Imagem meramente ilustrativa , não faz parte do conteudo original deste especial sobre a Pesca em Ubatuba - Estudo Socio Ecomnomico
8.1. A Pesca Industrial em Ubatuba
Apesar da pesca industrial ser efetuada por somente 3.1% das embarcações
é
ela responsável por mais de 90% da produção obtida. Os
barcos, em geral maiores de 18m., se
dedicam à pesca da sardinha enquanto que outros, de mais de
9-1 Om. estão empenhados na
pesca do cação, tendo por base o Saco da Ribeira.
Quanto aos sardinheiros, foram considerados barcos fixos aqueles que
descar-
regam no entreposto constantemente durante pelo menos 3
meses. Esses representaram 20% das
embarcações em 1967; 15.4% em 1969 e 21.2% em 1970.
Esses
barcos pertencem a empresas
locais possuidoras de indústrias de pesca. A produtividade
por barco tem aumentado considera-
velmente pois de 1967 a 1970 houve um aumento de 241.8% para
os barcos fixos. No entan-
to, o mesmo não ocorre com o valor obtido que no mesmo
período aumentou somente 5.9%.
Os demais barcos, que representam 78.8% em 1970 são
considerados ocasionais, descarregando
no entreposto de modo descontínuo.
O
Quadro 15 mostra uma evolução positiva na entrega dos barcos fixos que
passam de uma média de 13.553 kg. em 1967 para 37.945 kg. em
1969 e 46.331 kg. em 1970.
No entanto, a esse aumento de produção média não
correspondeu um aumento no valor ob-
tido, que em 1970 foi inferior ao de 1969. Esses dados, por
outro lado, não representam a
produção média por barco, pois foi obtido a partir das
descargas em Ubatuba, enquanto que o maior
número de descargas se fez em Santos e no Rio de Janeiro.
Quanto às características da frota, os barcos que normalmente
descarregam
sardinha em Ubatuba são considerados médios e grandes pela
classificação do Instituto de Pesca
e trabalham 21 dias por mês (tempo do escuro).
É
mais significativo ver a produção média dos 3 barcos mais fixos em Uba-
tuba (Guaiuba I, II e Amapá).
A
produção média mensal desses 3 barcos que pescaram o ano inteiro em
1967, 69 e 70 mostram que houve um aumento anual: 36.166 kg.
por mês no 1 .o ano, 57.434
por mês no 2.0 ano, e 80.467 no último ano. Quanto à renda
obtida, pode-se perceber contí-
nuas alterações dada a instabilidade e a queda progressiva
do preço real da sardinha (0.27 em
68, Cr$ 0,32 em 69, e 0,25 em 1970). Em 1969 a renda média
mensal, obtida pela descarga
da sardinha em Ubatuba, foi de Cr$ 18.378,00 por barco. Em
1970, com a produção quase
duplicada, a renda média mensal por barco, foi de apenas
20.126,00. Comparativamente portan-
to, apesar de pescarem mais, os sardinheiros receberam menos
pelo seu produto.
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QUADRO 14
CANOAS, CANOAS MOTORIZADAS, B A L E E I R A S E BARCOS - 1971
Locais Embarcações Canoas a Remo Canoas Motorizadas e Baleeiras Barcos
N9 % N? % N9 %
Ubatuba 339 250 73.7 75 22.1 14 4.1
Iguapé 603 487 80.7 112 18.5 4 0.8
Cananéia 280 200 71.4 54 19.2 26 9.2
TOTAL 1.222 937 76.6 241 19.7 44 3.6
QUADRO 15
CAPTURA DA PESCA
INDUSTRIAL - UBATUBA
19 6 7 1
9 6 9
19 7 0
Meses de entrega
por Prod.
