sexta-feira, 2 de abril de 2021

A PESCA EM UBATUBA - ESTUDO SÓCIO ECONOMICO - 1973 - 7 ª PARTE

 


QUADRO 20

 

                    DISTRIBUIÇÃO DE RENDAS NA PESCA -                UBATUBA

 

 

                                             Cr$     Cr$ 100/       Cr$ 200/

                Pescadores                                                     + 300        S.R.

                                            100,00    200,00         300,00

                                                                                %           %

                                              %         %             %

 

 

         UBATUBA

 

 

  Pescadores                                 13.2      30.8           18.7      29.7         7.7

  1. Industriais                              2.8      42.8          25.7       28.6        

 

     1.1. Tripulantes                         2.8      42.8          25.7       28.5        

 

     1.2. Mestre                                                            100.0        13.7

 

 

  2. Artesanais                              21.5      25.5           15.7      23.5        13.7

     2.1. Donos dos aparelhos de pesca       17.1      20.0           17.1                  14.3

     2.2 Camaradas                           31.2      37.5           12.5       6.3        12.5

 

 

 

                        Em Ubatuba cerca de 50% dos pescadores percebem menos que o salário

mínimo do Estado, vivendo portanto em condições econômico-sociais bastante precárias. É claro

que uma parte deles recebe outros rendimentos provenientes de atividades paralelas, mas mesmo

assim manifesta-se uma situação social muito difícil, pois somente 29.7% percebem      além de

Cr$ 3 0 0 , 0 0 . 


Entre os pescadores, os embarcados e mestres desfrutam uma situação um pouco

melhor, pois enquanto somente 2.8% destes declararam receber menos de Cr$ 100,00 por mês,

entre os artesanais esta produção se eleva a 21.5%. A situação se torna ainda pior no caso dos

artesanais camaradas, entre os quais 31.2% deles declararam perceber menos de Cr$ 100,00 por

més Entre os artesanais, 31.4% dos donos dos aparelhos de pesca percebem mais de Cr$ 300,00

mensais em média, incluindo-se principalmente os que possuem baleeiras, canoas motorizadas ou

donos de cercos flutuantes.

 

9. RELAÇÕES DE TRABALHO

QUADRO 21                    RELAÇÕES DE T R A B A L H O -    UBATUBA

 

               Categorias de Pescadores                       N.o                      %

 

 Pescadores                                                   91                    100.0

 

 

 1. Industriais                                               40                    100.0 (43.9)

     1.1. Tripulantes                                         35                    87.50

    1.2. Mestres                                                5                   12.50

 

 

 Z Artesanais                                                 51                    100.0 ( 56.1)

    2.1. Donos dos aparelhos de pesca                         35                    68.63

    2.2. Camaradas                                            16                    31.37

 

 

 

 

                                                                                                    43


                   Em Ubatuba, através da amostra, existem 43.9% de pescadores industriaiscor

tra 56.1% de artesanais. Dentre os primeiros, 87.5% são tripulantes, isto é, marinheiros;, moto-

ristas, cozinheiros, geladores e 12.5% são mestres.

                   Já entre os pescadores artesanais 68.63% são donos dos aparelhos de pesca

e 31.37% são camaradas.

                   Percebe-se portanto uma maior porcentagem de pescadores artesanais, aindé

que eles sejam em Ubatuba, responsáveis por uma pequena parcela d o pescado capturado, dada

a grande produção de sardinha da pesca industrial. Por outro lado, quase todo o pescado fino

incluindo o camarão, é capturado pelos pescadores artesanais. Entre estes pescadores, 28.5% tr»

balham sozinhos, não utilizam a rede e sim "linha". Em termos de renda, esses pescadores sãq

os mais pobres, geralmente.                                                                       i

                   O sistema de divisão do produto é bastante variado e depende sobretudo d

tipo de pesca. Em Ubatuba, na pesca industrial, uma vez descontados os gastos de gelo, óleo,

rancho, etc. . . 50% da produção fica para o barco (metade das partes), enquanto que o mestre

(se for também proeiro) recebe 6 partes, o motorista 2 partes, o cozinheiro 1/2 ou 2 partes,

o gelador 1/2 e os tripulantes uma parte cada um.

