terça-feira, 25 de setembro de 2018

PRAIA DE MARANDUBA DÉCADA DE 1950 INICIO DO PROGRESSO OU DESTRUIÇÃO




No final da década de 1950 e inicio de 1960, com a construção das rodovias Rodovia Tamoios SP 99 São José dos Campos, Vale do Paraíba a Caraguatatuba. (Rodovia Oswaldo Cruz SP 125) Taubaté, Vale do Paraíba a Ubatuba. E Ubatuba a Caraguatatuba (Rodovia Doutor Manuel Hipólito Rego (SP 55), é uma rodovia do Estado de São Paulo, trecho que liga a Praia Grande, em Ubatuba ao entroncamento com a Rodovia Cônego Domênico Rangoni (Piaçagüera-Guarujá), em Bertioga). Rodovia estadual paulista, posteriormente interligando, fazendo parte do circuito Rodovia Rio-Santos (BR-101), trecho paulista.




Parte do centro de Maranduba, Rod. Rio-Santos, (SP 55) km 76.
O Bairro de Maranduba fica exatamente no km 76 da SP 55. A 25 km do Aeroporto Estadual Gastão Madeira, localizado na cidade. E a 15 km do Píer Marina Estadual do Saco da Ribeira, o centro do turismo náutico de Ubatuba e embarque e desembarque de pescados produzidos na região.
A Rodovia SP 55, Dr. Manoel Hyppolito Rego, que liga as cidades de Bertioga e Ubatuba, foi construída a partir de um antigo traçado das praias do Litoral Norte paulista. Grifos meu.
 Em 1956, durante o Governo Jânio Quadros, ocorreu a primeira pavimentação. Na década de 70, foi retificado o seu traçado, sendo realizadas obras de pavimentação.
 A denominação de Rodovia Doutor Manoel Hyppólito Rego foi realizada através da lei nº 4799, de 25/10/1985. 
Sendo assim a Praia Maranduba na década de 1950 já estaria entrando no processo de globalização, envolvida pelo capitalismo através da especulação imobiliária e o turismo? Globalização seria a nova ordem de expansão e progresso em um país ainda cheio de belezas naturais, um processo irreversível como descreve Zigmunt Bauman:
Para alguns, “globalização” é o que devemos fazer se quisermos ser felizes; para outros, é a causa da nossa infelicidade. Para todos, porém, “globalização” é o destino irremediável do mundo, um processo irreversível; é também um processo que nos afeta a todos na mesma medida e da mesma maneira. Estamos todos sendo “globalizados” e isso significa basicamente o mesmo para todos. (BAUMAN, 1999, P. 7).
Mas os caiçaras não significaram que foram beneficiados por essa globalização, ao contrário foram postos a parte, retirados abruptamente de seu hábitat.

Através da oralidade vamos ao encontro das transformações que em nome do progresso e da globalização foi iniciada no Litoral Norte no meio do século XX. A História Oral, “Ela trata de vidas individuais – e todas as vidas são interessantes. E baseia-se na fala, e não na habilidade da escrita, muito mais exigente e restritiva.”THOMPSON, 1992, P. 41.

Testemunha ocular e integrante da abertura da Rodovia que antecedeu a BR 101, Onofre Alexandre Socca, seu Onofre, nos relata sobre a penetração (abertura: cortes, aterramentos e pontes. O primeiro acampamento de seu Onofre foi na Mococa em 1949, onde iniciou a penetração sentido Ubatuba. O segundo acampamento foi na Maranduba, o terceiro na Praia da Lagoinha, o quarto na Praia do Lazaro e o quinto no Perequê. “Nosso governador ainda era o Ademar de Barros. Na época muitos trabalhadores chegavam de barco na região. Os acampamentos duravam em média um ano. Em 1951, os caminhões já passavam”. E segundo seu Onofre na década de 1950, as pontes de madeira começaram a serem substituídos pelas de concreto. Os encanamentos (canalização de riachos e córregos) começaram a ser instalados. “Onde os tubos de água não tinham vazão, colocávamos galeria de concreto. Em 1954, a estrada estava bem melhorada, em 1956 no governo de Jânio Quadros colocamos asfalto, e em 1960, [assim continua falando seu Onofre até ônibus intermunicipal passava pela estrada”. [Depois seu Onofre foi para São Sebastião.trabalhei na região de Bertioga de 1960 a 1964. Eu já tinha um jeep e voltava todo final de semana para Caraguá ver minha família. Eu dava carona para umas professoras que ficavam a semana toda na escola que era afastada da cidade. Pena que, na época, ter uma máquina fotográfica era como ter um carro hoje”, lamenta! Em uma das perguntas feita a ele a respeito da preocupação com o meio ambiente: “O traçando da estrada era acompanhar a parte seca das praias, morros cortava e aterrava o jundum (mangue). Por isto a Estrada passa sobre ou paralelas as praias. Motivo: baixo custo e facilitar a construção que eram feito manualmente. Depois veio as maquinas, mas usamos o mesmo traçado e pior! aterrando várias praias”. A mudança do cenário ambiental foi enorme e desoladora e aumentando drasticamente com a interligação da BR 101, “cujo traçado aterrou cerca de 70 praias”. MARCÍLIO, 1986, P. 13.
Quando foi para São Sebastião e Bertioga já era encarregado de obras, comandava 30 trabalhadores. Seu Onofre trabalhou 53 anos em construção de ferrovias e rodovias. No inicio da construção da Estrada seu Onofre usava carrocinha com burros, pás e picaretas, ainda não existia no país tratores, compressores para furar pedras, caminhões basculantes e outros, tudo era braçal. De tanto viajar pela construção e manutenção da Estrada que ajudou a construir, a Rio-Santos, trecho paulista, Rodovia Dr. Manoel Hyppólito Rego, ele foi agraciado pela Polícia Rodoviária Estadual com uma credencial para facilitar suas viagens. Aposentou em 1981; depoimento feito em sua residência no centro de Ubatuba no dia de seu aniversário 20 ago 2009, em que completava 88 anos.  
 Em outro depoimento saudosista referindo se a construção da Rodovia: “Em 1950 entrei no DER para construir a Estrada, era difícil, pois nunca via o dinheiro, era tudo em vale e trocava por mercadoria, tudo mais caro. Isso era no governo de Ademar de Barros, mas quando veio o Jânio Quadros tudo mudou, acertaram tudo, teve gente que se sentia rico com tanto dinheiro. O engenheiro Dº Fernando me disse que aqui na nossa região a Estrada ia ter uma reta só, desde a Costa Verde (Cocanha com Tabatinga) até a Lagoinha. Mais os poderosos de fora exigiram que a Estrada passasse nas praias para valorizar”. Benedito Manuel dos Santos 80 anos. Depoimento feito em sua residência no Bairro Sertão da Quina, 08 out. 2009.



Centro de turismo náutico de Ubatuba e embarque e desembarque de pescados produzidos na região. Píer Saco da Ribeira. Posicionamento da foto, Rod. Rio-Santos,SP 55 Km 62.

A aceleração rápida das infra-instrutoras que iniciou nas décadas de 1950 com Rodovias, Aeroporto, Píer Saco da Ribeira um dos maiores do litoral paulista e a chegada desenfreada dos imigrantes e turismo de massa, pós a cultura caiçara em desvantagem e em um processo de aculturação.   

Por  Felix  Santana/





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