Média Valor méd./ Prod. Média Valor Médio Prod. Média Valor Médio
NO. de % NO. de NO.
de %
Ano p/
Barco barco/més em % p/ Barco p/barco/mês p/ Barco p/barco/més
barcos
barcos
barcos
Mês
- Kg. Cr$ Mês - Kg. em
C r $ Mês - Kg. em C r $
1 a 3 meses 40 80,0 6615 44 84 6 7 162 37 78 7 8.309
4 ou mais meses 10 20,0 13.553 7.454,00 8
154 37.945 16.958.00 10
21 2 46.331 14.362,00
Preços deflacionados: C E A G E S P
1967 C r $
0,55
1969 C r $
0,44
1970 Cr$0,31
8.2. Pesca
Semi-Industrial
Em
Ubatuba, além da pesca industrial existe a semi-industrial e a artesanal
motorizada, que se centraliza no Portinho, próximo do
mercado e no Saco da Ribeira. No Por-
tinho existem 8 baleeiras, 18 botes (baleeiras com coberta)
e 10 canoas motorizadas. Essa pe-
quena frota se dedica à pesca do camarão 7 barbas, à pesca
de linha (espinhei), sendo que
aproximadamente 8 barcou se dedicam à pesca do cação
abastecendo o mercado local nas tem-
poradas, e vendendo o excedente ao CEAGESP. De uma maneira
geral, os barcos são de pro-
priedade individual mas existem também uns poucos
"armadores" que possuem 2 ou 3 botes.
O
estudo de um dos barcos da pesca semi-industrial em 1971 (barcos de 8
a 11 m., motor 15-30 HP, 4 ton. de armazenamento a bordo e
com uma tripulação de 3 pes-
soas) mostram que a produção média mensal desses barcos está
por volta de 3.350 kg c o m
uma receita líquida de Cr$ 3.200 por mês. Como se constata,
há uma semelhança grande entre
as receitas médias líquidas desse tipo de embarcação
semi-industrial em Cananéia (Cr$ 3.250,00)
e Ubatuba (Cr$ 3.200,00). (Ver Quadro de produtividade em
anexo).
8.3. Pesca
Artesanal
Como
já foi constatado, a pesca artesanal é a que ocupa o maior número de
pescadores do município. Essa pesca é realizada por
pescadores que utilizam canoas a remo
(73.2%) e canoas motorizadas (26.8%).
Ainda segundo a pesquisa realizada os equipamentos mais comuns
existentes
nas viias são o
tresfnalho, as redes de arrasto de praia, o espinhei, a rede para camarão e o
l^rco flutuante.
Quanto aos equipamentos de
pesca 14.2% dos pescadores donos de apare-
lhos, declaraiam possuir arrasto de praia, 74.2% pescavam com pequenos tresmalhos, redes para
camarões e espinheis (geralmente para cações) e 20.0% eram possuidores de cercos f l u t u
a n t e s .
Normalmente os instrumentos de pesca são velhos, exigindo constantes consertos após a
pescaria.
Dentre as técnicas já mencionadas na captura artesanal existe uma que
me-
rece especial atenção: o cerco flutuante.
No
Litoral Norte, ao contrário do Sul, o cerco é flutuante, de dimensões e
custos muito maiores. Enquanto o cerco fixo não alcança Cr$
1.000,00, o flutuante é bem
mais caro (feito de nylon) atingindo Cr$ 16.000,00 (com 120
braças de volta). A produtivida-
de desta armadilha é bem mais elevada que a do fixo,
capturando espada, bonito, cavala, soro-
roca, xareu, etc. Em 1971, um dos cercos médios instalados
na Ilha Anchieta capturou uma mé-
dia mensal de 4.050 kg., num valor de Cr$ 2.000,00 mensais.
É efetivamente um aparelho de
alta proouiividade se se comparar com um barco médio, de
frota semi-industrial que capturou,
por volta de 3.350 kg. mensais, num valor de Cr$ 3.200,00,
em 1971. Existem no município
cerca de 25 desses cercos flutuantes.
8.4. Tecnologia e
produção
Além das análises já elaboradas a respeito da produtividade da pesca em
seus seto-
res artesanais, semi-industriais, a título de
complementação, algumas informações adicionais tornarão
possíveis de compreender outros aspectos da tecnologia e
produtividade dos pescadores de Ubatuba.
8.4.1. Produção média por mês
O
Quadro 16 mostra comparativamente a produção dos pescadores artesanais
nos municípios de Ubatuba e Cananéia, segundo a amostra coletada
pelas pesquisas.
