sábado, 13 de março de 2021

A PESCA EM UBATUBA .....ESTUDO SOCIO ECONOMICO.....PARTE 2....1973

 


Imagem    do arquivo blog Ubatubense    compartilhada aqui para ilustrar  essa matéria........A mesma  não pertence  ao Livro   A  PESCA EM UBATUBA - ESTUDO SOCIO ECONOMICO - 1973


                                                                                        PAGINA     7

caiçaras do locai, foi reintroduzida a participação enn quinhões ou partes.

                       Depois de 1945, segundo informações de velhos pescadores locais, começaram

a surgir os primeiros motores de centro de 8 a 10 hp. A abertura de uma ligação melhor entre

Caraguatatuba e Ubatuba, através de uma rodovia estadual (1948), constituiu-se num incentivoà

pesca artesanal para o mercado, pois a venda aos barcos de Santos era muito inconstante. Até

então, o caiçara pescava e quando não conseguia vender o pescado, salgava-o. Depois de 1952

começaram a surgir os "atravessadores" de maior porte, que compravam o pescado do caiçara

e vinham revender em São Paulo. Por volta de 1954 foi construído o mercado de peixes em

Ubatuba, mas os pescadores continuavam na dependência de um ou de outro "atravessador" que

monopolizava o mercado, pagando preços irrisórios pelo pescado capturado pelo caiçara. 


O "atravessador" funcionava como em Cananéia, como financiador de equipamento de pesca ao pesca-

dor que endividado ficava, cada vez mais, dependente. A abertura da estrada para Ubatuba, in-

centivou uma nova atividade regional: o turismo. Frente a uma nova demanda, os diversos se-

tores da pesca, principalmente em termos tecnológicos reagiram de modo diferente: o se-

tor voltado para a captura da sardinha, que se constitui de barcos de mais de 18 m.,

não sofreu grandes alterações com a demanda maior de pescado, motivada pelo afluxo turístico

responsável pelo alto grau de urbanização no Litoral Norte, pois a produção da sardinha visa ao mer-

cado de S. Paulo e outros mercados regionais. A influência desse setor se deu mais na captação

da mão-de-obra de algumas praias, o que será posteriormente estudado, e na instalação de algu-

rr. a s salgas de sardinha prensada e salgada em Ubatuba. O setor artesanal se comportou diversa-

mente em relação ao turismo. A fímbria inferior da camada caiçara que constituía o núcleo

maior de pescadores artesanais, à medida em que as casas dos turistas invadiam suas praias, foi

se incorporando a atividades ligadas ao turismo: construção civil, caseiros (especialmente) passan-

do a pescar muito ocasionalmente.

                    O terceiro setor, formado especialmente por pescadores com canoas, baleei-

ras e pequenos barcos com motor de centro desenvolve-se mais, e se dedica sobretudo à captu-

ra do camarão, cação e outras espécies. Este setor intermediário tem acusado um crescimento sig-

nificativo após 1960, com a introdução dos motores "StoH" e " M o l d " e sobretudo, com a grande

demanda turística nos quase 4 meses de férias existentes durante o ano. Atualmente e x i s t e m

mais de 75 canoas e baleeiras motorizadas, sendo que umas 36 delas descarregam no "Portinho"

ptóximo à cidade. Além disso existem cerca de 6 barcos de mais de nove metros, no Saco da

Ribeira que se dedicam quase que exclusivamente à pesca do cação.

                     Comparativamente, a região lagunar de Iguapé, Cananéia e Ubatuba (Litoral

Norte) tiveram uma evolução pesqueira que apresentam alguns pontos em comum: em ambos os

cjsos ^a J3es£a foi uma alternativa ante a desorganização agrícola.

                    No Litoral Sul, em termos tecnológicos deve-se salientar a passagem da ca-

noa a remo para a motorizada como uma evolução tecnológica progressiva. Até esse estágio hou-

ve uma absorção satisfatória da mão-de-obra extremamente artesanal para um nível tecnológico

mais evoluído que permite maior deslocamento do pescador dentro de seu ambiente ecológico.

A canoa a motor, no entanto, em muitos casos serve somente para facilitar o deslocamento fí-

sico do pescador, pois que tanto na pesca da manjuba, como na do Mar de Dentro, em Cana-

néia ela é principalmente meio de locomoção e transporte. A pesca é realizada em canoas a re-

mo mais fáceis de serem manejadas. Com a chegada de barcos maiores, a incorporação da mão-

de-obra tem sido quase nula, ao nível da captura.

                   Já em Ubatuba, a incorporação da mão-de-obra local a estágios mais elevados

de tecnologia pesqueira não se deu com a introdução da pesca da sardinha. Nessa fase, somen-

te alguns embarcaram, mas praticamente nenhum caiçara era dono do equipamento, dado o seu

alto preço.

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                    Um outro fenómeno que influenciou a dinâmica pesqueira no Litoral Norte

foi o crescimento do turismo bastante fraco até hoje em Cananéia. Pode-se afirmar que durante

quase meio ano existe um mercado turístico consumidor de pescado, sobretudo camarão, que dá

um certo dinamismo à pesca artesanal motorizada. Além disso, estudar-se-á o conjunto de influ-

ências que as atividades urbano-turísticas exercem sobre a pesca artesanal no Litoral Norte em

contraposição à pequena importância do setor no Litoral Sul, até agora.

                     Por fim, como foi possível perceber, a pesca nunca teve, em ambos os ca-

sos, um desenvolvimento linear e autónomo, pois sofreu continuamente as influências do merca-

do metropolitano. França analisa a intermitência do setor em Ilha Bela "O apogeu teve lugar

entre 1925 e 1932 (segundo testemunho concorde de muitos informantes) quando costumavam

frequentar as costas da Ilha 45 a 50 barcos de pesca (aproximadamente 80% matriculados então

no Porto de Santos). O principal posto pesqueiro da Ilha, o Sombrio teria chegado a reunir

450 a 500 habitantes, dando abrigo na sua reentrância bem protegida dos ventos, de 20 a 25

barcos por noite. O próprio acúmulo de pescadores e de aparelhos de pesca, a irregularidade na-

tural dos resultados desta, além do abandono das atividades básicas da subsistência teriam deter-

minado curtas mais sérias crises. A sequência de 4 anos difíceis, de 1932 a 1935, logo após a

fase de maior animação, foi o primeiro golpe sério, reduzindo à condição de miséria vários pro-

prietários de barcos. A 1935, referem-se inúmeros pescadores como tendo sido um ano de fo-

me, que teria levado alguns a colheita florestal e grande número ao êxodo".(9)

                   O estabelecimento de algumas pequenas indústrias de pesca na região, o mer-

cado turístico e o da Grande São Paulo, ao lado de algumas melhorias tecnológicas como a in-

trodução do cerco flutuante, do motor de centro e o aparecimento de barcos pequenos e mé-

dios na captura do camarão e do cação (ao lado das traineiras) têm garantido alguma continui-

dade, ainda que precária, para as atividades pesqueiras em Ubatuba.





 3.   PRODUÇÃO


      3.1. Evolução da Produção Pesqueira


                     A pesca no Litoral do Estado de São Paulo, com incentivos fiscais concedi-

dos ao setor com o Decreto Lei N.o 221, de 1967, tem demonstrado um certo incremento a-

pesar da instabilidade que as fontes estatísticas revelam no que diz respeito à captura. É cla-

ro que a pesca, considerada já uma das indústrias de base, não pode ser medida em termos es-

taduais, dadas as características dessa atividade, que explora um bem comum, que é o mar e

que implica na descarga do pescado em portos, por vezes distantes dos lugares de onde são

provenientes as embarcações. Muitos barcos sediados em Santos descarregam o pescado no Rio

Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, de acordo com o tipo de captura, disponibilidade de

infra-estrutura (gelo, óleo, armazenamento) de cada cais.

                  Os entrepostos de descarga de pescado se distribuem pelo Litoral  Paulista

conforme mostra o mapa n.o 2, destacando-se Santos como terminal principal; Cananéia e Uba-

tuba como terminais secundários; Iguapé, Ilha Bela e S. Sebastião como pontos de descarga.

                  Santos, que responde atualmente por quase 90% do pescado descarregado em

postos de S. Paulo é administrado pela Cibrazem (Cia. Brasileira de Armazéns), enquanto que o

CEAGESP — Cia. de Armazéns Gerais do Estado de S. Paulo, responde por Ubatuba, Cananéia

e Iguapé.

                  A participação de cada um deles no conjunto da captura do Estado,        pode

ser observada no Quadro n.o 1 e evidencia o papel destacado do Entreposto de Santos.



                                                                                               9

                      ESTRUTURAÇÃO                  DOS TERMINAIS            PESQUEIROS E PONTOS

                          DE DESEMBARQUE DO ESTADO DE SÃO PAULO.





