Como
já percebemos a praia de Maranduba e adjacências após a primeira
ligação através das rodovias estadual, no final da década de 1950 e
inicio da década de 1960, começou sua desestruturação. Principalmente
pela sua beleza paradisíaca e localização estratégica, meio do caminho
entre a Cidade de Caraguatatuba e a Cidade de Ubatuba. Com uma orla
marítima belíssima, com rios e sertões com suas cachoeiras dentro de uma
Mata Atlântica intacta e exuberante. Comunidade caiçara que integrava
(ocupava) a praia de Maranduba e Sertão da Quina era uma comunidade só.
Localidade onde os olhos dos que vêem o progresso e o futuro (o turismo) de forma materialista (capitalista)
se junta ao setor da especulação imobiliária, não dando chance ao gentil caiçara. Foi cruel e devasalador, comprando, invadindo, grilando, expulsando o caiçara para várias regiões e os sertões próximos (Sertão de Maranduba, hoje Sertão da Quina), onde estão os remanescentes caiçaras, que ficaram para manter suas tradições culturais ou se tornarem parte deste mundo contemporâneo, como guias turísticos, empregados (as) domésticos, recepcionistas de pousadas, caseiros, jardineiros, marceneiros, carpinteiros, pedreiros, corretores de imóveis etc.
se junta ao setor da especulação imobiliária, não dando chance ao gentil caiçara. Foi cruel e devasalador, comprando, invadindo, grilando, expulsando o caiçara para várias regiões e os sertões próximos (Sertão de Maranduba, hoje Sertão da Quina), onde estão os remanescentes caiçaras, que ficaram para manter suas tradições culturais ou se tornarem parte deste mundo contemporâneo, como guias turísticos, empregados (as) domésticos, recepcionistas de pousadas, caseiros, jardineiros, marceneiros, carpinteiros, pedreiros, corretores de imóveis etc.
E
o pior ainda viria com a ligação norte de Ubatuba com a construção da
BR- 101, inicio dos anos da década de 1970, completando o circuito da
Rio-Santos.
Não
só os Bairros de Maranduba/Sertão da Quina, mas a situação vivida pelas
comunidades caiçaras nos dias de hoje, como já apontamos do turismo
avassalador e da especulação imobiliária, nas últimas quatro décadas,
têm transformado os sujeitos moradores dos quatros Municípios do Litoral
Norte em legiões de desempregados, subempregados, favelados e até
miseráveis, no dizer de Marcílio:
Divididos
psicologicamente entre um passado de fartura e um presente de
desorientação, miséria e revolta, principalmente, este é nosso objetivo
de pesquisa após a construção da estrada BR-101 cujo traçado aterrou
cerca de 70 praias. (MARCÍLIO, 1986, P. 13).
Segundo Rovai & Frenette:
Progresso
é uma palavra carregada de significados contraditórios. Alguns a
entendem de um modo mais próximo de sue sentido original,
compreendendo-a com um avanço. Outros, no entanto, ao ouvir essa
palavra, associam-na imediatamente a uma piora generalizada da qualidade
de vida. (ROVAI & FRENETTE, 2000, P. 55).
Em
depoimento o Sr. Antonio dos Santos, caiçara de 77 anos em suas
reminiscências, emocionadamente nos informa que: “Antes não tinha
Rio-Santos, era só mato, a gente tinha mais liberdade, de primeiro à
gente saia sem esperar nada era só colocar o chapéu na cabeça e sair
andando, hoje sem dinheiro você não faz nada; não embarca, não come”. O
Sr. Antonio dos Santos realça o motivo da “perda da liberdade”: “Aí veio
um monte de gente para construir a Rio-Santos”. Estrada assim vem gente
boa, mas também vem gente ruim esse é o problema. Depoimento contido no
livro: Os Caiçaras Contam (ROVAI & FRENETTE, 2000, P. 68).
A caiçara dona Evangelina da Silva, já com seus 84 anos parece neste
trecho da narrativa esclarecer de forma simples, a dor sentida com a
transformação do lugar. “Somos dos antigos, aqui só sobrou eu e o
preguiça agora só tem gente de fora, e isso começou com a Rio-Santos.
Isso aqui não é mais nosso lugar, acabou nos não temos água (…) tem que
encher a caixa para economizar, gastar pouco e ficar quieto o grosso da
água vai para os hotéis e para casa dos ricos. Lembro-me do meu antigo
lugar e fico quieta esse lugar já foi não é mais”. (ROVAI & FRENETTE, 2000, P. 48).
A
caiçara traduz com uma simplicidade que lhe é característica, numa
narrativa sem atropelos a íntima relação do caiçara e o lugar. Como
salienta Ana Alessandri Carlos Fani ao afirmar que o sujeito pertence ao
lugar como este a ele. “No lugar emerge a vida, posto que seja aí dá a
unidade da vida social. Cada sujeito se situa num espaço concreto e real
onde se reconhece..)”. (FANI, 1999, P. 29).
No
Município de Ubatuba, a cultura caiçara, com uma tradição de viver da
pesca e da terra, agricultura familiar, vive hoje um processo de
extinção. Como nos ensina a historiadora Marcílio:
A
resistência ao invasor é histórica, pois: a existência de populações
numerosas num espaço limitado para suas formas de viver e produção. Um
provável desequilíbrio esboçado entre recursos e demografia importa
igualmente, lembrar que os moradores do litoral norte paulista, no
século XVI, conseguiram-se organizar para tentar resistir ao invasor. MARCÍLIO, 1986, P. 21.
A historiadora refere-se à população indígena que se revoltou contra os portugueses, Confederação dos Tamoios.
Trabalhar com a história oral e a cultura de um povo que não produziu documentos escritos nos encoraja, porque como aponta Eric Hobsbawn:
Na
maior parte dos casos, o historiador da história feita pelo povo
encontra apenas o que procura não que já esta a sua espera. A maioria
das fontes desse tipo de história foi reconhecida como tal porque alguém
fez uma pergunta e, em seguida garimpou desesperadamente á procura de
uma maneira, qualquer maneira, de respondê-la. (HOBSBAW, 1990, P. 9.).
Aculturação
segundo Houaiss, 2004, “significa adaptação de um individuo ou grupo a
uma cultura diferente – aculturar”. No momento do depoimento o caiçara
diz estar adaptado a aculturação, mas nesse mesmo momento não aceita
perder sua cultura, ou modificá-la, misturar com o que vem de fora. O
constante desequilíbrio entre sua cultura e a aculturação, acaba o
caiçara realmente sendo consumido por essa aculturação. O caiçara vive hoje um processo de extinção,
só resta então a nós, resgatarmos a cultura caiçara que ainda está na
memória desses poucos remanescentes. “A maioria das pessoas conserva
algumas lembranças que, quando recuperadas, liberam sentimentos
poderosos.” (THOMPSON, 1992, P. 205).
Estátua em homenagem ao caiçara,
triste dilema, a estátua foi erguida na rotatória do km 48 da BR 101,
entrada principal da cidade de Ubatuba. Uma analogia entre o progresso e
o que restou do caiçara, uma homenagem!
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