quarta-feira, 24 de março de 2021

A PESCA EM UBATUBA - ESTUDO SÓCIO ECONOMICO - 1973 - 4 ª PARTE

 


IMAGEM   ILUSTRATIVA, ELA NÃO FAZ PARTE  DA MATÉRIA AQUI COMPARTILHADA


A PESCA EM UBATUBA

 

5.   PREÇOS DO PESCADO

                    A presente análise visa lançar algumas hipóteses a respeito do comportamen-

to dos preços dos pescados mais frequentes em Ubatuba. Foram utilizados dados de preços de

atacado no CEAGESP, para onde se destina parte do pescado do Litoral Norte. Muito embora,

não seja todo o pescado do Estado que é comercializado no CEAGESP, este detém uma parce-

la razoável do mercado. Além do mais, não é possível se conseguir dados mais completos, prin-

cipalmente em relação ao preço em outras fontes. Foram escolhidas nove espécies: sardinha, ca-

marão sete barbas, camarão legítimo, goete, bonito, carapau, cavala, cavalinha e cação. Tal es-

colha liga-se ao fato de que essas espécies são as mais pescadas em Ubatuba


 

      5.1. Quantidade Comercializada

                    De uma maneira geral, entre 1968 e 1972, à exceção da sardinha, a maioria

das espécies sofreram decréscimo de comercialização no CEAGESP, especialmente o camarão le-

gítimo e sete barbas. Algumas espécies mostraram flutuação no período. A única espécie com

acréscimo constante foi o bonito.

                   Existem vários fatores que podem explicar essas variações das quantidades co-

mercializadas. A explicação mais convincente seria a do caráter sazonal que esta atividade

possui. Outras variáveis menos significativas também teriam sua influência:

          -    hábitos do consumidor (sabe-se que, tradicionalmente o brasileiro é con-

               sumidor de carne bovina verde e qualquer alteração em seus hábitos

               de consumo é demorada);

          -    preço dos bens substitutos (no caso, a própria carne bovina)

          -    alterações no poder aquisitivo do consumidor, etc.

                    Contudo o que interessa de imediato é verificar a influência do preço sobre

essas variações de quantidades.

      5.2. Os Preços

                   Os preços apresentaram um comportamento mais uniforme no período. D

acordo com o Quadro 7, verifica-se que os preços apresentam uma alta no período de 1968/69.

No período seguinte (1969/70), das 9 espécies, 7 tiveram seus preços diminuídos. Posteriormen-

te os preços se recuperaram para 5 espécies, logo em 1971 e para as demais em 1972. Cavali-

nha e Carapau são exceções pois no período de baixa, eias tiveram seus preços aumentados e

em 1972 apresentaram preços a níveis mais altos que em 1970.

                   Em termos gerais, houve uma queda nos preços no período 1969/70 que po-

de ter sido causada por questões económicas mais amplas, e tem havido em 1971/72 uma re-

cuperação lenta.

      5.3. O Comportamento da Comercialização frente aos Preços

                    Como se observou nos itens anteriores, a demanda de pescado é uma f u n -

ção de vários fatores e não somente do preço. Pressupõe-se porém que esta variável seja a mais

importante na determinação da quantidade demandada.

                  Segundo pesquisa realizada em 1971 pelo Dr. Joaquim Ribeiro de Morais,

procurando as causas do baixo consumo de pescado na capital paulista, chegou-se ao seguinte

resultado:

                       Produto caro                  52%

                       Má qualidade                  38%

                       Não gosta                     19%

                       Faz mal                       11%

                       Não é encontrado               8%

                       Desconhece o preparo           3%

                       Medo de espinhas               1%

                       Difícil Limpeza                1%

                  Dessa forma, generalizando o resultado desta pesquisa, a demanda depende-

ria na sua maior parte do preço do pescado, em segundo lugar viriam os hábitos de consumo

e em último lugar a eficiência ou não da comercialização do produto.

                    Os gráficos anexos procuram constatar a veracidade da influência do preço,

percebendo-se uma relação preço/quantidade. As elevações de preços correspondem baixas nas

quantidades consumidas. Os gráficos 1 a 4 mostram essa tendência (Carapau, cavala, camarão se-

te barbas, camarão legítimo), não sendo entretanto válida para todas as espécies. Os gráficos 5

a 8 apresentam, pelo menos durante um período, um viés (Goete, sardinha, bonito, cação). Nes

tes casos, a variação em um período determinado, foi ocasionada por outras causas que não

preço. Já o gráfico 9 mostra uma tendência completamente adversa (cavalinha). Preços e quan-

 22


QUADRO 7

 