39
QUADRO 16
PRODUÇÃO MÉDIA DOS PESCADORES POR MÊS
Produção enn kg. por mês em 1971
Pescadores
0/99 % 100/199 %
200/499 % + 500
%
Ubatuba 26 59.0 3 6.8 7 15.9
8 1B.1
Cananéia 142 64.2 50 22.6 23 10.4
6 2.7
OBS.:— Ubatuba (15.7 não souberam responder às questões)
Em
Ubatuba, como se pode observar pela tabela acima, mais de 50% dos
pescadores pesca por mês em média menos de 100 kg., o que
significa que de fato a produti-
vidade deles é bastante baixa. Dentre os pescadores
artesanais, ainda 59.0% dos donos de apa-
relhos de pesca pescam menos de 100 kg. por mês ao passo que
dentre os camaradas (parcei-
ros) essa porcentagem se eleva a 62.6%. Por outro lado,
enquanto 17.1% dos donos de apare-
lhos de pesca tem uma produção superior a 500 kg. mensais,
somente 18.1% dos camaradas
atingem tal produção.
8.4.2. Frequência de Dias de Pesca
QUADRO 17
FREQUÊNCIA DE
DIAS DE PESCA
Dias
por Mês de pesca — Ubatuba
Categoria de
Pescadores
1/10 % 11/20 %
20/30 % S.R.
%
Pescadores:
1. Industriais 40 100,0
1.1.
Tripulantes
35 100,0
1. 2. Mestres
5 100,0
2. Artesanais 19 37.1 14 27.5 16
31.4 2 4.0
2. 1. Donos dos
Aparelhos
de
Pesca 11 31.4 11 31.4 11
31.4 2 5.7
2. 2.
Camaradas 8 50.0 3 18.7 5
31.2 — —
O
Quadro 17 permite visualizar a frequência com que os pescadores vão à
pesca em Ubatuba, revelando a intensidade pesqueira na
região.
Enquanto 100% dos pescadores
industriais passam mais de 20 dias por mês
em pescarias, sc^^gjte 31,4% dos artesanais o fazem. Entre
esses últimos, são evidentemente os
40
motorizados que passam mais tempo em pescaria por mês.
Dentre os artesanais mais de 50% pescam
somente até 10 dias, revelando a
dificuldade já constatada por outras pesquisas em se
encontrar camaradas ou companheiros para
a pescaria.
De
fato, como já se afirmou anteriormente, a pesca artesanal s o f r e u um
grande esvaziamento em Ubatuba e é um estrato marginal num
setor da atividade económica
igualmente marginal.
Uma
informação relativa à frequência da atividade pesqueira é a opinião dos
pescadores sobre o estoque marítimo. No caso de Ubatuba, a
experiência dos pescadores sobre
o aumento ou diminuição do estoque é bastante significativa.
QUADRO 18
OPINIÃO SOBRE O ESTOQUE MARINHO EM UBATUBA
Não
Categoria Estável % Aumentan.
% Diminuin. % %
Sabe
Pescadores: 41 45.0 10
11.0 34 37.4
6 6.6
1. Industriais 26 65.0 - 6
15.0 5 12.5
3 7.5
1. 1.
Embarcados 22 62.8 6
17.1 4 11.4
3 8.5
1. 2. Mestre de
Barco 4 80.0 — — 1
20.0 — —
2. Artesanais 29.5 , 7.a 29
C56.8> 3 5.9
2. 1. Donos de apa-
relhos de
pesca 9 25.7 2 5.7
22 62.9 2
5.7
2. 2.
Camaradas 6 37.5 2
12.5 7 43.7
1 6.2
Enquanto 65.0% dos pescadores industriais afirmam que nos últimos anos
de
pesca não têm percebido diminuição do estoque, entre os
pescadores artesanais 56.8 a f i r m a m
que o peixe tem escasseado nas proximidades da praia e
costumam atribuir a causa- ao arrasto
sistemático das "parelhas" que varrem a área
diariamente.
8.5. Noções de
Valor
A noção de racionalidade é considerada muito importante e pode ser uma
das variáveis utilizadas para medir o funcionamento de uma
economia de mercado.
