segunda-feira, 29 de março de 2021

A PESCA EM UBATUBA - ESTUDO SÓCIO ECONOMICO - 1973 - 6 ª PARTE


Imagem meramente ilustrativa , não faz parte    do conteudo original deste  especial  sobre a Pesca em Ubatuba - Estudo Socio Ecomnomico

8.1. A Pesca Industrial em Ubatuba

 

                   Apesar da pesca industrial ser efetuada por somente 3.1% das embarcações é

ela responsável por mais de 90% da produção obtida. Os barcos, em geral maiores de 18m., se

dedicam à pesca da sardinha enquanto que outros, de mais de 9-1 Om. estão empenhados na

pesca do cação, tendo por base o Saco da Ribeira.

                    Quanto aos sardinheiros, foram considerados barcos fixos aqueles que descar-

regam no entreposto constantemente durante pelo menos 3 meses. Esses representaram 20% das

embarcações em 1967; 15.4% em 1969 e 21.2% em 1970.


 Esses barcos pertencem a empresas

locais possuidoras de indústrias de pesca. A produtividade por barco tem aumentado considera-

velmente pois de 1967 a 1970 houve um aumento de 241.8% para os barcos fixos. No entan-

to, o mesmo não ocorre com o valor obtido que no mesmo período aumentou somente 5.9%.

Os demais barcos, que representam 78.8% em 1970 são considerados ocasionais, descarregando

no entreposto de modo descontínuo.

                  O Quadro 15 mostra uma evolução positiva na entrega dos barcos fixos que

passam de uma média de 13.553 kg. em 1967 para 37.945 kg. em 1969 e 46.331 kg. em 1970.

No entanto, a esse aumento de produção média não correspondeu um aumento no valor ob-

tido, que em 1970 foi inferior ao de 1969. Esses dados, por outro lado, não representam        a

produção média por barco, pois foi obtido a partir das descargas em Ubatuba, enquanto que o maior

número de descargas se fez em Santos e no Rio de Janeiro.

                  Quanto às características da frota, os barcos que normalmente descarregam

sardinha em Ubatuba são considerados médios e grandes pela classificação do Instituto de Pesca

e trabalham 21 dias por mês (tempo do escuro).

                   É mais significativo ver a produção média dos 3 barcos mais fixos em Uba-

tuba (Guaiuba I, II e Amapá).

                   A produção média mensal desses 3 barcos que pescaram o ano inteiro em

1967, 69 e 70 mostram que houve um aumento anual: 36.166 kg. por mês no 1 .o ano, 57.434

por mês no 2.0 ano, e 80.467 no último ano. Quanto à renda obtida, pode-se perceber contí-

nuas alterações dada a instabilidade e a queda progressiva do preço real da sardinha (0.27 em

68, Cr$ 0,32 em 69, e 0,25 em 1970). Em 1969 a renda média mensal, obtida pela descarga

da sardinha em Ubatuba, foi de Cr$ 18.378,00 por barco. Em 1970, com a produção quase

duplicada, a renda média mensal por barco, foi de apenas 20.126,00. Comparativamente portan-

to, apesar de pescarem mais, os sardinheiros receberam menos pelo seu produto.

 

 

 

 

                                                                                              35


QUADRO 14

                     CANOAS, CANOAS MOTORIZADAS, B A L E E I R A S E BARCOS - 1971

 

 

 

 

            Locais   Embarcações            Canoas a Remo      Canoas Motorizadas e Baleeiras        Barcos

 

 

 

                                       N9               %           N?               %          N9            %

 

 

 

 

 Ubatuba                  339         250              73.7          75            22.1         14            4.1

 

 

 Iguapé                   603         487              80.7        112             18.5          4            0.8

 

 

 Cananéia                 280         200              71.4         54             19.2         26            9.2

 

 

 

 

 TOTAL                  1.222         937              76.6        241             19.7         44            3.6


QUADRO    15

                                                                   CAPTURA     DA PESCA   INDUSTRIAL -      UBATUBA

                                           19     6 7                                             1 9 6 9                                         19     7 0

 Meses de entrega

       por                                  Prod. Média          Valor méd./                          Prod. Média   Valor Médio                   Prod. Média     Valor Médio

                    NO. de          %                                           NO. de                                            NO. de    %

       Ano                                      p/ Barco     barco/més em                   %          p/ Barco     p/barco/mês                        p/ Barco   p/barco/més

                    barcos                                                       barcos                                           barcos

