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18 Maio 2011
Fazenda Morcego: beleza natural construída por mãos escravas EZEQUIEL DOS SANTOS Após quase uma hora de caminhada por uma trilha ou cinqüenta minutos de barco, existe um lugar que, além da história de luta, sofrimento e sobrevivência, esconde uma beleza espetacular.
É o Saco do Morcego, parte da antiga Fazenda Morcego. Com provas físicas que sobreviveram a uma fase triste de nossa história, o local abriga particularidades que só existe por estas bandas. Ao adentrar no local é possível avistar o que sobrou da produção de duas épocas - a escrava e o antigo bairro. Um pouco a frente o Rio Inhame, somada ao Rio da Bomba e mais dois outros riachos formam um só que deságua graciosamente em forma de véu de noiva, deslizando suave e continuadamente sobre a pedra da costeira caindo no mar. Às vezes parece que é a água do mar que sobe suavemente com suas espumas sobre a pedra. Beleza em forma de parceria que enche os olhos até mesmo de moradores acostumados com o local. Muita gente pode não acreditar, mais se trata da mais pura beleza divina, com um toque humano. O riacho que hoje é raso já foi local de banho porque quando fundo, havia uma pinguela de madeira para sua travessia. Do outro lado ruínas, que são a prova real que formam os vestígios do porque o local é chão quilombola. A Mata Atlântica vem cobrindo e encobrindo vestígios da história da formação de nosso povo. O local realmente é uma pintura divina, daquelas que existe apenas uma cópia e que seus guardiões a protegem muito bem. Em meio à semeadura natural é possível avistar mexeriqueiras, jaqueiras, laranjeiras, bananeiras, araçazeiros, ameixeiras, cambucaeiros, mamoeiros, goiabeiras entre outros eiros e eiras da época do cultivo familiar. É tanta fruta que o cheiro do local é doce, saboroso, principalmente quando se mistura com outros aromas da natureza. À frente, a enseada do lugar é boa para pesca artesanal, mas também para contemplação, foto, pintura, um verdadeiro relax para alma e para o corpo. Os sons produzidos pela natureza do local esvaziam a nossa mente das porcarias cotidianas e nos dão uma nova recarga. O ar maresiado pelo sal das águas desintoxica nossos pulmões energizando nossa capacidade aeróbica. Na realidade o local é um excelente terapeuta, psicólogo, analista, companheiro, amigo. No dia das fotos a equipe do Jornal Maranduba News foi agraciada com a visão de um bando de botos. Tartarugas também vieram a nosso encontro. Todas perto da praia de Local servia para desembarque de produtos e mantimentos. Também utilizado no tráfico de escravos. pedras da qual formam o funil desta enseada. Lá a profundidade é de aproximadamente seis metros, as plantas quase chegam ao mar. Triste mesmo é a quantidade de lixo que acomoda na praia de pedras trazidas de outros lugares. É o lixo Cachoeira desagua no mar através da costeira, oferecendo um visual inédito. Ao fundo a vista de Ilhabela completa o visual. Fotos: Ezequiel dos Santos urbano invadindo o paraíso e não é de agora, há muitas décadas isso acontece. Como diz os antigos: Uma judieira!
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Local ainda guarda grandes mistérios do passado EZEQUIEL DOS SANTOS
O local mantém as estruturas da antiga fazenda a beira mar. É possível subir os degraus de pedra que outrora fora dos barões, ao fundo os antigos pilares de sustentação, ao lado uma caixa de pedra no chão que mais lembra uma piscina, caixa de água ou algo semelhante. Esta caixa é rodeada de muitas especulações sombrias sobre o trato aos negros na localidade. Ao fundo, para segurar o barranco um muro de pedra que vai fora a fora de um lado para o outro. Uma pedra redonda com furos no meio era utilizada como parte de uma moenda. De todo o lado marcas no chão da casa grande. Isto é só o que podemos ver. Em seu solo muita coisa foi enterrada e ainda trata-se de um grande mistério. No local ainda existe uma casa antiga bem menor do que foi a casa de um barão. Falo da casa de Benedicto Antunes de Sá, 69, mais conhecido como Ditinho Antunes, nascido na localidade. Em 1964, por conta da ocasião de seu casamento construiu a casa no terreiro do barão e em 1966 fez de lá sua morada. Na época o local era de seu pai Luiz Antunes de Sá que possuía grandes roças, principalmente bananais. Ele nos conta que o lugar tinha muito mais pilares. Quando abriu roça para o sustento da família descobriu muita coisa enterrada, vigas de pedra, pedaços de ferro, correntes. O mais estranho foi quando resolveu mexer num circulo de pedra enterrado no chão. Conta- -nos que foi tirando as pedras até que chegou numa peça única que parecia uma tampa de aço, com um pedaço de madeira bateu naquilo que fazia realmente o som de alguma coisa feito também de aço. Deixou lá para Construções em pedra mostram a grandeza que já foi o local de antiga fazenda de cana de açucar. mexer outro dia e nunca mais foi ver do que realmente se tratava. Tem muita coisa lá enterrada e nunca descobriremos o que é!, comenta Ditinho. Existe um espaço entre o degrau e a pedra pro mar que o pai dele plantava feijão. Eles chegaram a tirar algas marinhas para mandar ao Japão. Nos bananais do seu pai trabalhavam os camaradas João da Mata, Geraldo Benedito e Dorvalino que davam um duro danado para seu ganha pão. Ao lado pela costeira existe um local chamado Cavalo Grande. São pelos menos setecentos metros de costeira em forma de uma única pedra que tem a forma de uma ferradura de cavalo até o mar, que vai até o canto da Cutia. Hoje se vê de outra forma, mas em sua época a lida do dia-a-dia era muito dura. Seu Ditinho nos conta que a dureza era tanta que as pessoas que lá moravam eram o mesmo que desbravadores, que tinham de enfrentar as incertezas da vida, muitos morriam no caminho, no mar, em casa, nas caçadas. Naquela época tudo o povo sabia fazer, o meio ambiente não tratava trabalha.
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