Capela de Nossa Senhora das Dores - bairro do Itaguá ( Arquivo Blog Ubatubense)
Texto do Blog Coisas de Caiçara
Bem ali, no começo da estrada, depois da capela N.S. das Dores na praia entre o Acarau e o Itaguá, no ano de 1980, encostei-me numa roda de causos. Bons homens! Autênticos caiçaras! Lá estavam: Sebastião (o “Velho Rita”), Davi Alexandrino, Lauro Bourget, Janguinho, Élvio, Acari, Juraci e mais alguns. Olhavam o mar enquanto escutavam, contavam e davam boas gargalhadas.
Era
dia de procissão em louvor a São Pedro Pescador. No lagamar, junto com
alguns jovens e crianças, estava o professor Joaquim Lauro dando os
últimos retoques em algumas embarcações para a festa no mar. Colavam
bandeiras, faziam arcos de bambus; faziam varais de panos de redes onde
dependuravam estrelas do mar, bocarras de caçoas e arranjos de conchas.
Que empolgação!
Nessa
ocasião, depois de escutar o Janguinho explicando a cerimônia religiosa
em alto mar, principalmente a benção dos anzóis e das redes, quis saber
mais coisas. Por isso eu o acompanhei até a sua casa, na entrada para a
praia do Tenório, para escutar mais um pouco, me preparar melhor para
aproveitar o máximo do ato da tarde, da festa do padroeiro dos
pescadores. A partir de uma fotografia antiga (e com a ajuda da dona
Santana, a parteira), o bom homem assim explicou:
-
Este é o padre Lino dos Passos, um caiçara. Na década de 1930, querendo
incrementar o feriado, em cima de quatro grandes canoas, entre a
prainha do Padre e o Cruzeiro, teve a ideia de montar uma estrutura
interessante: num tablado de 5m X 5m, com um altar e a imagem do
padroeiro, celebrou uma missa. O morro, a boca da barra e a praia
ficaram lotados de fiéis. Também à sua volta, conforme a fotografia em
preto e branco, o mar coalhava de canoas. Era clara demonstração da
religiosidade dos caiçaras.
Hoje, apesar da devoção, a procissão dos barcos é apelo cultural.
Faz parte do calendário turístico do município. É pena que os limites
da ignorância, principalmente de muitos que dependem da pesca, não
contribuam para que ela cresça e atraia mais turistas para a nossa
cidade. Em datas assim sinto falta do exemplo do professor Joaquim
Lauro, natural da cidade de Lorena, mas em tão grande estágio de
interação cultural que até suplantava muitos caiçaras. Quem não
reconhece que as regatas de canoas foi iniciativa dele?
Neste
Dia de São Pedro Pescador, em cada pessoa engajada para a realização da
procissão marítima eu vislumbro a imagem do empolgado professor. E
concluo: é festa do povo que os afastamentos parciais promovidos pelas
denominações religiosas estão matando. Será que não está passando da
hora de deixar aflorar a criatividade, o prazer de festejar como uma
única cultura?
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