                                            Mês - Kg.               Cr$                               Mês - Kg.       em C r $                     Mês - Kg.        em C r $

  1 a 3 meses        40            80,0          6615                            44        84 6         7 162                      37      78 7         8.309

  4 ou mais meses    10            20,0         13.553             7.454,00        8       154         37.945        16.958.00      10     21 2        46.331      14.362,00

                          Preços deflacionados: C E A G E S P

                          1967                      C r $ 0,55

                          1969                      C r $ 0,44

                          1970                      Cr$0,31


   8.2. Pesca Semi-Industrial

 

                    Em Ubatuba, além da pesca industrial existe a semi-industrial e a artesanal

motorizada, que se centraliza no Portinho, próximo do mercado e no Saco da Ribeira. No Por-

tinho existem 8 baleeiras, 18 botes (baleeiras com coberta) e 10 canoas motorizadas. Essa pe-

quena frota se dedica à pesca do camarão 7 barbas, à pesca de linha (espinhei), sendo que

aproximadamente 8 barcou se dedicam à pesca do cação abastecendo o mercado local nas tem-

poradas, e vendendo o excedente ao CEAGESP. De uma maneira geral, os barcos são de pro-

priedade individual mas existem também uns poucos "armadores" que possuem 2 ou 3 botes.

                    O estudo de um dos barcos da pesca semi-industrial em 1971 (barcos de 8

a 11 m., motor 15-30 HP, 4 ton. de armazenamento a bordo e com uma tripulação de 3 pes-

soas) mostram que a produção média mensal desses barcos está por volta de 3.350 kg c o m

uma receita líquida de Cr$ 3.200 por mês. Como se constata, há uma semelhança grande entre

as receitas médias líquidas desse tipo de embarcação semi-industrial em Cananéia (Cr$ 3.250,00)

e Ubatuba (Cr$ 3.200,00). (Ver Quadro de produtividade em anexo).

 

 

   8.3. Pesca Artesanal

 

                  Como já foi constatado, a pesca artesanal é a que ocupa o maior número de

pescadores do município. Essa pesca é realizada por pescadores que utilizam canoas a  remo

(73.2%) e canoas motorizadas (26.8%).

                     Ainda segundo a pesquisa realizada os equipamentos mais comuns existentes

 nas viias são o tresfnalho, as redes de arrasto de praia, o espinhei, a rede para camarão e o

l^rco flutuante.

                   Quanto aos equipamentos de      pesca 14.2% dos pescadores donos de apare-

lhos, declaraiam possuir arrasto de praia, 74.2%   pescavam com pequenos tresmalhos, redes para

camarões e espinheis (geralmente para cações) e    20.0% eram possuidores de cercos f l u t u a n t e s .

Normalmente os instrumentos de pesca são velhos,   exigindo constantes consertos após a pescaria.

                    Dentre as técnicas já mencionadas na captura artesanal existe uma que me-

rece especial atenção: o cerco flutuante.

                    No Litoral Norte, ao contrário do Sul, o cerco é flutuante, de dimensões e

custos muito maiores. Enquanto o cerco fixo não alcança Cr$ 1.000,00, o flutuante é bem

mais caro (feito de nylon) atingindo Cr$ 16.000,00 (com 120 braças de volta). A produtivida-

de desta armadilha é bem mais elevada que a do fixo, capturando espada, bonito, cavala, soro-

roca, xareu, etc. Em 1971, um dos cercos médios instalados na Ilha Anchieta capturou uma mé-

dia mensal de 4.050 kg., num valor de Cr$ 2.000,00 mensais. É efetivamente um aparelho de

alta proouiividade se se comparar com um barco médio, de frota semi-industrial que capturou,

por volta de 3.350 kg. mensais, num valor de Cr$ 3.200,00, em 1971. Existem no município

cerca de 25 desses cercos flutuantes.

 

   8.4. Tecnologia e produção

                      Além das análises já elaboradas a respeito da produtividade da pesca em seus seto-

res artesanais, semi-industriais, a título de complementação, algumas informações adicionais tornarão

possíveis de compreender outros aspectos da tecnologia e produtividade dos pescadores de Ubatuba.

 

 

       8.4.1.   Produção média por mês

                  O Quadro 16 mostra comparativamente a produção dos pescadores artesanais

nos municípios de Ubatuba e Cananéia, segundo a amostra coletada pelas pesquisas.

