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A PESCA EM UBATUBA
5. PREÇOS DO PESCADO
A
presente análise visa lançar algumas hipóteses a respeito do comportamen-
to dos preços dos pescados mais frequentes em Ubatuba. Foram
utilizados dados de preços de
atacado no CEAGESP, para onde se destina parte do pescado do
Litoral Norte. Muito embora,
não seja todo o pescado do Estado que é comercializado no
CEAGESP, este detém uma parce-
la razoável do mercado. Além do mais, não é possível se
conseguir dados mais completos, prin-
cipalmente em relação ao preço em outras fontes. Foram
escolhidas nove espécies: sardinha, ca-
marão sete barbas, camarão legítimo, goete, bonito, carapau,
cavala, cavalinha e cação. Tal es-
colha liga-se ao fato de que essas espécies são as mais
pescadas em Ubatuba
5.1. Quantidade
Comercializada
De
uma maneira geral, entre 1968 e 1972, à exceção da sardinha, a maioria
das espécies sofreram decréscimo de comercialização no
CEAGESP, especialmente o camarão le-
gítimo e sete barbas. Algumas espécies mostraram flutuação
no período. A única espécie com
acréscimo constante foi o bonito.
Existem vários fatores que podem explicar essas variações das
quantidades co-
mercializadas. A explicação mais convincente seria a do
caráter sazonal que esta atividade
possui. Outras variáveis menos significativas também teriam
sua influência:
- hábitos do consumidor (sabe-se que,
tradicionalmente o brasileiro é con-
sumidor
de carne bovina verde e qualquer alteração em seus hábitos
de
consumo é demorada);
- preço dos bens substitutos (no caso, a
própria carne bovina)
- alterações no poder aquisitivo do
consumidor, etc.
Contudo o que interessa de imediato é verificar a influência do preço
sobre
essas variações de quantidades.
5.2. Os Preços
Os
preços apresentaram um comportamento mais uniforme no período. D
acordo com o Quadro 7, verifica-se que os preços apresentam
uma alta no período de 1968/69.
No período seguinte (1969/70), das 9 espécies, 7 tiveram
seus preços diminuídos. Posteriormen-
te os preços se recuperaram para 5 espécies, logo em 1971 e
para as demais em 1972. Cavali-
nha e Carapau são exceções pois no período de baixa, eias
tiveram seus preços aumentados e
em 1972 apresentaram preços a níveis mais altos que em 1970.
Em
termos gerais, houve uma queda nos preços no período 1969/70 que po-
de ter sido causada por questões económicas mais amplas, e
tem havido em 1971/72 uma re-
cuperação lenta.
5.3. O
Comportamento da Comercialização frente aos Preços
Como se observou nos itens anteriores, a demanda de pescado é uma f u n
-
ção de vários fatores e não somente do preço. Pressupõe-se
porém que esta variável seja a mais
importante na determinação da quantidade demandada.
Segundo pesquisa realizada em 1971 pelo Dr. Joaquim Ribeiro de Morais,
procurando as causas do baixo consumo de pescado na capital
paulista, chegou-se ao seguinte
resultado:
Produto caro 52%
Má qualidade 38%
Não gosta 19%
Faz mal 11%
Não é encontrado 8%
Desconhece o preparo 3%
Medo de espinhas 1%
Difícil Limpeza 1%
Dessa forma, generalizando o resultado desta pesquisa, a demanda
depende-
ria na sua maior parte do preço do pescado, em segundo lugar
viriam os hábitos de consumo
e em último lugar a eficiência ou não da comercialização do
produto.
Os
gráficos anexos procuram constatar a veracidade da influência do preço,
percebendo-se uma relação preço/quantidade. As elevações de
preços correspondem baixas nas
quantidades consumidas. Os gráficos 1 a 4 mostram essa
tendência (Carapau, cavala, camarão se-
te barbas, camarão legítimo), não sendo entretanto válida
para todas as espécies. Os gráficos 5
a 8 apresentam, pelo menos durante um período, um viés
(Goete, sardinha, bonito, cação). Nes
tes casos, a variação em um período determinado, foi
ocasionada por outras causas que não
preço. Já o gráfico 9 mostra uma tendência completamente
adversa (cavalinha). Preços e quan-
22
QUADRO 7
PREÇO
MÉDIO DEFLACIONADO
" ~~-——- Ano
1968 1969 1970
197 1 19 7 2
Espécie -—
Sardinha 0.26 0.26 0.21
0.24 0.27
Camarão 7
barbas 0.79 1.00 1.08
0.97 1.10
Camarão
Legítimo
5.04 5.77 4.46
4.08 7.06
Goete 0.57 0.69 0.62
0.71 0.77
Bonito 0.49 0.47 0.39
0.43 0.41
Carapau 0.62 0.93 1.03
1.01 0.97
Cavala 1.26 1.76 1.16
1.69 1.73
Cavalinha 0.38 0.55 0.31
0.32 0.29
Cação
1.23 1.39 1.23
1.19 1.32
5.4. O papel de
Ubatuba
Considerando que a presente análise visa um estudo de mercado para
Ubatu-
ba, tem-se que reconhecer a sua ineficiência. De acordo com
o Quadro 9, verifica-se que a par-
ticipação do pescado vindo de Ubatuba no total entrado no
Entreposto do CEAGESP é insig-
nificante.
Não foi possível levantar preços em Ubatuba, com exceção das seguintes
es-
pécies: cavala, cação, carapau e camarão sete barbas (tudo
isto apenas em 1972).
Cavala Cr$
1,21 o quilo
Cação Cr$
0,97 o quilo
Carapau Cr$
0,97 o quilo
Camarão 7 Barbas Cr$
1.20 o quilo
(preços médios deflacionados 1 9 6 8 = 1 0 0 )
Apenas o camarão sete barbas apresenta um preço superior ao do CEAGESP,
fazendo crer, pois, que deve haver uma comercialização
considerável no local. Carapau mostra
um preço equilibrado e cavala e cação apresentam um preço
bem inferior ao do CEAGESP. Em
relação ao cação, contando-se com o dado da participação de
Ubatuba no CEAGESP (15,4%
em 1972), um intermediário se apropria de uma parte
considerável do lucro, pois os preços apresentam
uma variação grande.
QUADRO N.o 9
PORCENTAGEM DE QUANTIDADE DE PESCADO DE UBATUBA EM RELAÇÃO
AO CEAGESP
Ano
Espécie —— 1968 1969 1970 1971 1972
Sardinha 9.30% 4.58% 2.32% 3.85% 2.93%
Camarão Sete
Barbas 11.30% 8.57% 5.75% 3.20%
10.08%
Camarão
legítimo
8.44% 70.59% 1.96% 3.36%
65.53%
Cação 9.85% 13.57% 11.95%
15.77% 15.43%
27
QUADRO 10
QUANTIDADE DE
PESCADO DE UBATUBA COMERCIALIZADA NO CEAGESP
~~ ^— Anos
1968 1 969 1970
197 1 1972
Tipos —— .
Sardinha
1.120.785 771.354 463.950
845.428 647.270
Moluscos Cannarão Rosa 1.498 5.308
14.126 1.514 2.286
e Cannarão Médio 1.335 1,810
1.339 2.760 1 046
Crustáceos Camarão 7 Barbas 86.816 96.173
43.089 28.638 77.333
Diversos
2.836 5.279 3.817 563 5.635
Pescada diversa
28.457 39.810 11.639
10.046 3.475
Cações diversos
68 596 26.249 90.004
145.290 206 723
Peixes Água Doce — 50 150
— 463
Diversos Agua Salgada 109.883 335.553 235.133
261.946 227.532
TOTAL
2 120.522 1.363.643 863.247
1.298.203 1.171 553
Porcentagem sobre
produção total de Ubatuba
50.2% 35.8% 20.7%
27.0% 21 6%
1968 : As parcelas se
referem a 8 meses; o total ao ano inteiro.
6. COMERCIALIZAÇÃO
O
processo de comercialização do pescado é bastante complexo em Ubatuba,
dependendo do tipo de pescado que é descarregado. A sardinha
e os demais pescados acompa-
nhantes são descarregados no entreposto do CEAGESP, aliás
bastante precário. A maior parte
da sardinha capturada das proximidades da cidade até a Ilha
Grande não é descarrega-
da em Ubgtuba, em grande parte devido à precariedade das
instalações portuárias, falta de g e l o ,
óleo, etc
Da
sardinha desembarcada uma parte é levada por caminhão a São Paulo
(CEAGESP), enquanto que o restante se destina às
"salgas" locais, onde é prensada, enlatada
ou defumada.
Os
demais pescados, especialmente o camarão legítimo e sete barbas, o boni-
to, o carapau (de uma maneira geral o peixe fino) são
desembarcados no Portinho, ancoradouro
precário próximo ao Mercado local. Parte desse pescado se
destina a abastecer o mercado local,
especialmente nos períodos de férias em que a população
urbana aumenta consideravelmente (tor-
na-se até 10 vezes maior), e parte é levada para o CEAGESP
pelos "atravessadores". O abastecimento
urbano insuficiente na temporada, é feito basicamente pelos
pescadores artesanais, que vendem
sua produção aos atravessadores. Durante a temporada, há
falta generalizada de pescado em Uba-
tuba e os preços alcançam níveis extremamente altos. O
camarão sete barbas, por exemplo, que
no CEAGESP em 1972 alcançou um preço médio de Cr$ 1,10
chegou a ser vendido a
Cr$ 15,00 o quilo. Por esse motivo, muitos
"atravessadores" vão buscar o pescado no CEAGESP
para revendê-lo em Ubatuba. Esses intermediários financiam a
rede, as canoas e demais apetre-
ctios de pesca, em troca de um compromisso do pescador de
vender-lhe a produção. Os atra-
vessadores, que dominam a pesca local, conservam para sí,
como taxas de serviços até 50% do
valor da produção.
A
análise do Quadro 10 demonstra que desde 1968 há uma diminuição re-
lativa do pescado de Ubatuba entregue e comercializado no
CEAGESP; de 50.2% em 1968 so-
mente 21.6% em 1972 são transportados para S. Paulo. Pode-se
lançar a hipótese de que as
indústrias e o consumo local tem aumentado de 1968 para cá.
A
análise dos dados da pesquisa esclareceu alguns itens relativos ao sistema
de comercialização local.
QUADRO 11
DESTINO DA PRODUÇÃO
UBATUBA
Consumo Venda %
Categoria de Pescadores %
Próprio
1. Industriais — — 40 100,0
2. Artesanais 17 33.3 34 66.7
2.1. Dono dos aparelhos de pesca 11 31.4 24 68.6
2.2. Camaradas 6 37.5 10 62.5
29
1
Pelo Quadro 11 percebe-se uma nítida distinção entre os pescadores
indus-
triais, que
destinam a totalidade de sua produção para a venda e os artesanais dos quais
i íi > 66.7%
vendem regularmente o produto de sua captura. Os restantes, 33.3% — são
constituídos
r Y pelos
'pescadores lavradores", ou "pescadores biscateiros" que buscam
na atividade pesqueira
uma
complementação de renda ou um meio de subsistência. O número maior de
pescadores que
pescam só
para o consumo se localiza em praias como Perequê-Açú, 7 1 % , Lázaro, 60%;
Forta-
leza, 60%;
níicleos aliás em que a pesca se acha decadente por existirem aí somente
pescadores
artesanais»^otorizados.
Quanto a procedência dos compradores,
72.5% dos artesanais afirmaram que
vendem o
pescado para comerciantes do próprio local, enquanto que os demais vendem para
compradores
de fora.
Cerca de 2 1 % afirmam ter compromisso de venda com atravessadores e os
demais
negociam mais livremente.
Em Ubatuba percebe-se que ainda subsistem laços de dependência entre os
pescadores
artesanais e os atravessadores e donos de cerco. Entretanto, segundo
informações lo-
cais, até
aproximadamente 1968, havia dois grandes atravessadores em Ubatuba que
dominavam
toda a
atividade pesqueira. Atualmente, com a vinda de novos atravessadores, a
concorrência
aumentou mais, e o grau de liberdade de
vender para um ou outro atravessador tornou-se maior.
Mesmo assim, o pescador, especialmente o artesanal, desconhecendo os me-
canismos do
mercado, fica à mercê do atravessador que retira cerca da metade do valor do
pes-
cado, para
cobrir o transporte e sua taxa de lucros.
Já na pesca da sardinha, os donos de barco preferem entregar o pescado
na
praça do Rio
de Janeiro, onde os preços são melhores e a taxa de comercialização não ultra-
passa os 10%
do valor do produto.
Continua dia 26 de Março de 2021
FONTE ORIGINAL.............
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