terça-feira, 15 de outubro de 2019

DONA MARIAZINHA DA CONSERTADA

GRANDES UBATUBENSES.....Dª Mariazinha da Consertada...
uma tradição caiçara!
A nossa Ubatuba tem preciosidades guardadas na memória dos antigos caiçaras. São verdadeiros tesouros vivos, desinteressados. Fatos que caíram no esquecimento, que não se encontram em livros para consulta, mas que estão ao nosso alcance...
Dª Maria Aparecida dos Santos ou Dª Mariazinha da Consertada, como é conhecida no bairro do Itaguá, aos seus 76 anos relembra com saudades da sua infância, de festas e nos revela a receita da ‘bebida típica de Ubatuba’, a Consertada.

Dª Mariazinha morava com sua avó na praia do Itaguá, brincava próximo do insinuante verde do jundu, praia sossegada, sem muita novidade.
Quando o Sr. Albino, antigo morador da Ponta Grossa, hoje residente do Itaguá, resolveu unir todos os moradores para a construção da Capela do bairro, atual Igreja de Nossa Senhora das Dores, foi a maior demonstração de força comunitária que ela presenciou, ainda pequena: ela e todas as crianças do catecismo levavam uma pedrinha para ajudar na construção. Além de contribuir para a história do bairro, diz que foi muito divertido.
O bom de morar com a avó é que ela sempre a levava para as festas. Naquele tempo, tinha religiosamente as festas de Santo Antônio, São João e São Pedro.
Ela conta que as festas eram feitas na casa do festeiro sorteado naquele ano. Na última reza, a qual fechava o ciclo de comemoração, colocavam-se os nomes de pessoas interessadas em um papel para que fosse sorteado o festeiro e a festeira do próximo ano: estes ficavam responsáveis por toda a organização, desde decoração até petiscos e bebidas. O mesmo sistema era usado para a escolha do alferez da bandeira, que cuidava da bandeira; do capitão do mastro, que pintava o mastro deixando-o o mais bonito possível e do capitão da fogueira, que, claro, cuidava da fogueira na festa de São João.
Quem nunca ouviu falar nesta tradição, poderá conferi-la nos dias 12 e 13 de junho na Capela de Nossa Senhora das Dores, no bairro do Itaguá.
Foi nestas festas que surgiu a saborosa Consertada preparada pelo pai de Dª Mariazinha. Não se sabe bem ao certo quem a criou, mas sabemos que era tradicional em nossas festas. A Consertada era uma bebida para que mulheres e crianças pudessem acompanhar os homens, aos quais eram servidos vinho ou a tradicional pinguinha.
Quando o pai de Dª Mariazinha partiu deste mundo, levou consigo a típica Consertada. Os anos passaram-se e as pessoas não se lembravam mais do prazer de degustar a suave bebida.
Na 3ª Festa da Cultura Popular, realizada na igreja do bairro, foi que ressurgiu a Consertada, a nossa tradição. Dª Mariazinha resgatou de sua memória a receita, que por curiosidade observava seu pai no preparo da bebida. Este estímulo veio através do Ney Martins, organizador da Festa da Cultura Popular, que passou a divulgar a nossa bebida típica, que já esteve em Festas Culturais, Congressos e Feiras de Turismo realizados em Areias, Goiânia, Lorena e outros lugares.
Segundo Dª Mariazinha da Consertada, ela era a única nesses anos todos que sabia a receita, com exceção recente de umas cinco pessoas espalhadas pela cidade. Para que esta preciosidade não se perca nos esquecimento, ela nos deu a receita. Cabe a nós fazer, provar e, principalmente, divulgar!
Ingredientes: 5 litros de água, 1 litro de pinga, 1 kg de açúcar, 1 pacote de canela, 1 pacote de cravo, casca de 6 laranjas (preferência curtida) e capim cidrão.
Preparo: Pôr no fogo o açúcar, a canela, o cravo, o capim e as cascas. Mexer até dourar. Em seguida, colocar a água e deixar ferver até reduzir a mais ou menos 3 litros. Colocar a pinga e deixar ferver mais um pouco.
Obs: O teor alcoólico pode variar, de acordo com o gosto de quem faz; só não pode o gosto da pinga sobrepor-se aos outros temperos. D² Mariazinha aconselha que para cada 5 litros de consertada, o ideal é 1 litro de pinga.
O jornal A Semana agradece Dª Mariazinha pela sua atenção e simpatia.
Creio que se todos nos déssemos o prazer de escutar a vivência dos nossos avós, tios, pessoas do próprio bairro ou até mesmo pesquisar fatos históricos, científicos ou estórias contadas pelo vizinho ao lado, teríamos o antídoto para tornar a cidade glamourosa pelo que se é!!


FONTE : JORNAL A SEMANA UBATUBA

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