Em 1936, promessa moveu
moradores do Sertão da Quina a caminhar até Aparecida.”
Pra quem vem ao bairro do Sertão da Quina se aventurar aos banhos de suas cachoeiras, quase que obrigatoriamente tem de passar pela Rua Benedito Antonio Elói, onde seu trecho foi roça de mandioca, cana, frutas, plantas medicinais, bananal, onde se via muito “tendal de café” (local para secar café feito de madeiras rústicas como o tronco do palmito e de umbaúba).
Pra quem vem ao bairro do Sertão da Quina se aventurar aos banhos de suas cachoeiras, quase que obrigatoriamente tem de passar pela Rua Benedito Antonio Elói, onde seu trecho foi roça de mandioca, cana, frutas, plantas medicinais, bananal, onde se via muito “tendal de café” (local para secar café feito de madeiras rústicas como o tronco do palmito e de umbaúba).
O
homenageado da rua era devoto de São Benedito, na sua casa de tapera eram
realizados todos os anos as festividades em homenagem ao santo, não faltavam
era doces de mamão, quentão, concertada (bebida a base de canela, cravo, melado
e um pouco de cachaça), fogueira, era uma festa entre compadres e comadres que
servia para estreitar os laços familiares.
Ele também era
chamado de “Tibitilói”, isto é, Tio Benedito Elói. Casado com Ana Soares
tiveram quatro filhos: Maria Elói, Filomena Elói, Conceição Elói e Elói dos
Santos, só que o casal também carinhosamente adotou mais um casal: Benedita
Juliana de Jesus e o moço Francisco que veio da “Serra Acima” acompanhado pelo
Oliveira.
Movidos pela fé, o
casal havia pedido a intercessão de Senhora das Graças para que o casal tivesse
um filho homem e que se realizado fariam uma caminhada até a cidade de
Aparecida do Norte para batizá-lo. Como o casal tinha três mulheres, a vinda do
quarto filho, um homem ajudaria muito o pai nos afazeres da roça.
A comadre Benedita
Januária, que duas décadas atrás pôde ouvir a Santa, disse que a Nossa Senhora
das Graças atenderia o casal, de fato Ana Soares ficou grávida de um menino,
após o nascimento mais que depressa deram inicio as preparações. Na época ser
padrinho ou madrinha era coisa muita séria, já que a eles seria passada uma
grande responsabilidade, na falta dos pais, assumiam os padrinhos. Por outro
lado, na região, os padres vinham apenas uma vez por ano, na época em que eles
se vestiam apenas de preto.
Após muita
conversa foram escolhidos o compadre José Pedro e a comadre Joana Maria de
Jesus (irmã de Ana Soares). Precisaram de mais de três meses para preparar a
saída, ainda tinham que entregar a farinha, feita em seu próprio viamento, na
venda do Benedito Ozório na Maranduba, outras sacas, amarradas com cordas de
imbira passados por uma agulha de arame foram levadas nas costas até a Vila de
Santo Antonio – Caraguatatuba.
Por conta da
escassez, as mulheres tinham de preparar suas roupas para o grande
acontecimento, com fazendas de chitas faziam vestidos novos, com sacos de panos
as roupas para as crianças, preparavam a combinação (vestido íntimo de alça),
levavam ainda o saiote de três marias ou anáguas em estilo reto.
Depois de tudo
combinado começaram a subir a serra. Era 06 de maio de 1936, neste dia foram: o
Zé Pedro, Geralda Justina, José Benedito Amorim, Januário Amorim, Benedita
Januária, Pedro Rosa (que foi mais de 15 vezes a pé para Aparecida), Pedro Oliveira,
Generosa Amorim, Mané Pedro, Maria das Graças, Benedito Elói, Ana Soares, Elói
dos Santos, Joana Soares, Francisco (adotivo), Maria Balbina, Elais Correa, Ana
Correa, Manoel Francisco Brak e Sebastiana Tereza.
Para matar a fome
levaram os seguintes mantimentos: peixe seco, açúcar cristal, feijão, pó de
café, sal, carne seca, biju, farinha pra sopa d´água, bolo de forno de farinha
enrolado na folha de banana, colher, carne na gordura, farofa de torresmo,
torresmo, frango assado na brasa, toucinho para assar no caminho, laranjas e
bananas eram apanhados no caminho como complemento alimentar. Grande parte dos
mantimentos era guardada em latas de banha e os sacos, que iam às costas,
amarrados com imbira (casca de árvore), outros com timopeva ou imbé (cipó, um
era duro e o outro maleável), para segurar as calças dos homens eram utilizados
ainda fibra de bananeiras torcidas a mão como cinto.
Para a segurança
eram levadas espingardas do tipo “espera que já vou” ou também conhecida como
“quarentinha”, cartucheiras de carregar pela boca calibre quarenta, ou alguma
Henrique Laporte calibre 36, facões não podiam faltar.
Chegado o dia da
caminhada, subiram pela Água da Preguiça, no caminho que vai para o Campo,
chegaram as Palmeiras (bairro), descansaram e continuaram a caminhada. Chegaram
as 6 horas da tarde no bairro da Fábrica (lugar de olarias, não existe mais) no
entorno de São Luiz do Paraitinga, lá pousaram.
As seis da
manhã partiram em direção à Taubaté, por sorte conseguiram carona em um
caminhão que transportava tijolos e chegaram a Taubaté ao meio dia. Arrumaram
as crianças, fizeram o almoço, os homens dormiram, já que para o pouso em lugar
aberto os homens montavam guarda cuidando das mulheres, das crianças e dos
mantimentos, só dormiam de dia no período do almoço que durava em média duas
horas, quando não havia lugares prontos para pernoitar, tinham de abrir
acampamento.O caminho a noite era iluminada por fifó (lanterna feita de bambu)
e sempre em lugar próximo a água, claro que quem podia levava um lampião a
querosene. De caminhão foram a Aparecida e lá, no dia 07, chegaram por volta do
meio dia. Uma das primeiras providencias foi comprar um cavalo de lenha, isto
mesmo, um cavalo que puxava uma carroça e conforme o valor da paga vinha um
número de lenhas para usar nos fogões. Na época a cidade não tinha mais de 100
casas e hotel, quer dizer pensão, era artigo de luxo, então o jeito foi dormir
nos lugares de acampamentos e utilizar as dezenas de fogão que ficavam a
disposição dos romeiros.
Enquanto os adultos
se arrumavam as crianças não perdiam nenhum detalhe, eram lá que muitas delas
viam pela primeira vez uma maçã, por exemplo, viam também tomate, pimentão,
brinquedos, macarrão, carne moída, as lâmpadas nos postes, “máquinas de tirar
retratos” e o que mais chamava a atenção na época eram os “pé de gato”, nada
mais eram que os avós do tênis que calçamos hoje, que era um calçado feito de
lona na lateral e o solado era de fios de cizal tão bem trançados que guardavam
os pés confortavelmente. Rapidamente os pais e padrinhos de Elói foram até a
igreja velha e marcaram para o dia 08 às 14 horas o batizado. Chega o grande
dia e até banho demorado tomaram, pela manhã foi uma mistura de café com
almoço, já que temiam perder o horário para o grande acontecimento.
Às 13 horas daquele
dia se juntaram a outros que vieram para o mesmo motivo e uma hora depois o
padre estava batizando Elói, tudo conforme havia relatado a comadre por
intermédio de Nossa senhora das Graças. No dia nove pela manhã e para a tristeza
dos pequenos, hora de partir. As crianças sabiam que a volta a Aparecida ia
demorar muito, a vinda pro Sertão foi mais rápida e não menos cansativa, porém
o alivio de ter cumprido a promessa deram a este povo simples uma nova missão e
muito mais responsabilidades.
A chegada foi na
tarde do dia 11 de maio de 1936, a vizinhança já os aguardavam e queriam saber
das novidades.
Atualmente todos os
anos centenas de pessoas realizam a caminhada a pé para a Aparecida, esta
demonstração de fé reforça não só os laços da religiosidade deste povo, mas
também os laços culturais e saber que muitos de nossos antepassados já o
faziam, não por opção, mas por maior devoção e por necessidade, já que não
havia outra forma de ir ao Vale do Paraíba senão a pé.
Para os moradores
do Sertão da Quina, a perda de Benedito Elói foi enorme, a família perdeu seu
pilar mais frondoso, a história perdeu mais um ícone da cultura caiçara e as
festas não foram às mesmas depois de sua partida. Embora reconhecido, muitos
ainda acham que o nome da rua ainda é pouco pelo que este homem representou
para a comunidade e que, por unanimidade, não se fazem mais homens como
antigamente, alguns como Benedito Antonio Elói.
Baseado no texto de Ezequiel dos
Santos
Publicado em https://www.maranduba.com.br/rumoaparecida.htm
Publicado em https://www.maranduba.com.br/rumoaparecida.htm
FONTE ORIGINAL...........
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