sábado, 13 de outubro de 2018
OS NEGREIROS E AS ESTRADAS
Em 20 de fevereiro de 1830, um fazendeiro de Rio Claro escreve um artigo ao jornal O Farol Paulistano, onde reclama que estava ‘‘cansado de sofrer prejuízos’’ desde que a Câmara de São Sebastião proibiu o embarque na freguesia de Caraguatatuba, obrigando os produtores de café a fazer viagens quatro léguas mais longas até Ubatuba, em estradas péssimas.
Por essa época começava a funcionar o mega-esquema de desembarque de escravos entre Ilhabela, a freguesia de Caraguatatuba e o extremo Sul de Ubatuba. O complexo, incluía a fazenda do Barão da Vila Nova do Minho, o engenho São Pedro de Alcântara e a ‘‘fábrica de vidros’’, que servia de fachada para os reais negócios do negreiro João Alves da Silva Porto. Nos pontos de vigia, acendiam piras para avisar os contrabandistas, por meio da fumaça, sobre a presença de navios ingleses que combatiam o tráfico.
Muitas autoridades colaboravam com o tráfico humano, por isso não é estranho que a Câmara de São Sebastião (da qual Caraguatatuba fazia parte) não quisesse pessoas de fora frequentando aquelas águas, mesmo que isso significasse arrecadar menos impostos e taxas dos exportadores de café. Isso teria sido um fator que contribuiu para a necessidade de se reformar as estradas até a região central de Ubatuba.
Em 1845, o Parlamento da Inglaterra aprova a Bill Aberdeen e a Marinha britânica passa a capturar os navios negreiros, levar os cativos de volta à África e ficar com as embarcações. A Lei foi aprovada porque os ingleses estavam cansados de ver os traficantes dando sempre um jeitinho de escapar mesmo quando apreendidos e julgados no Brasil.
Em 1850, os ingleses montam uma base na Ilha dos Porcos (atual Ilha Anchieta). No mesmo ano, o ministro da Justiça, Eusébio de Queirós, cria uma nova lei anti-tráfico, acabando com as brechas da lei de 1831 e endurecendo contra os traficantes. A quadrilha de Ubatuba já não contava mais com a proteção dos ministros marqueses de Maceió, Inhambupe e Baependi, que já tinham morrido (1834, 1837 e 1847). Era o começo do fim da ‘‘fábrica de vidros’’.
Texto: Leandro Cruz / jornal InforMar Ubatuba
*Publicado na edição nº 11 do jornal InforMar Ubatuba (maio/2017)
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