A escolinha, afinal, começou a funcionar em 1946, na praia do Itaguá, a quatro quilômetros de Ubatuba, num terreno doado pelo Sr. Bráulio Santos. E os alunos sempre encheram a modesta sala de aula, não raro ultrapassando o número legal de quarenta. Como tinham parentes em Caçandoca, estes vieram pedir uma escola também. Esta foi inaugurada em 1949.
No ano seguinte a Prefeitura de Ubatuba autorizava a instalação de outra no Camburi, de uma quarta na praia da Almada, em 1951, e mais uma em 1954 no Sertão de Ubatumirim, longínquo e isolado. Todas foram construídas e são mantidas pela S.P.E.S., sendo que a municipalidade de Ubatuba paga os ordenados das professoras nas três últimas e o Estado, nas duas primeiras. Em 1953 a Sociedade passou a receber subvenções do Estado, por ter sido declarada de utilidade pública. O programa das escolas é uniforme, idêntico, aliás, ao de qualquer Grupo Escolar, e elas recebem visita anual do Inspetor Estadual. Em 1955 tínhamos duas dezenas e poucas crianças em todas elas (por falta de auxiliares, minhas estatísticas são muito falhas).
Mas nossas escolas não se limitam só às crianças e à sala de aula. Cuidam também dos adultos, alfabetizando-os à noite, ensinando as mulheres a costurar a máquina e preparar alimentos mais sadios; distribuem aos pescadores fios para as redes e peças para os barquinhos que eles próprios constroem; aos lavradores dão formicida contra a saúva, ensinando-os a diversificar suas culturas e fazendo distribuição de sementes e remédios. Esse auxílio abrange umas seiscentas pessoas, atualmente.
Há pouco tempo, a Sociedade realizou um concerto beneficente e, com a renda, comprou um motor para um dos barcos, a fim de que os homens do Sertão de Ubatumirim possam levar víveres para vender ao caiçara de Itaguá mais barato do que os armazéns de Ubatuba.
Padre João Beil em visita aos caiçaras isolados |
Nosso bom aparelhamento didático faz com que as substitutas diplomadas deem preferência a trabalhar conosco. Em Itaguá temos professoras formadas, donas das cadeiras; na Almada e no Camburi, duas substitutas diplomadas; e na Caçandoca e no Sertão de Ubatumirim, professoras leigas, isto é, sem diploma, que fizeram estágio no Auxílio ao Litoral de Anchieta, em Santos. Três outras moças de Ubatuba, que atualmente moram comigo em São Paulo, também estão estudando para voltar ao litoral e ensinar seus conterrâneos.
Reconheço que chegamos agora ao limite de nossas possibilidades de ação, A S.P.E.S. já provou que a dedicação muito pode, mesmo com parcos recursos, e que o caiçara, com um pouco mais de saúde, melhor alimentação e rudimentos de instrução, é outro homem. Entrei em contato com uns frades missionários aos quais pretendo passar meu trabalho de direção, continuando como simples colaboradora. Sob a égide da Igreja Católica, eles poderão realizar um trabalho em escala muito maior.
Texto publicado na revista AMÉRICAS – Volume VIII, Número 3, Março de 1956. (revista mensal publicada pela União Pan-Americana em português, inglês e espanhol).
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