segunda-feira, 15 de outubro de 2018
REBELIÃO DE ESCRAVOS DE UBATUBA EM 1831.......Parte 2
O Juiz de Paz, João Gonçalves Pereira, tinha chegado a Ubatuba no dia 2 de Novembro de 1831. Pela correspondência trocada entre ele e o presidente da província, sabemos que sua missão era ‘‘prestar todas as cautelas por meio de huma exacta polícia a fim de extirpar toda e qualquer insurreição da escravatura’’.
Por isso ele não deve ter estranhado quando o fazendeiro Antônio Joaquim da Costa Brandão o procurou para dizer que desconfiava que seus escravos estavam tramando alguma coisa.
Os oito negros suspeitos foram açoitados para que confessassem o suposto plano, mas nada revelaram. Brandão decidiu vendêlos em um lugar distante, o Rio Grande do Sul, para não levarem a cabo nenhuma rebelião.
O senhor tinha direito de vida e morte sobre os escravos. Além de explorar a força de trabalho e de os submeter a castigos físicos, os fazendeiros podiam vender seus cativos quando bem entendessem. Ser vendido para longe, para muitos era suplício mais doloroso que o próprio chicote, pois afastava para sempre de filhos, e outros amores…
Quando os escravos suspeitos já estavam em alto mar, um passageiro livre do Aurora ouviu eles conversando sobre a insurreição, lamentando estarem sendo os castigados apesar de serem outros os mentores do motim. A testemunha alertou o capitão da embarcação, que decidiu voltar a Ubatuba e avisar a Vila. O Juiz vai ao Aurora e ali interroga novamente os escravos de Brandão, que revelam o nome dos cativos que os convidaram a tomar parte no ataque, Benedito e Belizário. Vicente Xavier de Carvalho, Sargento do 6º Batalhão de Caçadores, forneceria munição.
É apontado como líder Antônio Fernandes Pereira Corrêa, o misterioso forasteiro que vivia na casa do vigário Emídio José Fernandes. Nas palavras do Juiz ao presidente da província, Corrêa era ‘‘pessoa de péssimo comportamento, que com os nomes de Pátria e Liberdade, que falsamente apregoa, tem saído indispor-se com não pequena parte do povo deste Município’’.
Seria ele Revolucionário? Alguém a quem quiseram incriminar? Alguém que queria usar escravos para fins políticos pessoais? Não tenho certeza.
Do pouco que consegui descobrir sobre o passado de Antônio Fernandes Pereira Corrêa, o mais relevante é que até 1830 tinha negócios no Rio de Janeiro e que uma década antes, em 1821, quando o Brasil ainda pertencia a Portugal, apoiou financeiramente as tropas que forçaram o rei Dom João VI a aceitar uma constituição limitando seus poderes, conforme exigia a Revolução do Porto.
Mais importante que entender a ideologia do forasteiro, é descobrir porque tantos escravos e livres de Ubatuba estavam dispostos a participar do ataque.
Artigos de jornal, ofícios, e a correspondência entre o governo provincial e a Câmara de Ubatuba, mostram que o que de fato incomodava o povo da vila eram os abusos da elite agrária escravocrata.
Plantadores de café de Ubatuba e do interior do Estado queriam exportar sua produção e exigiam estradas melhores. O problema é que sempre exigiam que a população simples da vila, como trabalhadores urbanos e pequenos agricultores, pagasse a conta das obras que beneficiariam a poucos, a começar pelos grandes proprietários cujas terras margeavam as estradas.
Depois das estradas, veio a ponte sobre o Rio Paraibuna entre Ubatuba e São Luiz. Como em certos modelos de ‘‘Parceria Público-Privadas’’ de hoje em dia, os custos ficavam com o público e os lucros com agentes privados.
Para os negros nunca faltou motivo para rebelião. Mas havia uma mágoa recente a mais: os senhores foram os primeiros a profanar o sagrado. Em 1830, brancos invadiram a novena de Nossa Senhora do Rosario dos Homens Pretos e espancaram os devotos.
Em 1831 havia também motivos a mais para acreditar na libertação: 1 – Em outubro a província de São Paulo aboliu a escravidão indígena. 2 – A proibição do tráfico negreiro fez muitos escravos acreditarem que logo eles seriam libertos. 3 – Com as disputas entre Dom Pedro I e seu Irmão Miguel pelo trono português, se espalhou o boato que Dom Miguel libertaria os cativos se vencesse e reunificasse os tronos do Brasil e Portugal.
PENAS DIFERENCIADAS
Sargento Vicente Xavier, por ser militar, não podia ser julgado pela justiça comum. Os brancos que se envolveram no plano, mas que tinham terra, ficaram em prisão domiciliar. Só Corrêa, os negros e três brancos pobres foram presos. Conseguiram fugir, provavelmente com ajuda de companheiros que abriram um rombo na cadeia, usando explosivos. Perdi o rastro de Corrêa. Já os negros aparecem em anúncios de jornal com ofertas de recompensa pela recaptura.
FONTE.......INFORMAR UBATUBA
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