No
final da década de 1950 e inicio de 1960, com a construção das rodovias
Rodovia Tamoios SP 99 São José dos Campos, Vale do Paraíba a
Caraguatatuba. (Rodovia Oswaldo Cruz SP 125) Taubaté, Vale do Paraíba a
Ubatuba. E Ubatuba a Caraguatatuba (Rodovia Doutor Manuel Hipólito Rego
(SP 55), é uma rodovia do Estado de São Paulo, trecho que liga a Praia
Grande, em Ubatuba ao entroncamento com a Rodovia Cônego Domênico
Rangoni (Piaçagüera-Guarujá), em Bertioga). Rodovia estadual paulista,
posteriormente interligando, fazendo parte do circuito Rodovia
Rio-Santos (BR-101), trecho paulista.
O
Bairro de Maranduba fica exatamente no km 76 da SP 55. A 25 km do
Aeroporto Estadual Gastão Madeira, localizado na cidade. E a 15 km do
Píer Marina Estadual do Saco da Ribeira, o centro do turismo náutico de
Ubatuba e embarque e desembarque de pescados produzidos na região.
A
Rodovia SP 55, Dr. Manoel Hyppolito Rego, que liga as cidades de
Bertioga e Ubatuba, foi construída a partir de um antigo traçado das
praias do Litoral Norte paulista. Grifos meu.
Em
1956, durante o Governo Jânio Quadros, ocorreu a primeira pavimentação.
Na década de 70, foi retificado o seu traçado, sendo realizadas obras
de pavimentação.
A denominação de Rodovia Doutor Manoel Hyppólito Rego foi realizada através da lei nº 4799, de 25/10/1985.
Sendo
assim a Praia Maranduba na década de 1950 já estaria entrando no
processo de globalização, envolvida pelo capitalismo através da
especulação imobiliária e o turismo? Globalização seria a nova ordem de
expansão e progresso em um país ainda cheio de belezas naturais, um
processo irreversível como descreve Zigmunt Bauman:
Para
alguns, “globalização” é o que devemos fazer se quisermos ser felizes;
para outros, é a causa da nossa infelicidade. Para todos, porém,
“globalização” é o destino irremediável do mundo, um processo
irreversível; é também um processo que nos afeta a todos na mesma medida
e da mesma maneira. Estamos todos sendo “globalizados” e isso significa
basicamente o mesmo para todos. (BAUMAN, 1999, P. 7).
Mas
os caiçaras não significaram que foram beneficiados por essa
globalização, ao contrário foram postos a parte, retirados abruptamente
de seu hábitat.
Através
da oralidade vamos ao encontro das transformações que em nome do
progresso e da globalização foi iniciada no Litoral Norte no meio do
século XX. A História Oral, “Ela trata de vidas individuais – e todas as
vidas são interessantes. E baseia-se na fala, e não na habilidade da
escrita, muito mais exigente e restritiva.”THOMPSON, 1992, P. 41.
Testemunha
ocular e integrante da abertura da Rodovia que antecedeu a BR 101,
Onofre Alexandre Socca, seu Onofre, nos relata sobre a penetração
(abertura: cortes, aterramentos e pontes. O primeiro acampamento de seu
Onofre foi na Mococa em 1949, onde iniciou a penetração sentido Ubatuba.
O segundo acampamento foi na Maranduba, o terceiro na Praia da
Lagoinha, o quarto na Praia do Lazaro e o quinto no Perequê. “Nosso
governador ainda era o Ademar de Barros. Na época muitos trabalhadores
chegavam de barco na região. Os acampamentos duravam em média um ano. Em
1951, os caminhões já passavam”. E segundo seu Onofre na década de
1950, as pontes de madeira começaram a serem substituídos pelas de
concreto. Os encanamentos (canalização de riachos e córregos) começaram a
ser instalados. “Onde os tubos de água não tinham vazão, colocávamos
galeria de concreto. Em 1954, a estrada estava bem melhorada, em 1956 no
governo de Jânio Quadros colocamos asfalto, e em 1960, [assim continua
falando seu Onofre até ônibus intermunicipal passava pela estrada”.
[Depois seu Onofre foi para São Sebastião.trabalhei na região de
Bertioga de 1960 a 1964. Eu já tinha um jeep e voltava todo final de
semana para Caraguá ver minha família. Eu dava carona para umas
professoras que ficavam a semana toda na escola que era afastada da
cidade. Pena que, na época, ter uma máquina fotográfica era como ter um
carro hoje”, lamenta! Em uma das perguntas feita a ele a respeito da
preocupação com o meio ambiente: “O traçando da estrada era acompanhar a
parte seca das praias, morros cortava e aterrava o jundum (mangue). Por
isto a Estrada passa sobre ou paralelas as praias. Motivo: baixo custo e
facilitar a construção que eram feito manualmente. Depois veio as
maquinas, mas usamos o mesmo traçado e pior! aterrando várias praias”. A
mudança do cenário ambiental foi enorme e desoladora e aumentando
drasticamente com a interligação da BR 101, “cujo traçado aterrou cerca
de 70 praias”. MARCÍLIO, 1986, P. 13.
Quando
foi para São Sebastião e Bertioga já era encarregado de obras,
comandava 30 trabalhadores. Seu Onofre trabalhou 53 anos em construção
de ferrovias e rodovias. No inicio da construção da Estrada seu Onofre
usava carrocinha com burros, pás e picaretas, ainda não existia no país
tratores, compressores para furar pedras, caminhões basculantes e
outros, tudo era braçal. De tanto viajar pela construção e manutenção da
Estrada que ajudou a construir, a Rio-Santos, trecho paulista, Rodovia
Dr. Manoel Hyppólito Rego, ele foi agraciado pela Polícia Rodoviária
Estadual com uma credencial para facilitar suas viagens. Aposentou em
1981; depoimento feito em sua residência no centro de Ubatuba no dia de
seu aniversário 20 ago 2009, em que completava 88 anos.
Em
outro depoimento saudosista referindo se a construção da Rodovia: “Em
1950 entrei no DER para construir a Estrada, era difícil, pois nunca via
o dinheiro, era tudo em vale e trocava por mercadoria, tudo mais caro.
Isso era no governo de Ademar de Barros, mas quando veio o Jânio Quadros
tudo mudou, acertaram tudo, teve gente que se sentia rico com tanto
dinheiro. O engenheiro Dº Fernando me disse que aqui na nossa região a
Estrada ia ter uma reta só, desde a Costa Verde (Cocanha com Tabatinga)
até a Lagoinha. Mais os poderosos de fora exigiram que a Estrada
passasse nas praias para valorizar”. Benedito Manuel dos Santos 80 anos.
Depoimento feito em sua residência no Bairro Sertão da Quina, 08 out.
2009.
Centro
de turismo náutico de Ubatuba e embarque e desembarque de pescados
produzidos na região. Píer Saco da Ribeira. Posicionamento da foto, Rod.
Rio-Santos,SP 55 Km 62.
A
aceleração rápida das infra-instrutoras que iniciou nas décadas de 1950
com Rodovias, Aeroporto, Píer Saco da Ribeira um dos maiores do litoral
paulista e a chegada desenfreada dos imigrantes e turismo de massa, pós
a cultura caiçara em desvantagem e em um processo de aculturação.
Por Felix Santana/
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