sábado, 14 de setembro de 2019

COAQUIRA E A PAZ DE IPEROIG........

Coaquira e a Paz de Iperoig

Texto  de  Julinho Mendes  1OO % Caiçara... – Ubatuba - SP , de  14/set/2009

-Meu nome é Coaquira. Coaquira de Iperoig! Tenho exatamente 516 anos de idade.
Tínhamos muitas canoas e uma vegetação de muitas ubás. Um dia, lá no pontuaçú (hoje Ponta Grossa do Farol), surgiu um canoão que andava com o vento.

Eu era ainda menino, estava sentado na praia de Iperoig, quando vi chegar aquilo. Gritei prá toda aldeia e todos curiosos vieram pra ver tal canoão. Vovô Kayapika falou: -Se for homem branco peguem seus arcos e matem todos! Mas não deram ouvidos, foram dando confiança, ouvindo conversa fiada, aceitando camisetas, santinhos, quinquilharias, ... -Deu no que deu! Fizeram-nos de bobo, levaram nossa riqueza, tiraram nossa liberdade, e até nossas meninas os tarados engravidaram.
-Vovô falava: -Não dêem confiança a essa gente! E tinha razão, depois de sessenta anos foi que foram dar por conta de suas palavras. Já era tarde! Aqueles homens brancos com suas armas de fogo já tinham dominado todo nosso povo. Já tinham nos maltratados, escravizados, massacrados e nos assassinados.
-Vovô Kayapika morreu de desgosto ao saber que a jovem Metakawara, filha de Tibiriçá ia se casar com um tal de João Ramalho, braço direito de Brás Cubas, governador da Capitania de São Vicente; surgindo assim uma aliança entre brancos portugueses e índios guaianazes contra outras nações indígenas. Veja só que absurdo!
-O que fazer? O que fazer, naquelas alturas, era ter que acreditar em outra espécie de gente branca. Então, nós Tamoios, nos reunimos. Estava Eu, Pindobuçú, Aimbiré, Araraí e Cunhambebe; diante da situação, nossa saída foi se ajuntar com os franceses. -Tudo virou bosta! Contraímos muitas doenças, o que dizimou milhares de nossa gente, até Cunhambebe foi pro beleléu; morreu com um tal de sarampo.
A guerra foi intensa, e por intervenção de Anchieta e Manoel da Nóbrega foi que no dia 14 de setembro selaram um acordo de paz. A Paz de Iperoig.
-Fomos bobos mais uma vez! -Se aquele acordo de Paz fosse sincero ainda estaríamos aqui, surfando e comendo camarão frito nos quiosques das praias.

Nenhum comentário: