- Amanhã irei fazer um azul marinho.
Era o que mamãe sempre fala quando papai trazia da pesca uma garoupa, um sargo,... geralmente peixe de costeira.
Eu já sabia o que era aquilo e, um dia então quis aprender a fazer tal gostosura da culinária caiçara; e aprendi, mesmo sem perceber e me questionar da tal cor relacionada ao prato, até porque o tal “azul” não aparecia na panela, nem no prato, e muito menos na colher, mas um dia me veio a curiosidade e questionei mamãe Alcina, que de imediato me respondeu: - É porque Julinho, o preparo do peixe com a banana verde tem que ser feito em panela de ferro e não em panela de alumínio!
Era o que mamãe sempre fala quando papai trazia da pesca uma garoupa, um sargo,... geralmente peixe de costeira.
Eu já sabia o que era aquilo e, um dia então quis aprender a fazer tal gostosura da culinária caiçara; e aprendi, mesmo sem perceber e me questionar da tal cor relacionada ao prato, até porque o tal “azul” não aparecia na panela, nem no prato, e muito menos na colher, mas um dia me veio a curiosidade e questionei mamãe Alcina, que de imediato me respondeu: - É porque Julinho, o preparo do peixe com a banana verde tem que ser feito em panela de ferro e não em panela de alumínio!
Então, como São Tomé, quis ver pra crer, e arrumei uma panela de ferro com o vizinho e esperava ansioso a próxima peixada. E foi de um “sargo de beiço”, de mês de junho, gordo que dava gosto... E não foi que o caldo ficou azul? Azul marinho, sim senhor! Até entendi o tom marinho do azul, pois pensava que o caldo ia ficar da cor do céu ou da cor da plumagem do tangará. Não, azul do tom daquele mar distante que sempre admirei!
Mamãe ainda explicou o porquê do surgimento da cor azul marinho.
- É porque Julinho, a química da cica da banana verde em contato o ferro da panela faz o caldo ficar nesse tom de azul ! E no meu tempo Julinho, continuou mamãe, lá em casa quando faltava o gás, mamãe fazia o cozido no fogão de Itacuruba, aí o azul ficava mais acentuado ainda, acho que devido a fuligem da fumaça que saia da lenha e entrava na panela.
Aí o glossário aumentava: itacuruba?
- Itacuruba mamãe, o que é isso?
- É fogão de índio!
- Como assim?
- Simples! Pega três pedras e assenta, de forma segura, a panela em cima e mete fogo em baixo com gravetos e lenha seca.
Pois é, dessa cultura já aprendemos alguns detalhes, mas o melhor vem agora caso alguém se interesse em preparar o tal azul. Dos peixes já citamos acima, mas serve também a piragica, a anchova, a cavala, até a tainha de mês de junho, sempre cortados em postas; passe sal, pelo menos uma hora antes e vai preparando os ingredientes: salsinha, coentro miúdo, tomate, pimenta de cheiro, três dentes de alho, cebola, sal e óleo. Para o preparo do pirão, não pode faltar a farinha, logicamente a nossa farinha caiçara e a banana verde, das quais se utilizam da nanica, a “santomé”ou a raríssima grumixé. O limão e o molho de pimenta vão a gosto durante a comilança.
O modo de fazer também é simples: Com o óleo fervendo na panela, doure a cebola e o alho e em seguida junte o coentro, a salsinha, a pimenta de cheiro, o tomate e a banana verde, refogando tudo até a banana começar a amolecer. Depois que a banana estiver amolecida, junte o peixe, deixando-o cozinhar por no máximo dez minutos. Nesse tempo já deixe a vasilha com a farinha, preparada para receber o caldo fervendo para fazer o pirão “engolorado” amassado com a banana. Esse sim é o verdadeiro pirão caiçara e não o angú, que fazem jogando a farinha no caldo. Há uma grande diferença nisso! Pirão é caiçara, angú é caipira! E como brinco em dizer: “Caiçara não é caipira, e pirão não é angú”.
Pronto! Está aí o tradicional prato da culinária caiçara. Coma, coma bastante!
Ah! E tem mais ainda: Se afrodisíaco ou não, diz a lenda que se uma mulher engravidar após ter apreciado o azul marinho, com certeza o filho ou filha terá olhos azuis.
- Ô meu, é lógico que a gravidez não será por causa do pirão do azul marinho, né?!.
FONTE.........JULINHO MENDES VIA FACEBOOK.
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