Julinho Mendes – 01/05/2019
Me considero artesão! Não de profissão, mas sim como hobby, fazendo alguns trabalhos com madeiras, materiais reciclados, pedras,....
No meu tempo de criança, frequentei a escola de artes da ALA, com a professora madre Maria da Glória e ainda no colégio capitão Deolindo, onde tinha uma sala com diversas ferramentas e materiais, tendo a disciplina “artes industriais”, onde o professor era o saudoso Waldirzão, lá também aprendi e fiz vários trabalhos artesanais (ainda guardo um índio de pau de laranjeira que fiz). Digo também que conheci e presenciei o puro trabalho de artesanato caiçara, as vezes, nem artesanato, mas sim fabricação de utensílios de uso domésticos e de trabalho do dia a dia, tudo feito com material extraído da nossa mata, assim como: Taboa do brejo, cipós timbopeva e Imbé, taquaras das mais diversas espécies, embiras de cascas de árvores, madeiras como caxeta e tarumã, folhas de palmeiras, cabaças... uma infinidade de material providos da mata. E desse material faziam-se esteiras e redes de dormir, balaios para pescas, sandálias, chapéus, remos para as canoas,... tudo, a princípio, de primeira necessidade. De repente chegam os turistas e na observação e admiração desses artefatos diferentes e bonitos, feitas pelas mãos dos caiçaras, começam a dar valor, comprando e levando como souvenir. E o caiçara passou a gostar disso! Vendo tal afazer como forma de ganhar dinheiro, passou então a se dedicar a tal trabalho com mais afinco e aprimoramentos mais perfeitos e artísticos. Barracos a céu aberto e lojas comerciais foram criados e crescendo para atender ao turismo e com isso o que era trabalho para suprir as necessidades do dia a dia, virou profissão, surgindo o artesão. O artesão e seu artesanato viraram atrações, e para ele foi criado um espaço reservado para mostrar e vender seu trabalho...
Mas tudo se modifica e as modernidades começam a surgir. Objetos industrializados de plásticos, vidros, porcelanas, metais, em quantidade entra no comércio e começa a tirar o espaço e o trabalho do caiçara. O que começou com a ideia de se tornar um atrativo comercial e cultural através das obras artesanais dos caiçaras passou e transformou-se em comércio de bugigangas chinesas, compradas na 25 de março, em São Paulo. Essa transformação se deu, principalmente pelo nível de turista que começou a aparecer também, um turista de baixa renda que não sabe e as vezes não tem condições de valorizar o artesanato feito pelas mãos dos caiçaras, preferindo assim as bugigangas industrializados a preço ínfimo. Com isso, juntando ainda às ideias de ambientalistas de escrivaninhas, “sem noção”, passam a proibir o caiçara de extrair a matéria prima da mata. O artista nato, de suas obras manuais, foi perdendo o interesse em produzir a sua arte e, pior que isso, não querendo mais fazer a transferência de seus conhecimentos a seus filhos e netos. - Que criança, adolescente, hoje sabe fazer um chapéu de palha, uma sandália de taboa, uma boneca de palha, uma arandela de bambu, um samburazinho de cipó? Muito raro de encontrar!
Acredito que, nessa nova era, a matéria prima é mais abundante do que antes, ou seja, juntando o que existe na mata com o material descartado que vemos jogados nos rios, praias, praças e jardins das cidades, numa tentativa de reciclar, daria para reinventar o artesanato, mesclando esses materiais e tornando-os valiosos e sustentáveis. Isso é fato! E devem, as autoridades políticas, apoiar e melhorar esse mecanismo de ensino e de trabalho ao povo local na intenção de um desenvolvimento econômico sustentável, e mais do que isso ainda, abrindo um campo profissional, que ajudaria na demanda da falta de emprego.
Ubatuba como cidade turística, ter um Senai, um Sesc, um Sesi, escolas técnicas profissionalizantes que atenda essa área de vocação a trabalhos artesanais, se faz necessário e urgente em nossa cidade e quem deve se preocupar com isso, buscando recursos, fazendo projetos e levando ao Estado e Federação, deveriam ser os nossos políticos (vereadores e prefeito). Esses estão preocupados e se mexendo para que isso venha acontecer em Ubatuba ou região do nosso litoral? No meu entender, a exemplo do artesanato produzido em diversas regiões do Brasil, há muito tempo deveríamos ser um polo de trabalho, de produção e exportação desse nosso artesanato.
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