                   No caso da pesca semi-industrial, o sistema de partilhas se faz em 12 parte!

sendo 6 para a embarcação e 6 para a tripulação de 3 homens (depois de descontados os g

tos da embarcação).                                                                          ^

                   O sistema de partilha da pesca artesanal é muito variado e depende do tipc

da captura. Na pesca artesanal, não motorizada, em que participam 3 pescadores, o produto (

dividido em 4 quinhões: 1/4 para a rede e os 3/4 divididos entre os participantes.

                   A motorização das canoas baleeiras veio, até certo ponto, romper esse esque

ma tradicional de pescaria. Agora o equipamento mais importante deixa de ser a rede para sei

o motor. No caso da canoa motorizada, de uma maneira geral, o dono do motor é o doh(

também da rede. Nesse caso a divisão do produto se assemelha a da pesca industrial: desconta

do o custo do gelo, combustível, metade do pescado fica para a "canoa", enquanto que a o

tra metade é dividida entre os dois ou três participantes.

                    Essa nova divisão reflete também maior racionalidade que se introduz na pe

ca artesanal, com a contabilização dos custos. Nessa altura, ao contrário do que se observa ni

pesca artesanal simples, o pescador já necessita de uma contabilidade de custos e o principie

do lucro começa a se implantar.                                                                   i

                    Um fenómeno importante a ser analisado é o relacionamento social existen

te no processo da "partilha" ou distribuição do produto da pesca.

                    Entre os pescadores artesanais, o conflito parece existir somente na hora d

partilha, quando o dono da rede deixa de repartir todos os peixes e se apossa de um que, s

gundo o costume, deveria ser dividido pela metade. Segundo um informante, quando algum do

no de rede não trabalha certo, retendo algum peixe, " o pessoal fica chateado mas não reclama

aguenta o desaforo, com receio de ser expulso do grupo de pescaria". Nesse caso, o camarad

não se sente espoliado em termos económicos, mas a crítica é feita em termos morais: é u

desaforo.

              No caso da pesca semi-industrial, quando o mestre do barco trabalha com os parentes

este problema não existe, pois aí o embarcado não se sente um assalariado e sim um parceiro

               À   medida em que a pesca se industrializa e as relações de trabalho se apro

44


ximam do assalariamento os conflitos são mais marcados, ainda que em nenhum momento ele

se aproxime de um conflito "fabril".

                    O embarcado tenta fazer seus cálculos quanto à parte que lhe caberá no fim

do mês O que acontece geralmente é que não dispondo de informações em custos de óleo, gelo

e I.N.P.S., etc, o tripulante recebe bem menos do que esperava, ficando muitas vezes "depen-

durado". Nesse caso, o seu protesto é abandonar o barco "deficitário" e ir buscar outro. As

informações coletadas informam que os embarcados mudam frequentemente de barcos, mais de

uma vez por ano. Em Picinguaba, por exemplo, 80% dos embarcados tinham t r a b a l h a d o em

mais de 9 barcos, sugerindo grande mobilidade da população, que sempre procura as embarca-

ções onde as partes sejam maiores. Dentro deste conflito, é importante o papel desempenhado

pelo "mestre". Muitos embarcados consideram a maioria dos mestres vendidos aos "armadores"

8 por isso diminuem o valor da parte do tripulante para ficar mais para ele e para o dono do

barco.

 

                   Apesar disso existe, em Ubatuba, um sistema de lealdade entre a tripulação e

o mestre, que escolhe os homens com quem vai trabalhar. Em muitos casos um conflito com

o armador que leve à demissão do mestre significa a demissão conjunta da tripulação ou parte

dela que veio para o barco com o mestre. Este sistema de lealdade se fundamenta na maioria

das vezes, no local de procedência do mestre e da tripulação, pois no "claro" ele leva o barco

para a praia onde mora a tripulação.

                   Essa relação entre mestre e tripulação parece ser mais conflituosa quando as

partes provêm de praias ou lugares diferentes. No entanto esse aspecto merecia também uma pes-

quisa mais aprofundada.

 

                   Ainda no que diz respeito às relações e à divisão de trabalho, a pesca indus-

trial em Ubatuba, merece algumas considerações mais aprofundadas.

