilização da mão-de-obra, tão importante para a região.

A CONFRIO por exemplo, adquiriu recentemente uma descascadora automática de camarão que

faz o trabalho de mais de 100 operários.

                    Em suma, constata-se uma crise geral nas empresas artesanais, cuja maioria

está à beira da falência, enquanto que por outro lado, as firmas modernas que se instalaram

começam a poupar mão-de-obra local, agravando-se assim o problema do sub-emprego.

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                        F I M

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