 

 

                                                                                                      39


QUADRO 16

                        PRODUÇÃO MÉDIA DOS PESCADORES POR MÊS

                                                Produção enn kg. por mês em 1971

       Pescadores

                          0/99          %          100/199        %          200/499     %      + 500   %

     Ubatuba                26         59.0           3            6.8          7       15.9     8      1B.1

     Cananéia              142         64.2          50           22.6         23       10.4     6       2.7

OBS.:— Ubatuba (15.7 não souberam responder às questões)

                    Em Ubatuba, como se pode observar pela tabela acima, mais de 50% dos

pescadores pesca por mês em média menos de 100 kg., o que significa que de fato a produti-

vidade deles é bastante baixa. Dentre os pescadores artesanais, ainda 59.0% dos donos de apa-

relhos de pesca pescam menos de 100 kg. por mês ao passo que dentre os camaradas (parcei-

ros) essa porcentagem se eleva a 62.6%. Por outro lado, enquanto 17.1% dos donos de apare-

lhos de pesca tem uma produção superior a 500 kg. mensais, somente 18.1% dos camaradas

atingem tal produção.

          8.4.2.    Frequência de Dias de Pesca

QUADRO 17

                                 FREQUÊNCIA DE DIAS DE PESCA

                                                     Dias por Mês de pesca — Ubatuba

 Categoria de Pescadores

                                 1/10          %          11/20          %     20/30     %      S.R.     %

 Pescadores:

 1. Industriais                                                                 40      100,0

    1.1. Tripulantes                                                            35      100,0

    1. 2. Mestres                                                                5      100,0

 2. Artesanais                    19          37.1         14         27.5      16       31.4     2     4.0

    2. 1. Donos dos

          Aparelhos

          de Pesca                11          31.4         11         31.4      11       31.4     2      5.7

     2. 2. Camaradas               8          50.0           3        18.7          5    31.2          

                 O Quadro 17 permite visualizar a frequência com que os pescadores vão à

pesca em Ubatuba, revelando a intensidade pesqueira na região.

                   Enquanto 100% dos pescadores industriais passam mais de 20 dias por mês

em pescarias, sc^^gjte 31,4% dos artesanais o fazem. Entre esses últimos, são evidentemente os

40


motorizados que passam mais tempo em pescaria por mês.

                    Dentre os artesanais mais de 50% pescam somente até 10 dias, revelando a

dificuldade já constatada por outras pesquisas em se encontrar camaradas ou companheiros para

a pescaria.

                   De fato, como já se afirmou anteriormente, a pesca artesanal s o f r e u um

grande esvaziamento em Ubatuba e é um estrato marginal num setor da atividade económica

igualmente marginal.

                   Uma informação relativa à frequência da atividade pesqueira é a opinião dos

pescadores sobre o estoque marítimo. No caso de Ubatuba, a experiência dos pescadores sobre

o aumento ou diminuição do estoque é bastante significativa.

 

QUADRO 18

 

                     OPINIÃO SOBRE O ESTOQUE MARINHO EM UBATUBA

 

 

                                                                                      Não

       Categoria           Estável    %       Aumentan.    %     Diminuin.     %               %

                                                                                      Sabe

 

 

 Pescadores:                 41      45.0        10       11.0      34       37.4      6      6.6

 1. Industriais              26      65.0 -       6       15.0       5        12.5     3      7.5

    1. 1. Embarcados         22      62.8         6       17.1       4        11.4     3      8.5

 

   1. 2. Mestre de

         Barco                4      80.0                          1       20.0            

 

 2. Artesanais                       29.5 ,                7.a      29       C56.8>    3       5.9

   2. 1. Donos de apa-

         relhos de pesca      9      25.7         2        5.7      22       62.9      2      5.7

 

   2. 2. Camaradas            6      37.5         2       12.5       7       43.7      1      6.2

 

 

 

 

                   Enquanto 65.0% dos pescadores industriais afirmam que nos últimos anos de

pesca não têm percebido diminuição do estoque, entre os pescadores artesanais 56.8 a f i r m a m

que o peixe tem escasseado nas proximidades da praia e costumam atribuir a causa- ao arrasto

sistemático das "parelhas" que varrem a área diariamente.

 

 

    8.5. Noções de Valor

 

                      A noção de racionalidade é considerada muito importante e pode         ser uma

das variáveis utilizadas para medir o funcionamento de uma economia de mercado.