                    Entre os embarcados 51.5% trabalham nos barcos a menos de 10 anos, e mais

de 30% entre 1 e 4 anos indicando que o setor ainda recebe contingentes apreciáveis de indi-

víduos, os quais, como se viu, em sua grande maioria são provenientes da zona rural. Em rela-

ção às opiniões sobre o trabalho de embarcado, 71.3% responderam que o acham bom, 17.1%

regular e 2.8% ruim, sugerindo que comparativamente ao trabalho agrícola, a pesca embarcada,

apesar da rudeza da atividade é a preferida. Percebe-se aliás, que apesar de acharem bom o tra-

balho, a propriedade de um barco é sempre desejada pois 85.7% deles responderam que se fos-

se possível gostariam de trabalhar por conta própria.

                    Os embarcados, aliás, afirmam que a pesca da sardinha é dura "pior mesmo

é só a roça que não dá mais nada". No inverno, com o frio, as noites no mar se tornam di-

fíceis, o que ocasiona o desemprego temporário de alguns que preferem voltar às praias, traba-

lhando nos cercos, ou em algumas atividades pouco lucrativas. Essas idas e vindas, revelam, por

outro lado, que o grau de profissionalização não é muito elevado entre esses pescadores.

                   A existência, até a década de 1940 dos corajosos remadores e mestres das

canoas de voga sugeria que o grau de profissionalização dos pescadores em Ubatuba, fosse mai-

or, pois aqueles marinheiros tem até hoje uma fama legendária. Os velhos pescadores se lem-

bram de um mestre de voga que numa noite de tormenta pegou um vento sul sinistro em São

Sebastião e quando todos o julgavam morto, arribou em Picinguaba na madrugada seguinte. De

fato, nada melhor que um mestre de voga para ser responsável pela traineira pois conhecia o

mar na palma da mão.

                 Apesar disso, pelas informações que foi possível coletar, nenhum deles se

 

 

                                                                                             45


tornou mestre de barco de pesca. Estes foram ensinados pelos de Santos e Rio de Janeiro.

                  Os mestres representam um papel muito importante na pesca de Ubatuba

os que tem prática são sempre solicitados pelas empresas pois, em última análise, a responsabi]

iidade do barco depende deles. Em termos sociais eles gozam de grande prestígio local, seja pol

que podem escolher a tripulação seja pela renda mais elevada de que desfrutam,     manifestadi

por símbolos como uma boa casa de alvenaria, fogão a gás, etc.

                 A totalidade dos mestres pesquisados tinham aprendido a profissão na práti]

ca e uma parte considerável deles só tinha licença da capitania, e não a carta de mestre.

10. CARACTERÍSTICAS G E R A I S DA POPULAÇÃO DE PESCADORES

     10.1 Estrutura Etária

QUADRO 22

                    E S T R U T U R A ETÃRIA DOS PESCADORES -          UBATUBA

                                                             Taxas de Idade

             Categorias

                                   10/          20/          30/          40/          +              To-

                                         %            %            %            %              %

                                   19           29           39           49           50             tal

     Pescadores                     7    7.8    22    24.1   17    18.7 19      20.9   26      28.5 91

     Pescadores Industriais         5    12.5   14    35.0   10    25.0    9    25.5       2    5.0   40

     Pescadores Artesanais          2    3.9     8    15.7    7    13.7   10    19.7   24      47.0   51

                     A análise das idades é significativa na medida em que é possível comparar

os pescadores industriais com os artesanais. Em Ubatuba, enquanto que somente 30.5% dos pes-

cadores industriais tem mais que 40 anos, essa porcentagem se eleva a mais de 66.5% entre os

artesanais. Isso revela que há pouca incorporação de indivíduos jovens a esse tipo de pesca,

pois se entre os pescadores industriais há mais de 47.5% entre 10/30 anos de idade, a propor-

ção decresce visivelmente entre os artesanais que só contam com 19.6% nessa faixa. A estrutu-

ra etária revela portanto, que enquanto os indivíduos jovens ingressam na pesca embarcada, o

mesmo não ocorre entre os artesanais. Aliás, uma rápida análise na composição etária dos nú

cleos, mostra que em Picinguaba, existe 32% dos pescadores com mais de 40 anos, en-

quanto que em Maranduba, onde predomina a pesca artesanal, 100% dos pescadores tem mais de 50

anos. No Lázaro (outro núcleo artesanal penetrado pelo turismo) a proporção de pescadores

com mais de 50 anos se eleva também a 66%.

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      10.2.   A Mobilidade Geográfica



CONTINUA..............DIA 05  DE   ABRIL DE 2021  COM A 8 ª PARTE

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