O
comportamento racional, que no caso estudado é uma adequação da ação
dirigida à produção do lucro se distribuiu irregularmente
entre os indivíduos segundo sua me-
nor ou maior participação na economia do mercado. A análise
dos custos de produção pode ser
um indicador do nível de racionalidade da produção
artesanal.
41
QUADRO 19
CUSTOS DE PRODUÇÃO
Gastos com
canoas e motor
%
Soube
informar
71.5
Não Soube
informar
19.0
Não
Respondeu
9.5
O
custo da manutenção da canoa e do motor é avaliado por 71.5% dos en-
trevistados, ao passo que aproximadamente 20% dos pescadores
não tinha ideia de quanto gas-
tavam por ano no conserto da embarcação, do motor, etc. É
desnecessário se dizer que à me-
dida em que os pescadores se motorizam, o que sem dúvida é
um indício de maior profissio-
nalização, os custos eram mais conhecidos.
De
uma maneira geral, os pescadores artesanais não motorizados não têm
nocãc do valor trabalho, que não é computado entre os custos
de produção.
Entre
os pescadores artesanais, donos de aparelho de pesca, 30.0% ignoravam
o lempo de uso de suas embarcações a remo. Entre os que
sabiam, mais de 61.0 tinham suas
embarcações com mais de 5 anos de uso.
Já no
estrato dos donos de canoas motorizadas somente 16% ignoravam o
'empo de uso ae suas embarcações e 70% tinham embarcações há
mais de 5 anos.
Mais de 90% dos pescadores motorizados conheciam o valor de suas embar-
cações, que, em 1972 valiam entre Cr$ 1.000,00 e 3.000,00,
de acordo com a potência do mo-
tor e a conservação da canoa.
Por
outro lado, a racionalidade implica também no selecionamento de esoé-
ctes que tem mais valor no mercado. À medida em que o
pescador se profissionaliza, ele vai
procurar pescar os peixes que tem melhor valor no mercado,
desligando-se assim da mera subsis-
tência em que qualquer peixe servia.
Nas
praias do Litoral Norte, de uma maneira geral, existe também a seleção
dos pescados segundo o seu maior valor de mercado,
sobressaindo a pescada, a enchova, a ga-
roupa, a cavala e o robalo.
8.6. Renda
A
análise da renda auferida pelos pescadores dá o sentido da precariedade
das condições de vida em que vivem.
42
QUADRO 20
DISTRIBUIÇÃO DE RENDAS NA PESCA - UBATUBA
Cr$ Cr$ 100/ Cr$ 200/
Pescadores
+ 300 S.R.
100,00 200,00 300,00
% %
% % %
UBATUBA
Pescadores 13.2 30.8 18.7 29.7 7.7
1. Industriais 2.8 42.8 25.7 28.6 —
1.1.
Tripulantes
2.8 42.8 25.7 28.5 —
1.2. Mestre — — — 100.0 13.7
2. Artesanais 21.5 25.5 15.7 23.5 13.7
2.1. Donos dos
aparelhos de pesca 17.1 20.0 17.1 14.3
2.2
Camaradas
31.2 37.5 12.5 6.3 12.5
Em Ubatuba cerca de 50% dos pescadores percebem menos que o salário
mínimo do Estado, vivendo portanto em condições
econômico-sociais bastante precárias. É claro
que uma parte deles recebe outros rendimentos provenientes
de atividades paralelas, mas mesmo
assim manifesta-se uma situação social muito difícil, pois
somente 29.7% percebem além de
Cr$ 3 0 0 , 0 0 . Entre os pescadores, os embarcados e
mestres desfrutam uma situação um pouco
melhor, pois enquanto somente 2.8% destes declararam receber
menos de Cr$ 100,00 por mês,
entre os artesanais esta produção se eleva a 21.5%. A
situação se torna ainda pior no caso dos
artesanais camaradas, entre os quais 31.2% deles declararam
perceber menos de Cr$ 100,00 por
més Entre os artesanais, 31.4% dos donos dos aparelhos de
pesca percebem mais de Cr$ 300,00
mensais em média, incluindo-se principalmente os que possuem
baleeiras, canoas motorizadas ou
donos de cercos flutuantes.
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