                                         PREÇO MÉDIO DEFLACIONADO

 

 

 

              "   ~~-——-           Ano

                                             1968        1969       1970    197 1   19 7 2

   Espécie                         -—

 

 

   Sardinha                                   0.26        0.26      0.21     0.24    0.27

 

   Camarão 7 barbas                           0.79        1.00       1.08    0.97    1.10

 

   Camarão Legítimo                           5.04        5.77      4.46     4.08    7.06

 

   Goete                                      0.57        0.69      0.62     0.71   0.77

 

   Bonito                                     0.49        0.47      0.39     0.43   0.41

 

  Carapau                                     0.62        0.93      1.03     1.01   0.97

 

  Cavala                                      1.26        1.76      1.16     1.69    1.73

 

  Cavalinha                                   0.38        0.55      0.31     0.32   0.29

 

  Cação                                       1.23        1.39      1.23     1.19    1.32

  5.4. O papel de Ubatuba

 

                   Considerando que a presente análise visa um estudo de mercado para Ubatu-

ba, tem-se que reconhecer a sua ineficiência. De acordo com o Quadro 9, verifica-se que a par-

ticipação do pescado vindo de Ubatuba no total entrado no Entreposto do CEAGESP é insig-

nificante.

                    Não foi possível levantar preços em Ubatuba, com exceção das seguintes es-

pécies: cavala, cação, carapau e camarão sete barbas (tudo isto apenas em 1972).

                  Cavala                      Cr$ 1,21 o quilo

                  Cação                       Cr$ 0,97 o quilo

                  Carapau                     Cr$ 0,97 o quilo

                  Camarão 7 Barbas            Cr$ 1.20 o quilo

                  (preços médios deflacionados 1 9 6 8 = 1 0 0 )

                    Apenas o camarão sete barbas apresenta um preço superior ao do CEAGESP,

fazendo crer, pois, que deve haver uma comercialização considerável no local. Carapau mostra

um preço equilibrado e cavala e cação apresentam um preço bem inferior ao do CEAGESP. Em

relação ao cação, contando-se com o dado da participação de Ubatuba no CEAGESP (15,4%

em 1972), um intermediário se apropria de uma parte considerável do lucro, pois os preços apresentam

uma variação grande.

 

QUADRO N.o 9

 

PORCENTAGEM DE QUANTIDADE DE PESCADO DE UBATUBA EM RELAÇÃO AO CEAGESP

 

                               Ano

  Espécie             ——                   1968        1969        1970        1971       1972

 

 

   Sardinha                                9.30%       4.58%       2.32%      3.85%       2.93%

 

   Camarão Sete Barbas                    11.30%       8.57%       5.75%      3.20%      10.08%

 

   Camarão legítimo                        8.44%     70.59%        1.96%       3.36%     65.53%

 

   Cação                                   9.85%      13.57%      11.95%     15.77%      15.43%

 

 

 

                                                                                                  27


QUADRO 10

                               QUANTIDADE DE PESCADO DE UBATUBA COMERCIALIZADA NO CEAGESP

          ~~   ^—                        Anos

                                                                1968          1 969       1970      197 1        1972

 Tipos                              ——      .

 Sardinha                                                      1.120.785      771.354    463.950    845.428      647.270

 Moluscos          Cannarão Rosa                                     1.498      5.308     14.126       1.514       2.286

     e             Cannarão Médio                                    1.335       1,810     1.339      2.760         1 046

 Crustáceos        Camarão 7 Barbas                                 86.816     96.173     43.089     28.638       77.333

                   Diversos                                          2.836      5.279      3.817          563      5.635

 Pescada diversa                                                    28.457     39.810     11.639     10.046        3.475

 Cações diversos                                                    68 596     26.249     90.004    145.290      206 723

 Peixes            Água Doce                                                      50        150                    463

 Diversos          Agua Salgada                                 109.883       335.553    235.133    261.946      227.532

 TOTAL                                                        2 120.522      1.363.643   863.247   1.298.203    1.171 553

 Porcentagem sobre produção total de Ubatuba                    50.2%         35.8%      20.7%      27.0%        21 6%

 1968 : As parcelas se referem a 8 meses; o total ao ano inteiro.

 

6. COMERCIALIZAÇÃO

 

                   O processo de comercialização do pescado é bastante complexo em Ubatuba,

dependendo do tipo de pescado que é descarregado. A sardinha e os demais pescados acompa-

nhantes são descarregados no entreposto do CEAGESP, aliás bastante precário. A maior parte

da sardinha capturada das proximidades da cidade até a Ilha Grande não é descarrega-

da em Ubgtuba, em grande parte devido à precariedade das instalações portuárias, falta de g e l o ,

óleo, etc

                Da sardinha desembarcada uma parte é levada por caminhão a São Paulo

(CEAGESP), enquanto que o restante se destina às "salgas" locais, onde é prensada, enlatada

ou defumada.