                D E             SAO

oo





                                                             S A N T O | ^

                                  \          1'

                                                                                                                     V^. DE J A N E I R O

                                  -                 °~

                              PERUIBE   0/        ITANHAEM





                                                                                                      LEGENDA


                                                                                               Q   TERMINAL      PRINCIPAL

     CONVENÇÕES

 •    RODOVIA   PAVIMENTADA                                                                    Q   TERMINAL      SECUNDÁRIO

 -    RODOVIA   NÃO   PAVIMENTADA


                                                                                               A   PONTOS   DE    DESCARGA





                                                                                                                          MAPA N ^ Z

QUADRO        N.o 1





                                                                          QUANTIDADES DESEMBARCADAS NO L I T O R A L PAULISTA EM KG.




                                   1967                            1968                               1969                       1970                     1971                        1972

     Entreposto

                       Quantidade             %       Quantidade                %         Quantidade           %       Quantidade        %     Quantiijade        %      Quantidade          %





  Ubatuba              2 616 000              43      4 226 000                / 60        3 H03 2 8 b        63       4 164,(J00       66      4 /q'.o(X)        8 '.     b 402 000         99





  S. Sebasliáu         2 12b 000              4.b    4.04b 000                 / V         2 314 4 3 9        38       1 bb2,000        2 f)    1 M A 000         24       1 462 000         2 7





  Santos              54 0 8 2 Don        m     2   4 b 731 0 0 0             81 P        S3 2 7 1 0 0 0     HH (        32H 0 0 0      88 6   48 4H', oon        86 6   •1b 79 7 0 0 0      H4 '





  Iguapé                  832 000             1 4    1 403 000                 /' *i         /")bò(.l         0 '>       4 8 1 o(«i     0 /•      3'iS 0 0 0      06         ,Í6/ 0 0 0      0 h





 CaiiHiiéia               378 000             06       456 000                 0 8           0 0 / 4 ((>      1 0        0 1 1 OOO      1 4      0^;l 1 1 M 111   1.7      l.OOUOOO          i >!





                                          100                                 10(1        (ÍO 291 8 2 1               (i? 43'1 (K)0     100    bb 970 000         100    b4 0 7 8 ( 1 0 0    Illi 1

  rOlAL               6 0 6;-i -100(3               ','ifl61 000

                     Nesse Entreposto desembarcou uma média de 72.9%, da captura total entre

1967 e 1972 e mantendo mais ou menos estável sua participação no total do pescado desem-

barcado no Litoral Paulista. A grande participação do Entreposto de Santos é uma indicação da

disseminação da pesca técnica, que encontra aí as melhores condições de consolidar-se, graças à

infra-estrutura disponível e à base empresarial de que passou a desfrutar nos últimos anos.

                   Ubatuba, com 7.2% e S. Sebastião com 3.8% da captura média nos 6 anos

estudados, ocupam uma posição secundária no conjunto do Litoral Paulista. Enquanto Ubatuba

mostra uma participação crescente, S. Sebastião sofre um recesso, passando a sua participação

de 7.2% em 1968 para 2.4% em 1971, enquanto a quantidade de pescado aí desembarcada di-

minui em 61.6% no mesmo período.

                 Iguapé e Cananéia participam em conjunto durante o primeiro triénio, com

pouco mais de 1% do total. Cananéia, no entanto, tem demonstrado contínuo crescimento na

captura apôs 1968.

                  O Quadro n.o 2 fornece a mesma informação agora, à base do valor da pro-

dução desembarcada em cada Entreposto, e confirma o papel de relevo do entreposto santista.

                  Os valores de produção constantes desse Quadro, foram calculados        à   base

dos preços médios anuais, registrados no Entreposto Terminal de São Paulo.

                     Esses preços incluem, evidentemente, uma parcela dos custos de comercializa-

ção do produto, por exemplo, o custo do transporte até S. Paulo, da carga e descarga do pes-

cado, etc. Por outro lado, o Entreposto Terminal de São Paulo é o palco principal, no qual o

balanço oferta-demanda, determina os preços a serem pagos aos produtores, segundo a origem,

a qualidade e a quantidade do produto. A utilização de um preço uniforme para os diversos

entrepostos, representa pois, uma deformação do cálculo do valor da produção ditado, entretan-

to, pela inexistência de registro dos preços pagos nos entrepostos locais.

                    Esse cálculo representa, pois, uma aproximação dos valores reais da produ-

ção de pescado nos entrepostos e deve ser encarado como um dado indicativo da importância da pesca

no Litoral Paulista, sem, contudo, representar a renda efetiva gerada pela pesca.

                    É interessante se observar que Ubatuba, em 1970, apesar de ter uma produ-

ção mais de 4 vezes superior à de Cananéia, apresentou um valor menor ao obtido por este úl-

timo entreposto. Isso se explica pelo baixo preço da sardinha e o alto preço do camarão.

     3.2. Produção por Espécie em Ubatuba

                   O Quadro n.o 3 contém as quantidades desembarcadas em Ubatuba,             entre

1968 e 1972.

                   A quantidade total capturada apresenta um declínio de 10.0% em 1969, po-

rém, a partir daí, evolui favoravelmente. Em 1972 houve um aumento de 27.7% sobre a captu-

ra registrada em 1968.

                    A composição da captura revela uma predominância absoluta da sardinha que

representa 93.9% da captura média anual durante o período. Em termos relativos, a participa-

ção da sardinha permanece praticamente estabilizada em torno dessa média, crescendo levemen-

te nos últimos 3 anos. A quantidade capturada decresce no segundo ano da série, para a se-

guir, crescer em 30.8% até 1971. Verifica-se, pois, que a taxa de incremento da captura dasar-

dinha supera aquela do total de pescado capturado em Ubatuba, o que determina sua crescen-

te participação relativa no conjunto da captura.

                    A importância relativa da sardinha, na composição da captura não revela to-

davia a potencialidade da região. Grande parte da sardinha desembarcada em Santos, impossível

1


de ser quantificada, procede do Litoral Norte e os barcos que a capturann, descarregann aí por

não encontrarem em Ubatuba e S. Sebastião uma infra-estrutura adequada à sua operação.

                    Sendo a sardinha uma espécie destinada preferencialmente à industrialização,

sua captura procede-se com o emprego de recursos da moderna tecnologia pesqueira, o que per-

mite caracterizar a pesca em Ubatuba como uma atividade técnico-industrial. Os pescadores ar-

tesanais são responsáveis pela pesca de linha, de espinhei, de cerco e utilizam pequenas redes,

destinando sua produção para o auto-consumo ou para a venda nas cidades.

                    Uma pesquisa realizada em 1972, mostrou a sazonalidade das principais espé-

cies capturadas na região. Assim, no tempo quente sobressai o bonito, cação, o carapau, a ca-

vala, o xarelete, a corvina, a enchova, o galo, a garoupa, a pescada, o xareu, enquanto que no

tempo frio são capturadas as seguintes espécies; a tainha, o pampo, a sororoca, o parati. A sar-

dinha e a espada são capturadas tanto no inverno quanto no verão, ainda que a primeira espé-

cie se afaste mais da costa no tempo frio.

                   No Quadro n.o 4 estão, em ordem de importância, as 6 espécies mais impor

tantes capturadas nos últimos 5 anos. Além da sardinha, que no período sempre representou

mais de 90.0% do total da captura sobressaem o carapau, o goete, o bonito, a pescada, o es-

pada, a savelha, o cação. O bonito apresentou um aumento anual de captura desde 1968, vin-

do a decair em 1972. O cação, por outro lado, de pequena importância até 1971, veio a des-

tacar-se em 1972, alcançando o 4.o lugar. A cavalinha apresentou um aumento de 84.2% entre

 1971 e 1972. A maioria das espécies constitui-se de peixes pelágicos (bonito, cavalinha, carapau).




    3.3. Valor da Produção


                    O valor da produção pesqueira na sub-região Litoral Norte, foi estimado à

base dos preços relacionados anteriormente e das quantidades de pescado desembarcadas em Ubatu-

ba e São Sebastião. Essa estimativa agrega portanto, aos erros devido às precárias estatís-

cas da produção, bem como aqueles já citados, derivados da utilização dos preços registrados no

Entreposto Terminal de São Paulo. A utilização desses preços deve-se exclusivamente à impossi-

bilidade de se determinar os preços realmente pagos aos pescadores, nos locais de desembarque.

Sendo assim, o valor da produção estimado, deve ser encarado como um indicador precário da

importância do setor, na formação da renda global do setor primário da sub-região.

                   O Quadro n.o 5 refere-se ao valor da produção pesqueira de Ubatuba, que

apresenta no período estudado, um comportamento relativamente estável, decrescendo em 1970

e recuperando-se a seguir. A variação total no período, foi um incremento do valor, da ordem

de 18.5%.

                   Verifica-se aqui a mesma predominância da sardinha, já registrada no quadro

das quantidades capturadas: entre 1968 e 1971, ela apresentou em média, 79.8% do valor total

da produção, apesar de concentrar 93.0% da captura, no mesmo período. Assim se expressa o

preço relativamente menor que a espécie alcança no mercado.

                  O valor da produção dessa espécie sofre uma queda nos 3 primeiros anos,

porém, essa tendência se inverte em 1971, transformando-se em um incremento de 23.8% en-

tre os extremos da série considerada.



CONTINUA       ..........


Confira    a    3 ª parte  a  ser compartilhada aqui  dia   14 de  março de 2021

A partir do Titulo

 4. INFRA-ESTRUTURA PESQUEIRA


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