                   O comportamento racional, que no caso estudado é uma adequação da ação

dirigida à produção do lucro se distribuiu irregularmente entre os indivíduos segundo sua me-

nor ou maior participação na economia do mercado. A análise dos custos de produção pode ser

um indicador do nível de racionalidade da produção artesanal.

 

 

                                                                                                     41


QUADRO 19

                                  CUSTOS DE PRODUÇÃO

          Gastos com canoas e motor                                  %

     Soube informar                                                  71.5

     Não Soube informar                                              19.0

     Não Respondeu                                                    9.5

                    O custo da manutenção da canoa e do motor é avaliado por 71.5% dos en-

trevistados, ao passo que aproximadamente 20% dos pescadores não tinha ideia de quanto gas-

tavam por ano no conserto da embarcação, do motor, etc. É desnecessário se dizer que à me-

dida em que os pescadores se motorizam, o que sem dúvida é um indício de maior profissio-

nalização, os custos eram mais conhecidos.

                  De uma maneira geral, os pescadores artesanais não motorizados    não têm

nocãc do valor trabalho, que não é computado entre os custos de produção.

                 Entre os pescadores artesanais, donos de aparelho de pesca, 30.0% ignoravam

o lempo de uso de suas embarcações a remo. Entre os que sabiam, mais de 61.0 tinham suas

embarcações com mais de 5 anos de uso.

                 Já no estrato dos donos de canoas motorizadas somente 16% ignoravam        o

'empo de uso ae suas embarcações e 70% tinham embarcações há mais de 5 anos.

                   Mais de 90% dos pescadores motorizados conheciam o valor de suas embar-

cações, que, em 1972 valiam entre Cr$ 1.000,00 e 3.000,00, de acordo com a potência do mo-

tor e a conservação da canoa.

                   Por outro lado, a racionalidade implica também no selecionamento de esoé-

ctes que tem mais valor no mercado. À medida em que o pescador se profissionaliza, ele vai

procurar pescar os peixes que tem melhor valor no mercado, desligando-se assim da mera subsis-

tência em que qualquer peixe servia.

                   Nas praias do Litoral Norte, de uma maneira geral, existe também a seleção

dos pescados segundo o seu maior valor de mercado, sobressaindo a pescada, a enchova, a ga-

roupa, a cavala e o robalo.

      8.6. Renda

                   A análise da renda auferida pelos pescadores dá o sentido da precariedade

das condições de vida em que vivem.

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QUADRO 20

 

                    DISTRIBUIÇÃO DE RENDAS NA PESCA -                UBATUBA

 

 

                                             Cr$     Cr$ 100/       Cr$ 200/

                Pescadores                                                     + 300        S.R.

                                            100,00    200,00         300,00

                                                                                %           %

                                              %         %             %

 

 

         UBATUBA

 

 

  Pescadores                                 13.2      30.8           18.7      29.7         7.7

  1. Industriais                              2.8      42.8          25.7       28.6        

 

     1.1. Tripulantes                         2.8      42.8          25.7       28.5        

 

     1.2. Mestre                                                            100.0        13.7

 

 

  2. Artesanais                              21.5      25.5           15.7      23.5        13.7

     2.1. Donos dos aparelhos de pesca       17.1      20.0           17.1                  14.3

     2.2 Camaradas                           31.2      37.5           12.5       6.3        12.5

 

 

 

                        Em Ubatuba cerca de 50% dos pescadores percebem menos que o salário

mínimo do Estado, vivendo portanto em condições econômico-sociais bastante precárias. É claro

que uma parte deles recebe outros rendimentos provenientes de atividades paralelas, mas mesmo

assim manifesta-se uma situação social muito difícil, pois somente 29.7% percebem      além de

Cr$ 3 0 0 , 0 0 . Entre os pescadores, os embarcados e mestres desfrutam uma situação um pouco

melhor, pois enquanto somente 2.8% destes declararam receber menos de Cr$ 100,00 por mês,

entre os artesanais esta produção se eleva a 21.5%. A situação se torna ainda pior no caso dos

artesanais camaradas, entre os quais 31.2% deles declararam perceber menos de Cr$ 100,00 por

més Entre os artesanais, 31.4% dos donos dos aparelhos de pesca percebem mais de Cr$ 300,00

mensais em média, incluindo-se principalmente os que possuem baleeiras, canoas motorizadas ou

donos de cercos flutuantes.

FONTE................



CONTINUA   DIA   02  DE  ABRIL DE 2021   COM   DIVULGAÇÃO DA  7 ª PARTE

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