                    Os demais pescados, especialmente o camarão legítimo e sete barbas, o boni-

to, o carapau (de uma maneira geral o peixe fino) são desembarcados no Portinho, ancoradouro

precário próximo ao Mercado local. Parte desse pescado se destina a abastecer o mercado local,

especialmente nos períodos de férias em que a população urbana aumenta consideravelmente (tor-

na-se até 10 vezes maior), e parte é levada para o CEAGESP pelos "atravessadores". O abastecimento

urbano insuficiente na temporada, é feito basicamente pelos pescadores artesanais, que vendem

sua produção aos atravessadores. Durante a temporada, há falta generalizada de pescado em Uba-

tuba e os preços alcançam níveis extremamente altos. O camarão sete barbas, por exemplo, que

no CEAGESP em 1972 alcançou um preço médio de Cr$ 1,10 chegou a ser vendido a

Cr$ 15,00 o quilo. Por esse motivo, muitos "atravessadores" vão buscar o pescado no CEAGESP

para revendê-lo em Ubatuba. Esses intermediários financiam a rede, as canoas e demais apetre-

ctios de pesca, em troca de um compromisso do pescador de vender-lhe a produção. Os atra-

vessadores, que dominam a pesca local, conservam para sí, como taxas de serviços até 50% do

valor da produção.

 

                   A análise do Quadro 10 demonstra que desde 1968 há uma diminuição re-

lativa do pescado de Ubatuba entregue e comercializado no CEAGESP; de 50.2% em 1968 so-

mente 21.6% em 1972 são transportados para S. Paulo. Pode-se lançar a hipótese de que as

indústrias e o consumo local tem aumentado de 1968 para cá.

                   A análise dos dados da pesquisa esclareceu alguns itens relativos ao sistema

de comercialização local.

 

QUADRO 11

 

                           DESTINO DA PRODUÇÃO               UBATUBA

 

                                                     Consumo                 Venda         %

              Categoria de Pescadores                               %

                                                     Próprio

 

 

   1. Industriais                                                            40         100,0

 

 

 

   2. Artesanais                                        17         33.3         34         66.7

 

       2.1.   Dono dos aparelhos de pesca               11         31.4         24         68.6

 

       2.2.   Camaradas                                  6         37.5         10         62.5

 

 

 

 

                                                                                                  29


1                            Pelo Quadro 11 percebe-se uma nítida distinção entre os pescadores indus-

         triais, que destinam a totalidade de sua produção para a venda e os artesanais     dos quais

i íi >   66.7% vendem regularmente o produto de sua captura. Os restantes, 33.3% — são constituídos

r Y      pelos 'pescadores lavradores", ou "pescadores biscateiros" que buscam na atividade pesqueira

         uma complementação de renda ou um meio de subsistência. O número maior de pescadores que

         pescam só para o consumo se localiza em praias como Perequê-Açú, 7 1 % , Lázaro, 60%; Forta-

         leza, 60%; níicleos aliás em que a pesca se acha decadente por existirem aí somente pescadores

         artesanais»^otorizados.

                           Quanto a procedência dos compradores, 72.5% dos artesanais afirmaram que

         vendem o pescado para comerciantes do próprio local, enquanto que os demais vendem para

         compradores de fora.

                          Cerca de 2 1 % afirmam ter compromisso de venda com atravessadores        e os

         demais negociam mais livremente.

                             Em Ubatuba percebe-se que ainda subsistem laços de dependência entre os

         pescadores artesanais e os atravessadores e donos de cerco. Entretanto, segundo informações lo-

         cais, até aproximadamente 1968, havia dois grandes atravessadores em Ubatuba que dominavam

         toda a atividade pesqueira. Atualmente, com a vinda de novos atravessadores, a concorrência

         aumentou mais, e o grau de liberdade de vender para um ou outro atravessador tornou-se maior.

                            Mesmo assim, o pescador, especialmente o artesanal, desconhecendo os me-

         canismos do mercado, fica à mercê do atravessador que retira cerca da metade do valor do pes-

         cado, para cobrir o transporte e sua taxa de lucros.

                          Já na pesca da sardinha, os donos de barco preferem entregar o pescado na

         praça do Rio de Janeiro, onde os preços são melhores e a taxa de comercialização não ultra-

         passa os 10% do valor do produto.

 

Continua    dia  26   de Março de 2021


FONTE  ORIGINAL.............


Nenhum comentário: