domingo, 28 de março de 2021

A PESCA EM UBATUBA - ESTUDO SÓCIO ECONOMICO - 1973 - 5 ª PARTE

 


Imagem    meramente ilustrativa, não faz parte da matéria original.....Fonte Imagem  Internet


                   A análise do Quadro 10 demonstra que desde 1968 há uma diminuição re-

lativa do pescado de Ubatuba entregue e comercializado no CEAGESP; de 50.2% em 1968 so-

mente 21.6% em 1972 são transportados para S. Paulo. Pode-se lançar a hipótese de que as

indústrias e o consumo local tem aumentado de 1968 para cá.

                   A análise dos dados da pesquisa esclareceu alguns itens relativos ao sistema

de comercialização local.



QUADRO 11

 

                           DESTINO DA PRODUÇÃO               UBATUBA

 

                                                     Consumo                 Venda         %

              Categoria de Pescadores                               %

                                                     Próprio

 

 

   1. Industriais                                                            40         100,0

 

 

 

   2. Artesanais                                        17         33.3         34         66.7

 

       2.1.   Dono dos aparelhos de pesca               11         31.4         24         68.6

 

       2.2.   Camaradas                                  6         37.5         10         62.5

 

 

 

 

                                                                                                  29


1                            Pelo Quadro 11 percebe-se uma nítida distinção entre os pescadores indus-

         triais, que destinam a totalidade de sua produção para a venda e os artesanais     dos quais

i íi >   66.7% vendem regularmente o produto de sua captura. Os restantes, 33.3% — são constituídos

r Y      pelos 'pescadores lavradores", ou "pescadores biscateiros" que buscam na atividade pesqueira

         uma complementação de renda ou um meio de subsistência. O número maior de pescadores que

         pescam só para o consumo se localiza em praias como Perequê-Açú, 7 1 % , Lázaro, 60%; Forta-

         leza, 60%; níicleos aliás em que a pesca se acha decadente por existirem aí somente pescadores

         artesanais»^otorizados.

                           Quanto a procedência dos compradores, 72.5% dos artesanais afirmaram que

         vendem o pescado para comerciantes do próprio local, enquanto que os demais vendem para

         compradores de fora.

                          Cerca de 2 1 % afirmam ter compromisso de venda com atravessadores        e os

         demais negociam mais livremente.

                             Em Ubatuba percebe-se que ainda subsistem laços de dependência entre os

         pescadores artesanais e os atravessadores e donos de cerco. Entretanto, segundo informações lo-

         cais, até aproximadamente 1968, havia dois grandes atravessadores em Ubatuba que dominavam

         toda a atividade pesqueira. Atualmente, com a vinda de novos atravessadores, a concorrência

         aumentou mais, e o grau de liberdade de vender para um ou outro atravessador tornou-se maior.

                            Mesmo assim, o pescador, especialmente o artesanal, desconhecendo os me-

         canismos do mercado, fica à mercê do atravessador que retira cerca da metade do valor do pes-

         cado, para cobrir o transporte e sua taxa de lucros.

                          Já na pesca da sardinha, os donos de barco preferem entregar o pescado na

         praça do Rio de Janeiro, onde os preços são melhores e a taxa de comercialização não ultra-

         passa os 10% do valor do produto.

          7.   PESCADORES

               7.1. Número de Pescadores

                             Dada a carência de dados oficiais, e os obstáculos inerentes a qualquer tipo

         de cadastramento de pescadores disseminados por dezenas de praias, na maioria das vezes dis-

         tantes dos centros urbanos, é muito difícil precisar o número de pessoas que se dedicam à

         atividade pesqueira em Ubatuba. Para suprir essa dificuldade foi realizado um cadastramento pre

         liminar dos pescadores, executado através de professores e líderes locais. Para esse f i m f o i

         considerado pescador todo indivíduo que retire do mar seu sustento principal de renda e venda

         parte ou a totalidade de sua produção. O pescador foi considerado artesanal quando na captu-,

         ra e desembarque de toda a classe de espécies aquáticas trabalha sozinho e/ou utiliza mão-de-

         obra familiar ou não assalariada, explorando ambientes ecológicos limitados através de técnicas

         de reduzido rendimento relativo e que destina sua produção, total ou parcial, ao mercado. Se-

         gundo a classificação utilizada o pescador artesanal pode ser dono dos aparelhos de pesca ou

         camarada (quando trabalha com apetrechos de pesca que não são de sua propriedade e ganha

         por partes). O pescador "industrial" é aquele que, na captura e desembarque de toda a classe

         de espécies aquáticas, trabalha como assalariado (disfarçado ou não), explorando ambientes ecoló-

         gicos mais amplos através de técnicas de produtividade mais elevada, destinando toda sua produção

         30


para o mercado.

 

 

QUADRO 12

 

                                 PESCADORES DE UBATUBA

 

                    Pescadores                          Número Absoluto                 %

 

   1. Artesanais                                               280                     62.1

      1.1. Motorizados                                          75                      

      1.2. Não Motorizados                                     205                       

 

 

   2. Semi-industriais                                          61                      13.4

 

   3. Industriais                                              111                     24.5

 

   4. Pese. Ocasionais                                         100                      

 

 

   TOTAL                                                       552                      

 

 

 

                   Em Ubatuba, apesar da importância crescente das atividades turísticas, a pes-

ca é ainda uma atividade responsável pela renda de mais de 20% da população local. Este cál-

cuo é ainda conservador uma vez que não leva em consideração indivíduos que trabalham em

aiividades intimamente ligadas à pesca, como a fabricação de gelo, transporte de pescado, con-

serto de embarcações. Se houvesse o acréscimo desse pessoal, Ubatuba apresentaria pelo menos

35% de sua população ligada ou dependente diretamente da pesca.

                   Em relação aos tipos de pescadores, os artesanais formam o agrupamento

mais numeroso com uma média de 60% sobre o total. Estão espalhados por mais de 30 praias

em todo o município de Ubatuba, em algumas próximas à cidade como do Lázaro, Enseada,

Pe^eauê, etc, e outras muito distantes para as quais o único acesso é o barco, como é o caso

de Camburi e Picinguaba.

                  A pesca semi-industrial é a realizada por "baleeiras", barcos de até 9m., de

 ropriedade do próprio pescador que paga em partes aos embarcados, geralmente parentes. A

porcentagem dos pescadores semi-industriais é relativamente pequena (13.4%) mas é responsável

pela maior parte do camarão 7 barbas e legítimo desembarcado na cidade.

                 A pesca industrial, dedicada especialmente à captura da sardinha já adquiriu

bom desenvolvimento local, utilizando mais de 24.5% dos pescadores locais.

 

 

    7.2. Distribuição dos Pescadores por Praias

 

                      O Quadro 13 realizado a partir do cadastramento de pescadores (1971/72)

permite uma visão global dos pescadores distribuídos em 27 núcleos de pesca ao longo do lito-

ral ubatubano. Na área sul, que vai desde a divisa com Caraguatatuba até a praia das Toninhas,

existem 16 núcleos ou praias onde existem 213 pescadores. De todos os núcleos somente o Sa-

co da Ribeira apresenta uma pesca mais organizada, com aproximadamente 43 pescadores, sen-

do 7 deles (16%) possuidores de embarcações motorizadas. As boas condições de atracação aliadas

à existência de uma pequena colónia japonesa dedicada à pesca são os fatores responsáveis pela

estruturação das atividades pesqueiras nesse núcleo. As demais praias desse primeiro trecho, de uma ma-

neira geral, já foram tomadas pelas casas de turistas e a pesca tornou-se uma atividade suplemen-

 

 

                                                                                                    31


tar e de segunda innportância, pois os pescadores artesanais trabalinam no ramo de serviços (ca-

seiros, pedreiros, e t c ) .

                   Já na cidade de Ubatuba existem cerca de 62 pescadores, 16% dos quais são

possuidores de canoas e baleeiras motorizadas. De uma maneira geral, localizam-se no Portinho

que congrega a maioria dos pescadores artesanais e semi-artesanais locais.

                    O terceiro setor começa em Perequê-Açú e se estende até Camburi, no limite

com Parati e abrange 7 núcleos com 195 pescadores. É nessa área que se situa o núcleo de Picin

guaba, sem dúvida o que congrega o maior número de pescadores do município de Ubatuba

(80). A pouca comunicação com o centro urbano, que é feita unicamente através do mar, a ine-

xistência de outras atividades económicas, com exceção da agricultura e a maior tradição de pesca

fazem de Picinguaba o maior núcleo pesqueiro do município em termos de pessoal ocupado.

                    Uma pesquisa por amostragem, (formulário em anexo), realizada em 1972, permj

te delinear algumas características que podem traçar o perfil do pescador do Litoral Norte do Es-

tado de São Paulo.

QUADRO 13

                                CADASTRO DE PESCADORES EM UBATUBA -                                                1971/1972

                                                    Kl   o                             TECNOLOGIA          E   RENDA

                    Vila de

                   Pescadores                       de              Pescador             Pescador               Cercos          Redes        Renda média

                                               r t n c a u u i o»   c/ motor      /c     s/ motor     /c       Flutuant.                      mensal-Cr$

                                                                                                                           Sim      Não

     1. DA    T A B A T I N G A ATÉ A CIDADE

         1.    Tabatmga                               19                8       42.0         11      58.0         0        19            0      (*)

         2     Saco das Bananas                       19                0        0.0         19     100.0         0         6           13      (*)

         3.    Sete Fontes                             1                0        0.0          1     100.0         0         1            0      (*)

         4.   Perez                                    4                1       25.0          3      75.0         0         4            0       C)

         5.    Ponta Aguda                            10                3       30.0          7      70.0         2         6            4      (*)

         6.    Maranduba-Lagoinha                     17                1        6.0         16      94.0         1        13            4     150,00

         7.    Bonete                                 10                0        0.0         10     100.0         2         1            9      (*)

         8.    Flamengo                               17                3       18.0         14      77.0         2         2           15     350,00

         9.    Lázaro                                  8                4       50.0          4      50.0         0         4            4     291,00

        10.    Perequé-MIrim                           6                3       50.0          3      50.0                  4            2      (*)

        11.    Fortaleza                              18                4                    14                   1       15            3     350,00

        12.    Saco da Ribeira                        43                7        16,0        36      70.0          7       18           25     407,50

        13.   Toninhas                                 6                0         0.0         6     100.0                   4            2      (*)

        14.    Enseada                                 7                2         9.0         5      71.0          2        4            3     158,00

        15.    Simões                                  5                1        25.0         4      75.0                  2            3      (*)

        16.    Caçandoca                              23                0         0.0        23      96.0          1        2           21      (*)

                  SUBTOTAL                           213               37                  176                    18       105      108

     II. C I D A D E

         1. Itagua                                    14                4        29.0        10      64.0          2        9            5       (*)

         2. Cidade                                    24                2         8.0        22      92.0                 11           13       (*)

         3. Umuarama                                  12                2        17.0        10      75.0                   3            9      392,85

         4. Perequé-Açú                               12                2        17.0        10      67.0                   7            5      216,50

                  SUBTOTAL                            62               10                    52                    2       30           32

     IH. C I D A D E - C A M B U R I

         1. Felix                                     13                6        46.0         7      54.0                  2           11       (*)

         2. Léo                                        9                1        11.0         8      56.0                  2            7       (*)

         3. Ubatumirim                                21                9        43.0        12      52.0                 11           10      132,50

         4. Almada                                    32                5        16.0        27      81.0                  11            2      389,00

         5. Fazenda da Caixa                          10                0         0.0        10      90.0                   1            9       (*)

         6. Picinguaba                                80                7         9.0        73      88.0          3       20           60      396,34

         7. Camburi                                   30                0         0.0        30     100.0          2       10           20      135,90

                  SUB-TOTAL                          195               28                  167                     5       57       138

                  TOTAL                              470               77                  395                    25       192      278

     OBSERVAÇÕES:             (*) Praias que não fazem parte                da amostragem.

32



8. MEIO NATURAL E TECNOLOGIA

 

                   Na região estudada, como se observou, especialmente nas duas últimas déca-

das tem havido melhorias tecnológicas. Essas melhorias, como a introdução da rede de nylon,

do cerco flutuante, canoas e baleeiras motorizadas e barcos têm sido função do desenvolvimen-

to de um sistema de preços mais atrativos para o pescado e foram introduzidas por pescadores

de outras regiões em que a atividade pesqueira tendo atingido nível tecnológico mais alto não

apresentava elevada produtividade.

                      O Quadro 14 apresenta os tipos de embarcações existentes em Iguapé, Cana-

néia e Ubatuba, em 1971. Por essas informações é possível notar que existe uma participação

bastante significativa da pesca artesanal, representada pelas canoas a remo, canoas motorizadas e

baleeiras, alcançando mais de 85% do total das embarcações do município estudado.

 

 

    8.1. A Pesca Industrial em Ubatuba

 

                   Apesar da pesca industrial ser efetuada por somente 3.1% das embarcações é

ela responsável por mais de 90% da produção obtida. Os barcos, em geral maiores de 18m., se

dedicam à pesca da sardinha enquanto que outros, de mais de 9-1 Om. estão empenhados na

pesca do cação, tendo por base o Saco da Ribeira.

                    Quanto aos sardinheiros, foram considerados barcos fixos aqueles que descar-

regam no entreposto constantemente durante pelo menos 3 meses. Esses representaram 20% das

embarcações em 1967; 15.4% em 1969 e 21.2% em 1970. Esses barcos pertencem a empresas

locais possuidoras de indústrias de pesca. A produtividade por barco tem aumentado considera-

velmente pois de 1967 a 1970 houve um aumento de 241.8% para os barcos fixos. No entan-

to, o mesmo não ocorre com o valor obtido que no mesmo período aumentou somente 5.9%.

Os demais barcos, que representam 78.8% em 1970 são considerados ocasionais, descarregando

no entreposto de modo descontínuo.

                  O Quadro 15 mostra uma evolução positiva na entrega dos barcos fixos que

passam de uma média de 13.553 kg. em 1967 para 37.945 kg. em 1969 e 46.331 kg. em 1970.

No entanto, a esse aumento de produção média não correspondeu um aumento no valor ob-

tido, que em 1970 foi inferior ao de 1969. Esses dados, por outro lado, não representam        a

produção média por barco, pois foi obtido a partir das descargas em Ubatuba, enquanto que o maior

número de descargas se fez em Santos e no Rio de Janeiro.

                  Quanto às características da frota, os barcos que normalmente descarregam

sardinha em Ubatuba são considerados médios e grandes pela classificação do Instituto de Pesca

e trabalham 21 dias por mês (tempo do escuro).

                   É mais significativo ver a produção média dos 3 barcos mais fixos em Uba-

tuba (Guaiuba I, II e Amapá).

                   A produção média mensal desses 3 barcos que pescaram o ano inteiro em

1967, 69 e 70 mostram que houve um aumento anual: 36.166 kg. por mês no 1 .o ano, 57.434

por mês no 2.0 ano, e 80.467 no último ano. Quanto à renda obtida, pode-se perceber contí-

nuas alterações dada a instabilidade e a queda progressiva do preço real da sardinha (0.27 em

68, Cr$ 0,32 em 69, e 0,25 em 1970). Em 1969 a renda média mensal, obtida pela descarga

da sardinha em Ubatuba, foi de Cr$ 18.378,00 por barco. Em 1970, com a produção quase

duplicada, a renda média mensal por barco, foi de apenas 20.126,00. Comparativamente portan-

to, apesar de pescarem mais, os sardinheiros receberam menos pelo seu produto.


CONTINUA...........DIA    29 DE MARÇO  DE 2021

 

 


Nenhum comentário: